Política é essencial para a preservação do bioma Cerrado
Há possibilidade de avanço nas esferas tanto federal quanto estadual. Iniciativa privada também é essencial na preservação do bioma
O dia 11 de setembro é um dos mais importantes na história mundial, principalmente porque foi nessa data em que o grupo terrorista Al Qaeda atacou os Estados Unidos em 2001, alterando os rumos da geopolítica e as dinâmicas de segurança internacional.
Além disso, foi em 11 de setembro de 1973 que Salvador Allende, ex-presidente do Chile, sofreu um golpe de Estado, dando origem à ditadura militar chilena. E é em 11 de setembro que se comemora o Dia Nacional da Catalunha, região que busca a independência da Espanha.
No Brasil e em Goiás, a data também tem sua importância. Afinal, 11 de setembro é o Dia do Cerrado, bioma presente em dez estados e no Distrito Federal e tido como a “caixa d’água” do país.
O Cerrado abriga as nascentes de importantes bacias hidrográficas e alimenta grandes aquíferos. Mais profundas, suas raízes contribuem para absorver e depositar as águas das chuvas nos chamados reservatórios subterrâneos.
No entanto, especialistas dizem que, com o desmatamento, essa riqueza hídrica está ameaçada. Segundo o site MapBiomas Alerta, 31,2% do desmatamento no Brasil em 2020 ocorreu no Cerrado, atrás apenas da Amazônia, com 60,9%.
Ainda de acordo com o mesmo site, 77% do desmatamento do Cerrado se dá na região do Matopiba, que engloba Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Doutor em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Gabriel Tenaglia afirma à reportagem que “o Cerrado é o bioma que mais sofreu com intervenção humana nos últimos 40 anos”. Segundo ele, nos anos 1980, a área preservada do Cerrado era de 90% e, hoje, está em menos de 20%.
Tenaglia reconhece que, recentemente, houve uma maior segurança jurídica, com a implementação do Código Florestal. Para ele, porém, é preciso avançar.
Na esfera nacional, Tenaglia argumenta que o reconhecimento do Cerrado como patrimônio nacional ajudaria a preservá-lo. Na estadual, o ideal seria intensificar os planos de bacia para definir exatamente os limites da produção agrícola. “A questão política é essencial e os políticos precisam entender a importância do Cerrado”, destaca.
O doutor em Ciências Ambientais diz também que “existe uma visão equivocada de que preservar o Cerrado prejudica o agronegócio”. Na verdade, ressalta ele, é o contrário. “Esse setor é o que mais depende de uma gestão sustentável do meio ambiente. Sem água, não tem como irrigar a produção.”
Em entrevista ao jornal O Hoje, a secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Andrea Vulcanis, afirma que a pasta tem realizado políticas de gestão de bacias hidrográficas.
Aliás, ela diz que as ações junto a produtores rurais, como as de recuperação de áreas degradadas, têm sido recebidas pelo agronegócio “com compreensão”.
“Há um movimento de avanço no setor e temos encontrado muito apoio”, ressalta a secretária. “Com esse diálogo amplo com os setores econômicos, a expectativa daqui para frente é positiva.”
Vulcanis destaca o trabalho da Semad em “várias outras frentes”, como combate ao desmatamento e aos incêndios, inovação na área de fiscalização, estudos de impacto e incentivos por meio do ICMS ecológico, além de investimento em turismo sustentável e adaptação às mudanças climáticas a fim de garantir segurança hídrica.
Quanto à articulação com o governo federal, a titular da Semad admite que, “de fato, houve um recrudescimento” nas políticas ambientais. “Não tivemos muito apoio. Isso não ajuda, mas também não atrapalha e conseguimos cumprir nossos objetivos.”