Aliança antecipada entre DEM e MDB pode favorecer oposição
Por outro lado, há quem acredite que Ronaldo Caiado terá tempo para convencer parte da base governista insatisfeita com Daniel Vilela
Não é segredo para ninguém que o governador Ronaldo Caiado (DEM) quer ter o ex-deputado federal e presidente do MDB em Goiás, Daniel Vilela, como seu candidato a vice nas eleições de 2022.
O que chama a atenção dos observadores da política goiana é o fato de a aproximação entre os dois se dar com tanta antecedência, já que as convenções partidárias para definir as alianças só ocorrem daqui aproximadamente um ano.
Nos bastidores, a leitura que se faz é a de que Caiado vê o MDB como um adversário em potencial e, por isso, busca trazer o partido para sua base.
O MDB, contudo, não é um partido muito homogêneo. Há uma ala, liderada pelo prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, que defende candidatura própria.
A tendência é que, uma vez confirmada a aliança entre DEM e MDB, Mendanha busque refúgio em outro partido para viabilizar sua candidatura a governador.
Com isso, o prefeito de Aparecida de Goiânia, e a oposição de uma forma geral, ganham tempo para se organizar e pensar em estratégias.
Um dos principais aliados de Mendanha, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Sandro Mabel, confirma a tese e diz que Caiado está “com ânsia de vencer”.
“Ele quer neutralizar o MDB e já marcou as cartas”, disse Mabel ao jornal O Hoje. “Quando você coloca as cartas na mesa, depois fica difícil tirá-las.”
Apesar disso, Mabel, que diz não confiar na palavra do governador, pensa que ainda pode haver alguma mudança e cita o caso do presidente da Assembleia Legislativa, Lissauer Vieira (PSB).
“O Lissauer fez um trabalho sério, se articulou e já estava encaminhado para ser o vice de Caiado, que, agora, o descartou e trocou pelo Daniel”, critica o presidente da Fieg.
De fato, na política, onde as alianças podem mudar do dia para a noite, um ano é tempo demais para garantir que a aproximação entre DEM e MDB dure até as eleições.
Há quem acredite que, se a aliança entre os dois partidos fosse concretizada mais perto da janela partidária, em março do ano que vem, Mendanha teria pouco tempo para se filiar a um outro partido, o que poderia enfraquecê-lo do ponto de vista da montagem da chapa.
Chefe de Gabinete de Caiado e presidente do DEM em Goiânia, Lívio Luciano tem uma outra visão. “O MDB é um partido de bom apelo popular e garanti-lo a qualquer tempo conosco é importante”, declarou à reportagem.
Lívio Luciano vai além e se mostra confiante na reeleição do governador. “Na verdade, a oposição não tem muito como articular”, enfatiza. “A aprovação do governo cada vez mais crescente dificulta qualquer articulação.”
Mabel, por sua vez, elogia a gestão de Mendanha em Aparecida de Goiânia e afirma que ele “escuta todo mundo e suas chances de ganhar são reais” porque ainda não é muito conhecido no interior e, portanto, tem potencial de crescimento.
Vale lembrar que Caiado e Daniel estiveram em chapas opostas nas eleições de 2018. Hoje, emedebistas que defendiam a aliança já naquele ano não encaram a aproximação com bons olhos, como o prefeito de Catalão, Adib Elias, e o deputado federal José Nelto, atualmente ambos no Podemos.
Enquanto a aliança antecipada pode favorecer as articulações da oposição, o governador tem, na avaliação de Lívio Luciano, mais tempo para convencer parte de sua base que está insatisfeita.
Como Caiado e Daniel recentemente participaram juntos de uma reunião com a empresa chinesa Huawei, líder mundial em tecnologia 5G, cabe citar uma frase do livro “As Rãs”, de Mo Yan.
“Não existe cana com açúcar nas duas pontas”, escreve o romancista chinês e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. Em outras palavras, no contexto da aliança antecipada entre DEM e MDB, há um lado negativo e outro positivo. Só as urnas dirão qual prevalecerá.