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A história do ex-presidente da Síria assassinado em Goiás

Há exatos 57 anos, Adib Shishakli foi morto em Ceres por um druso que vivia no Distrito Federal

Postado em 27 de setembro de 2021 por Marcelo Mariano
A história do ex-presidente da Síria assassinado em Goiás
Há exatos 57 anos

Não, o título não está errado. Parece mentira, mas é verdade: há exatos 57 anos, em 27 de setembro de 1964, o ex-presidente sírio Adib Shishakli foi assassinado em Ceres, no interior de Goiás, por Nawal Ben Youssef Ghazal, um druso que morava em Taguatinga, no Distrito Federal.

O tempo em que Shishakli esteve na presidência da Síria durou pouco menos de um ano, entre 1953 e 1954. Ele chegou ao poder por meio de um golpe em um momento em que o país enfrentava uma grande instabilidade política.

O curto período, no entanto, foi suficiente para realizar uma ofensiva militar que determinaria seu futuro e sua morte. Shishakli bombardeou a região de Jabal al-Arab, também conhecida como Jabal al-Druze.

Em sua maioria, os habitantes deste lugar são drusos, um grupo religioso místico que se formou a partir de uma dissidência do islã xiita. Há quem não os considere verdadeiros muçulmanos. Atualmente, existem cerca de um milhão de drusos no mundo, concentrados especialmente no Líbano, na Síria e em Israel.

Após o massacre em Jabal al-Arab, os drusos juraram matar Shishakli, que fugiu da Síria depois de ser deposto e passou um tempo na Europa antes de chegar ao Brasil. 

Na década de 1960, havia aproximadamente 30 mil drusos no Brasil, e um deles era justamente Nawal, que descobriu o paradeiro de Shishakli em Ceres e se tornou protagonista desta trágica, curiosa e pouco conhecida história que conecta Goiás ao Oriente Médio.

Assim que cruzou a ponte que liga Rialma a Ceres, o ex-presidente sírio foi abordado pelo druso, que disparou cinco tiros à queima-roupa. Praticamente ninguém ali sabia o cargo que Shishakli tinha ocupado no seu país, mas, com o assassinato, logo tudo veio à tona.

Houve uma cerimônia em Ceres para se despedir do corpo. Poucos dias depois, porém, ele foi transferido para sua terra natal. Hoje, o único registro existente em Ceres sobre o caso é a guia de sepultamento de Shishakli no cemitério da cidade.

Por sua vez, Nawal ainda passou a noite na pensão em que estava hospedado em Rialma e só deixou a região no dia seguinte rumo a Anápolis, de onde partiu de carona com três amigos sírios para Belo Horizonte.

Da capital mineira, o assassino seguiu para Teófilo Otoni. Lá, reuniu-se com outros membros da comunidade drusa, que, ao saberem da morte de Shishakli, comemoraram e prometeram dar suporte a Nawal.

De fato, os drusos juntaram recursos para bancar a defesa na Justiça, que contou com nomes de peso, como Pedro Aleixo, deputado federal e posteriormente vice-presidente do Brasil, e Nelson Hungria, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

No fim, Nawal, que não demonstrou arrependimento, foi absolvido depois de um ano e meio após um júri de Goiânia ser convencido de que ele agiu sob emoção e que as ações de Shishkali na Síria justificavam a vingança.

Há suspeitas de que a comunidade drusa tenha planejado e financiado o assassinato, mas o fato é que ninguém foi preso. Em liberdade, Nawal seguiu vivendo em Taguatinga, onde morreu em 2005.

Em julho de 2019, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) decidiu expor o processo sobre o assassinato de Shishakli no Centro de Cultura e Memória do órgão.

E há uma expectativa de que Tamar Barazi, sobrinho-neto do ex-presidente sírio e que trabalha como corretor de imóveis em Nova York, nos Estados Unidos, escreva uma biografia sobre Shishakli. (Especial para O Hoje)

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