Vereador atende em escritório onde foi flagrado em “compra de votos”
Prática de convocar reuniões e promessa de ajuda em processo seletivo já colocou vereador Kleybe Moraes na mira do MP e da PF
Por Yago Sales
Acostumado a postar a rotina nas redes sociais – sessões no plenário da Câmara, visitas a paróquias e agendas com o prefeito Rogério Cruz -, o vereador Kleybe Morais (MDB) não divulgou duas reuniões na quarta-feira (17) na sala 28, no térreo do Parthenon Center, na Rua 4, no Centro de Goiânia.
Em dois horários, às 8h e às 13h30, o parlamentar recebeu pessoas interessadas no processo seletivo simplificado para substituição dos servidores efetivos dos cargos do quadro de pessoal da Secretaria Municipal de Educação. O edital 001/2021 foi publicado no Diário Oficial no último dia 12 de novembro.
Pelas redes sociais, o vereador pediu para pessoas, acima de 35 anos, comparecessem ao local com caneta azul, comprovante de endereço e documentos pessoais. Ali, homens e mulheres preencheram uma ficha com local onde trabalhavam, data de início e data de saída do local. Não precisava, aos 35 anos, comprovar qualquer experiência para o cargo oferecido pelo processo seletivo da Prefeitura de Goiânia.
Antes das 8h uma movimentação atípica se formou em frente à sala, onde funcionava uma escola de cursos online. Uma placa de aluga-se pregada no vidro da saleta, de 200 metros quadrados, traz outra curiosidade. O corretor informou que o aluguel do imóvel, incluso o condomínio, custa R$3.800. Logo em seguida, o profissional voltou atrás e disse que a sala foi alugada no final de semana, sem dar detalhes.
Por volta das 10h, a reportagem esteve no local, onde havia Laerte Borges Mesquita Júnior, assessor do gabinete do vereador, recepcionando as pessoas. Desconfiado, perguntou se a reportagem havia feito o cadastro. Como a primeira reunião já havia terminado, orientou que poderia retornar às 13h30 para o encontro com o vereador Kleybe.
Poderia ser qualquer boa ação de um vereador de um Brasil com recordes de desemprego piorada pela pandemia. O vereador Kleybe Morais, no entanto, já utilizou do artífice de reuniões na sala 28 em 13 de outubro de 2020, no período eleitoral. O caso chegou ao Ministério Público Eleitoral, que pediu representação à Justiça Eleitoral. O juiz indeferiu o pedido do promotor, embora tenha reconhecido que houvesse “dizeres no sentido de que necessitava de apoio eleitoral” e que “houve apresentação de vídeo de propaganda eleitoral”. Segundo a decisão, não havia, no entanto, “prova cristalina” sobre “vantagens para firmar ou prorrogar contratos temporários em troca de votos”.
Um casal que participou da reunião da última quarta-feira disse ao jornal O Hoje, em gravação feita pelo jornal, que o vereador citou vagas com salário de até R$2.500. “Ele ensina direitinho”, disse a mulher, sobre como as pessoas deveriam se cadastrar. A mulher disse que, caso conseguisse a vaga, deveria transferir o Título de Eleitor de Mato Grosso, onde vota, para Goiânia. “Lá não tinha nenhuma vaga que encaixasse no meu perfil”, disse o marido dela, que trabalha com agronegócio.
Ministério Público e PF investigam caso de 2016
Em 2016, o vereador Kleybe Morais, passou a ser investigado por reuniões, em ano eleitoral, no Palácio Comércio, na Avenida Anhanguera. Segundo a investigação do Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), o parlamentar obteve listas de comissionados e, à medida que os contratos iam vencendo, sua equipe ligava para essas pessoas solicitando para participarem dessas reuniões, onde eram entregues materiais de campanha. A Polícia Federal foi acionada e continua no caso. Pelo menos 690 pessoas passaram pelo escritório, deixaram número de título de eleitor e um papel anotando a quantidade de votos que conseguiriam.
Nestas reuniões, foram utilizados pelo menos dois documentos da Prefeitura de Goiânia. Um, seria a garantia para renovação de contratos, o outro para o Processo Seletivo Simplificado 2017/001, para a Secretaria Municipal de Educação (SME).
Depois dessa reunião, o parlamentar nomeou em seu gabinete o servidor Nélio Coelho Guimarães, que, na época desses encontros, era servidor do Departamento de Concurso e Seleção. A reportagem procurou o vereador ainda na quarta-feira para saber qual a relação dele com as reuniões sobre o processo seletivo. Por telefone e por mensagens, que ele ignorou, inclusive, nesta sexta-feira, quando a reportagem quis saber para quem ele entregaria os currículos.