Ronaldo desistiu do Cruzeiro?
Confira o artigo de opinião, desta quarta-feira (20/04), por Daniel Passinato
O futebol brasileiro foi pego de surpresa em dezembro/21, quando Ronaldo fenômeno anunciou a compra do Cruzeiro E.C. Uma negociação rápida e pioneira, pois seria a primeira envolvendo a já famosa Sociedade Anônima de Futebol (SAF). Naquele momento, todos acreditavam que o negócio estaria sacramentado. Porém, não foi bem assim. Nos últimos dias, algumas notícias ventilaram a hipótese de Ronaldo não ser mais o “dono” do clube, em razão de dívidas e problemas encontrados recentemente. O motivo para esta negociação não mais acontecer passa pelo viés jurídico e a forma pela qual as negociações de compra e venda são realizadas.
A aquisição de uma empresa é muito diferente de uma compra, por exemplo, de imóvel ou veículos. Tanto aquele que vende quanto aquele que compra continuam sendo responsáveis por determinadas obrigações, mesmo após a finalização da transação. Além disso, os negócios de aquisições de participação societária, não ocorrem em apenas um ato, mas sim em atos sucessivos e interdependentes. Pense numa final de campeonato, mata-mata, em que só se conhece o campeão após 4 tempos de 45 minutos, talvez uma prorrogação e pênaltis. Estamos falando, portanto, de um processo extenso, trabalhoso e que pode acontecer de tudo.
No caso de Ronaldo e Cruzeiro, em dezembro foi assinado um contrato prévio à negociação final, com o objetivo de serem verificados todos os ativos e passivos do Clube, para que, então, um novo instrumento fosse assinado, mas desta vez em definitivo. No lapso entre os instrumentos, Ronaldo colocou sua equipe de assessores jurídicos e empresariais para avaliar o Clube (fase conhecida como due dilligence). Esta fase sempre proporciona muitas emoções, tendo em vista o caráter investigatório e detalhista dos trabalhos. São verificados todos os passivos e todos os contratos assinados pelo Clube, por exemplo.
Ao que tudo indica, Ronaldo (diga-se, a equipe por ele contratada), encontrou um problema grave e levantou uma bandeira vermelha nesta transação, tendo em vista que dois importantes imóveis teriam sido dados em garantia de dívidas tributárias. Os bens são aqueles utilizados para treinamento, alojamento e demais atividades do Clube. Isto é, sem eles não há Cruzeiro e não há futebol, o que se tornou item de suma importância para o fechamento da negociação, impactando no preço a ser pago por Ronaldo.
O caminho a ser percorrido pelas partes parece um tanto quanto óbvio: ou o conselho deliberativo sede e modifica a negociação, fato que levará Ronaldo a assumir mais riscos mas também adquirir mais garantias, ou volta-se à estaca zero e, quem sabe, o Cruzeiro será o próximo a pedir Recuperação Judicial.