Diferentes versões marcam encontros a portas fechadas na Câmara
Justificativa para reunião convocada às pressas na manhã da última quarta-feira no Legislativo municipal vai de exonerações à derrubada de veto e duodécimo
Os vereadores da Câmara Municipal de Goiânia foram convocados pela presidência da Casa, na manhã da última quarta-feira, 1, para uma reunião a portas fechadas. Dada a importância do assunto, a sessão precisou ser interrompida para que os parlamentares não se dividissem entre o encontro repentino e o Plenário.
Ao justificar a intervenção para os colegas que estavam reunidos na sessão, o presidente da Casa, Romário Policarpo (Patriota), disse resumidamente que o encontro seria para tratar de um assunto “interno” da Câmara, sem revelar detalhes. Ele acrescentou também que a suspensão da sessão duraria “no máximo” 20 minutos — foram, na verdade, mais de 1h.
O que se viu minutos depois foi um plenário vazio. Um andar acima, por sua vez, o cenário se resumia a um corredor tomado por assessores que aguardavam ansiosamente pela saída dos vereadores que se encontravam reunidos com o presidente.
A Casa, ao ser questionada, informou através de seu departamento de comunicação que a agenda precisou ser interrompida para tratar sobre as “votações” deste ano. A informação oficial é de que a Câmara quer se programar para votar o que está na pauta, sendo, “prioritário” conferir junto ao Paço como está a programação de envio de matérias. Não havia, contudo, nenhum representante do Paço com os vereadores.
Em outro trecho da resposta conferida à reportagem, a Diretoria de Comunicação acrescentou que as comissões vão fazer um levantamento dos projetos prioritários e a Mesa vai se reunir com o prefeito, e equipe política, para se inteirar do que está programado para envio. E finalizou garantindo que devem agendar uma data para isso.
Será?
Nos bastidores, porém, a informação é outra. Segundo alguns vereadores consultados pela reportagem, a intenção por traz do encontro foi angariar apoio para a derrubada do possível veto ao projeto de lei que amplia os limites de atuação da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Vale lembrar que o vereador Romário Policarpo, que não apenas comanda a Casa como também convocou o encontro, é agente licenciado da Guarda.
“Ele queria nosso apoio, claro”, disse um dos participantes. “Não sei se ele vai conseguir convencer todo mundo, tem uns mais inclinados do que outros. Mas é difícil empurrar essa bomba para o nosso colo. O prefeito vai vetar umas partes, a intenção é de que a Casa derrube o que não passar lá [na prefeitura]”, acrescentou o vereador.
Outro mandatário consultado, confirmou que o assunto foi, de fato, colocado na mesa e, sem dar muitos detalhes, escorregou: “Falamos [do projeto], mas o intuito foi mais o de tratar de assuntos relacionados ao Executivo e Legislativo”. Questionado sobre quais assuntos especificamente, piorou: “sobre algumas exonerações de pessoas indicadas por vereadores, essas coisas”.
A matéria aprovada pelos vereadores no último dia 18 tem sido alvo de polêmica. Primeiro por ser associada a um jabuti, uma vez que o projeto original não tratava sobre mudanças nas competências da Guarda, mas o assunto terminou inserido nas entrelinhas da proposta inicial.
A preocupação em relação à matéria diz respeito ao suposto comprometimento do prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, em vetar partes específicas do projeto. A matéria autoriza os guardas a realizarem inspeções em áreas ligadas ao Meio Ambiente, Saúde Pública e edificações. Competências que, na verdade, cabem aos técnicos que ocupam essas funções em cada uma das pastas citadas.
As reações contrárias ao texto envolvem o Sindicato dos Funcionários da Fiscalização Municipal de Goiânia (Sindiffisc) e o Fórum de Entidades Empresariais (FEE). Após reunião das lideranças com o prefeito, foi atestado à imprensa local que Cruz teria concordado com as críticas e se comprometido a vetá-las. Policarpo aparentemente busca o contrário. O presidente foi procurado, mas não se manifestou até a publicação da matéria.
Há, ainda, quem associe o “encontro secreto” ao imbróglio entre a Câmara e o secretário municipal de Finanças, Vinícius Henrique Pires, no que diz respeito à devolução das sobras do duodécimo. O clima tenso prevalece e, conforme alguns nomes consultados pelo O HOJE, esse teria sido um dos motivos para o encontro.