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sábado, 23 de novembro de 2024
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Uso Coletivo

Projeto que proíbe banheiro unissex é inconstitucional

“Entendo que o projeto vai contra o princípio da dignidade da pessoa humana”, diz delegada

Postado em 20 de junho de 2022 por Thauany Melo

Está em tramitação na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) um projeto de lei que quer
proibir o funcionamento de banheiros “unissex” em estabelecimentos públicos e privados do
estado. Autor da matéria, o deputado estadual Jeferson Rodrigues (Republicanos) pediu que os
sanitários de uso coletivo sejam substituídos por unidades separadas por gênero. A propositura
foi encaminhada à Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ), onde aguarda a
designação de um relator.


“Não se trata aqui de nenhuma forma de discriminação, de homofobia ou de transfobia, mas sim
da preservação à intimidade e segurança de crianças e mulheres, que são mais vulneráveis, aos
mais variados tipos de violência e assédio sexual que podem ocorrer nesses locais”, diz o
deputado, ao justificar o projeto.


De acordo com Rodrigues, a exigência é feita com base nas normas técnicas sobre acessibilidade
ora vigentes (NBR 9050) e também com prerrogativas inscritas no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA). Caso o projeto seja sancionado, devem se adequar às normas as instituições
de ensino da rede estadual, repartições públicas e estabelecimentos acessíveis ao público em
geral.


Conforme o projeto, espaços fisicamente impossibilitados fazer os ajustes ficam excluídos da
vedação, podendo disponibilizar banheiro único, desde que o uso seja individualizado. A
disponibilização de sanitários de uso familiar, destinados a pais com filhos de até 12 anos de
idade, está autorizada.


Os locais que não se adequarem às normas dentro de 90 dias ficarão sujeitos à aplicação de
multas fixadas no valor de R$1 mil reais. Já comércios e instituições de grande porte poderão ter
que pagar até dez vezes mais. Havendo reincidência, a penalidade sobe para R$ 5 mil. Em última instância, poderá ser, ainda, aplicada a suspensão da licença estadual para funcionamento, até
que ajustes obrigatórios sejam realizados. A Vigilância Sanitária foi indicada para realizar a
fiscalização.


Em São Paulo, na Câmara do município de Araçatuba, estava tramitando um projeto parecido
com o proposto na Alego, de autoria do vereador Lucas Zanatta (PL). Conforme o parecer da
Procuradoria Legislativa da Casa, a proibição da instalação de banheiros unissex ou multigênero
ultrapassa o interesse local previsto no artigo 30 da Constituição Federal, “visto que não se trata
de mera norma de edificação, mas sim da prevalência de princípios constitucionais”. Desta
forma, a matéria deve ser tratada em âmbito federal, não municipal. Além disso, o parecer cita os
princípios constitucionais previstos no artigo 5º da CF, entre eles o direito à privacidade.


A advogada e presidenta da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) de Goiás, Amanda Souto Baliza, afirmou que, além de ser
inconstitucional, o projeto tem pouca aplicação prática, visto que, em geral, banheiros unissex
não são compartilhados. “É um projeto inconstitucional e eleitoreiro que usa do pânico moral
para garantir votos em uma eleição polarizada”, ressaltou.


De acordo com a advogada, o projeto fere o princípio da dignidade da pessoa humana, além de
não considerar o impacto econômico para as empresas e instituições que teriam de, no prazo de
90 dias, realizar as reformas.


“Entendo que o projeto vai contra o princípio da dignidade da pessoa humana, especialmente
quando falamos de pessoas não binárias que não tem uma identificação fixa com o padrão
binário de gêneros. Também é um projeto que vai contra o princípio da não discriminação que já
foi por dezenas de vezes reafirmado pelo STF [Supremo Tribunal Federal]. Além disso, há de se
levar em conta o impacto econômico do projeto, que em tese faria com que empresas tivessem
custos para reformas ou adaptações de eventuais banheiros que já existam nesse sentido”,
explicou Amanda Souto Baliza.


A reportagem do O Hoje entrou em contato com a assessoria do deputado Jeferson Rodrigues
para saber o posicionamento a respeito da inconstitucionalidade e aplicabilidade do projeto, no
entanto, não houve retorno até a publicação do texto.

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