Caminhoneiros não aprovam auxílio de R$ 400 proposto pelo Governo
A categoria enfatiza que não precisa de auxílio, mas que o Governo cumpra a lei
Os caminhoneiros do Estado, assim como grande parte da categoria em todo o país, não aprovam o auxílio de R$ 400 proposto pelo Governo Federal como uma forma de amenizar o aumento do diesel. O presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas (Sinditac), Vantuir José Rodrigues, afirma que a categoria não precisa de auxílio, e sim que o governo cumpra a lei.
“Ninguém concorda com esse auxílio. Não tem nem como discutir essa proposta porque ela é inviável em decorrência dos sucessivos aumentos no preço do combustível”, aponta. Segundo ele, mesmo com esse valor, não amenizaria os gastos dos caminhoneiros, que incluem outras despesas, além do combustível. “Hoje em dia se for encher o tanque do caminhão com 400 litros gastamos em torno de R$ 3.500”, informa.
A proposta de auxílio voltou a ser discutida após reuniões entre o governo e líderes do Congresso, e pode ser votada na próxima semana. Desse modo, o benefício pode ser incluído na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) relativa à compensação de quase R$ 30 bilhões concedida a estados que concordem em zerar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviço (ICMS) do diesel do gás de cozinha e do gás natural.
Para Vantuir, não é possível falar sobre o ICMS, já que o principal problema enfrentado pela categoria é o preço de paridade de importação (PPI), política adotada pela companhia. “Essa política de mudar o ICMS não resolve. Pois é o PPI que influencia nos constantes reajustes. Isso aí é briga do Bolsonaro com os governadores. Ele está queimando todo mundo, mas o PPI, que é o que beneficia os acionistas, ele não toca no assunto”, destaca.
Apesar do cenário, ele informa que os caminhoneiros do Estado optaram por não aderir a nenhum tipo de paralisação neste momento. “Vamos rodar pelo País pedindo que mude a política de preços da Petrobras, o PPI”, explica o presidente do Sinditac-GO. Ele pontua que essa política de preços prejudica todos os brasileiros.
O contador Ivan Carvalho, 24 anos, alega que os preços dos combustíveis estão cada vez mais abusivos. Ele utiliza o carro para ir ao trabalho de segunda a sábado. “Desse jeito, não vamos dar conta. Tudo tá subindo, mas o salário continua do mesmo jeito. Eu deixo de sair no fim de semana ou ter algum lazer com a família para economizar. É um momento muito difícil”, conta. Atualmente, ele tem gastado cerca de 20% a mais com gasolina durante o mês.
Caminhoneiros buscam por estabilização
Os caminhoneiros do país têm mantido a reivindicação para que o governo adote medidas que estabilizem o preço do combustível nos postos. Uma das iniciativas apontadas seria a criação de um fundo para amortecer os aumentos e o fim da PPI.
Presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim também não concorda com o auxílio proposto. “Ontem o governo federal recebeu R$ 8,8 bilhões dos lucros da Petrobras, os acionistas receberam R$ 24 bilhões. Agora, Bolsonaro me vem com a proposta de R$ 400 de voucher para os caminhoneiros”, aponta
Também é o que afirma Plinio Dias, presidente do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC). “O governo está brincando com a categoria, já que R$ 400 hoje não dá nem para 100 litros de diesel, nem cobre os pedágios de uma viagem”, reclama.
Gasolina já é encontrada a quase R$ 8 na Capital
Com o reajuste da Petrobras na última sexta-feira (17), os postos de combustíveis de Goiânia já estão praticando os novos valores nas bombas. O preço da gasolina comum chegou a R$ 7,89 e do diesel a R$ 7,69 em postos da Capital. O presidente do Sindiposto de Goiás, Márcio Andrade, avalia que esses aumentos estão mais altos se comparado ao último ano. Isto porque em apenas seis meses os reajustes ultrapassaram todos os de 2021.
“Nós tivemos quatro reajustes no diesel e três na gasolina, só que do diesel sempre numa intensidade maior. Para se ter ideia, em percentual, só com os reajustes de agora, já superamos os reajustes do ano passado inteiro. Então esse ano tá vindo altas muito mais fortes do que as do ano passado”, ressalta ele.
De acordo com a Petrobras, considerando a mistura obrigatória, para a composição da gasolina comercializada nos postos, a parcela da empresa no preço ao consumidor passará de R$2,81, em média, para R$2,96 a cada litro vendido na bomba. Uma variação de R$0,15 por litro. Com relação ao diesel, a parcela da empresa no preço ao consumidor passará de R$4,42, em média, para R$5,05 a cada litro vendido na bomba, com variação de R$0,63.
Distribuição e revenda
Segundo o economista e doutor em Transportes, Adriano Paranaiba, do Mova-Se, a questão da distribuição e revenda do combustível constitui um grande problema. De acordo com ele, existe muita regulação em cima da distribuição. Isso termina por criar arranjos constitucionais que encarecem a forma de distribuir o combustível. Para o especialista, há vários pontos importantes que o governo não está discutindo.
“O governo poderia estar oferecendo bilhões de economia para o mercado fazendo o preço cair, a partir do momento em que se oferece uma diversidade de opções de matriz energética para o transporte. Toda ela, principalmente a de carga e de passageiros, é extremamente dependente de combustíveis fósseis, mais especificamente a gasolina e o diesel. Temos um problema que é a dificuldade de o consumidor encontrar alternativas. Ele fica refém de comprar do único fornecedor que é a Petrobras”, ressalta.
Ação fiscalizatória
Durante ação de fiscalização conjunta realizada nesta semana, equipes do Procon Goiás e da Agência Nacional do Petróleo (ANP) foram até um posto de combustíveis na cidade de Nerópolis para apurar a denúncia de um vídeo que circulou nas redes sociais.
Nas imagens, um homem relata problemas mecânicos nos caminhões que aparecem nas imagens em decorrência do abastecimento com diesel que supostamente teria sido misturado com água. Os responsáveis pelo posto informaram que ocorreu um incidente no último dia 14. O local passa por obras para passagem de encanamentos que ligam as bombas aos tanques e uma forte chuva ocorrida naquele dia teria causado a infiltração de um dos tanques (diesel S-500).
Conforme o Procon, o problema foi identificado e o combustível foi retirado para devolução à distribuidora, conforme notas fiscais de devolução apresentadas na fiscalização. Segundo os responsáveis, os consumidores prejudicados receberam a assistência necessária, com a limpeza dos tanques, abastecimento com outro combustível (S-10), além da troca de filtros. Na terça (21), o técnico da ANP coletou duas amostras do tanque que serão submetidas à análise em laboratório.