Mais de 15% das meninas jovens já sofreram abuso sexual em Goiânia
Cerca de 70% das agressões sexuais ocorrem por meio do amigo ou namorado
Cerca de 15,5% das meninas já sofreram algum tipo de agressão sexual, em Goiânia, aponta Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dentre esses dados, mais de 70% das agressões sexuais ocorreram por meio do amigo ou namorado.
Segundo a pesquisa, 17% dos jovens e adolescentes que são estudantes disseram ter sido agredidos por outra pessoa que não seja mãe, pai ou responsável. Desses, 55,1% afirmaram ter sofrido algum tipo de agressão sexual de amigo(a), 12,9% de outros familiares, 8,2% de desconhecido(a), 8,1% de namorado(a), ex-namorado(a), ficante, crush, 5,7% da polícia e 15,6% de outras pessoas.
Além disso, a figura do agressor sexual foi personificada em 36,1% dos casos pelo amigo(a), 35,4% pelo namorado(a), ex-namorado(a), ficante, crush, 23,3% por desconhecidos, 2,6% pelo pai, mãe, padastro ou madrasta, 10,8% por outros familiares e 10,0% por outra pessoa.
Uma jovem, que prefere não se identificar, foi vítima de violência sexual após ir a um encontro com um desconhecido. Ela conta que conheceu por meio de um aplicativo de namoro. “Nós nos conhecemos, e eu senti aquela conexão. Depois de uma semana, marcamos para nos ver pessoalmente”, lembra. Por volta das 19 horas, ela foi até o local combinado para conhecer o homem.
Eles conversaram por alguns minutos e após isso ela entrou no carro dele para ir a outro lugar. “Nós iríamos para um bar, mas ele parou em uma rua escura e estava tentando me agarrar à força”. Após o crime, a jovem ficou sem reação e foi embora para casa. “É um assunto muito delicado que contei apenas para amigos depois de algum tempo, minha família nunca ficará sabendo”, revela.
Vida escolar
A pesquisa perguntou se na vida do escolar alguém ameaçou, intimidou ou obrigou a ter relações sexuais ou qualquer outro ato agressão sexual contra a sua vontade. Em Goiânia, o resultado foi positivo para 5,1% dos escolares em geral, 2,9% dos estudantes homens, 7,4% das estudantes mulheres, 5,0% dos estudantes da rede pública e 5,3% dos estudantes da rede privada.
Mais expostas
Os números de crimes relacionados a abusos sexuais e pornografia podem ser justificados pela falta de acesso a informações e uso da internet de maneira desregrada, avalia a psicanalista Mayara Orlandi. “Além disso, o fato do uso de crianças e adolescentes terem aumentado drasticamente por causa da pandemia, inclusive a própria pandemia pode ter influenciado nesse aumento em relação à pornografia infantil”, alerta.
Segundo ela, as crianças ficam muito expostas através de jogos on-line. “Jamais saberemos, de fato, quem está do outro lado como jogador, o que ela pode oferecer e pedir em troca”, ressalta. A especialista explica que as pessoas que praticam esses crimes sofrem de um Transtorno Psiquiátrico, classificado entre os chamados Transtornos de preferência sexual ou parafilias, caracterizado por fantasias, atividades, comportamentos ou práticas sexuais intensas e recorrentes envolvendo crianças ou adolescentes menores de 14 anos de idade, mais conhecida por Pedofilia.
“Eu nunca atendi pessoas com esse Transtornos, mas já estive com pacientes menores de idade que sofreram abuso sexual e um deles foi através da internet. Infelizmente isso é muito mais comum do que a gente pode imaginar, nem tudo esta diante dos nossos olhos como pais e vale lembrar que é nossa obrigação cuidar e proteger”, pontua.
Desequilíbrio
Mayara revela, ainda, que não existe cura. “É uma doença em que mesmo a pessoa tratando ela pode ter um desequilíbrio emocional que vai potencializar a prática novamente. Como no Brasil ainda não é permitido a Castração Química que eu defendo e acho que seria uma forma de amenizar o aumento de vítimas, o melhor é que as políticas públicas ofereçam tratamentos adequados para essas pessoas que sofrem desse transtorno e isso inclui suas vítimas”, argumenta.
Bullying
Outro dado alarmante apontado pela pesquisa é sobre as relações pessoais entre os estudantes na escola. Em 2019, 43,3% dos estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental, em Goiânia, relataram sofrer bullying. Entre as mulheres, o percentual foi mais expressivo, chegando a 51,4%, contra 35,5% dos homens.
Mais da metade das estudantes mulheres relataram sofrer bullying, e uma em cada quatro mulheres se sentiu ameaçada, ofendida e humilhada em redes sociais ou aplicativo de celular. A pesquisa aponta que 43,3% dos estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental, em Goiânia, relataram sofrer bullying. Entre as mulheres, o percentual foi mais expressivo, chegando a 51,4%, contra 35,5% dos homens.
Segundo o Ministério da Educação (MEC), um em cada dez estudantes brasileiros é vítima de bullying – anglicismo que se refere a atos de intimidação e violência física ou psicológica, geralmente em ambiente escolar. A Lei nº 13.185, em vigor desde 2016, classifica o bullying como intimidação sistemática, quando há violência física ou psicológica em atos de humilhação ou discriminação. A classificação também inclui ataques físicos, insultos, ameaças, comentários e apelidos pejorativos, entre outros.
Casos individuais
Para a psicóloga e psicanalista, Fabiola Fiuza, em termos de consequências não é possível generalizar, já que cada caso é individual. “Os adolescentes são agressivos e disputam o poder de alguma forma. O que muda, hoje, é que nós não temos mais figuras de autoridade que regule e ajude esses jovens, inclusive, colocando punições para eles”. As consequências subjetivas, segundo ela, são sempre singulares. Depende do interior de cada um, mas pode resultar em suicídios ou ataques dentro da sala de aula, por exemplo, explica.
Atualmente, diversos hospitais da Rede de Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) (Ebserh) possuem programas específicos para esse público, mas todas as unidades de saúde do país atendem emergencialmente sejam por meio de encaminhamento para outros locais mais adequados ao atendimento, seja com tratamentos realizados nas próprias unidades.