Inteligência em agricultura tropical
Os EUA, têm a maior economia mundial desde 1871 e, ano passado, completaram 150 anos nessa posição.
Coriolano Xavier
Projeções do FMI divulgadas no 1º semestre indicam que a economia mundial atingirá um novo marco neste ano, alcançando US$ 104 trilhões, apesar do conflito na Ucrânia, das sequelas econômicas da Covid e da potencial ameaça de estagflação em vários cantos do mundo. Um número digno de destaque, pois já incorpora o corte que o FMI fez em suas previsões sobre o crescimento global, de 4,4% no ano (em janeiro) para 3,6% (em abril).
Desse montante, cerca de US$ 71 trilhões estão concentrados em cinco grandes economias: Estados Unidos (25,3 trilhões), China (19,9), União Europeia (17,6), Japão (4,9) e Reino Unido (3,4). Ou seja, 68% do bolo global. Um jogo de pesos-pesados, altamente concentrado, relativamente estável (em termos históricos) e de difícil mudança de posições, embora efervescente em disputas. Os EUA, por exemplo, têm a maior economia mundial desde 1871 e, ano passado, completaram 150 anos nessa posição.
Nesse mundo de economia e poder tão concentrados, pergunta-se frequentemente qual papel ou voz cabe a países com PIB equivalente a modesta fatia da riqueza dos “desenvolvidos”. O Brasil, por exemplo, tem PIB de US$ 1,8 trilhão, mas saldo na balança comercial agrícola de US$ 100 bilhões. É (ou tem potencial para ser) protagonista da geopolítica internacional por sua relevância para a segurança alimentar mundial. As grandes economias do mundo sabem, hoje, que a solução para o abastecimento global de alimentos passa por aqui e pela agricultura tropical. Sem falar ainda do papel de potência ambiental que o País pode desenvolver.
Estimativas da ONU apontam que a população global estará em 8 bilhões de habitantes ao final de 2022, chegando a 8,5 bilhões em 2030, com mais da metade desse avanço em países como Índia, Paquistão, Egito, Congo, Nigéria e Etiópia, todos localizados na faixa tropical do planeta. A agricultura dos trópicos é o fator estratégico para melhor e mais rápida resposta aos desafios de insegurança alimentar, atuais e próximos, com o Brasil na liderança desse processo, dados os nossos expressivos números de produção e produtividade agrícolas.
Além disso, o País também se destaca por ser fonte geradora da ciência e tecnologia que viabilizaram a revolução agrícola tropical. Uma transformação que aos poucos se estende para países da África e América Latina, sob o impulso de programas de cooperação técnica nos quais nosso País é protagonista, exportando o conhecimento que tornou as degradadas savanas brasileiras em áreas produtivas e competitivas com os mais altos padrões da agricultura mundial. O Brasil tornou-se sinônimo de inteligência em agricultura tropical.
Este é um fator geopolítico que precisamos saber usar e multiplicar, com um projeto de desenvolvimento econômico e social na mesa, e com engajamento de toda a sociedade para servir como bússola em nossa inserção diplomática e comercial pelo mundo. Tradição para isso já temos. E o momento, aliás, é propício, pois a fome voltou a ser um desafio global e os últimos números da ONU dão conta de mais de 900 milhões de pessoas em condição de insegurança alimentar severa no mundo.
Coriolano Xavier é membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)