Bolsonaro discursa dois dias após derrota, mas não cita Lula
Por dois minutos, Jair Bolsonaro faz aceno ao eleitorado e ignora vitória do petista
Em dois minutos, Jair Messias Bolsonaro (PL), derrotado nas urnas no domingo (30), fez, cercado de ministros e aliados, um pronunciamento quase 44 horas após as eleições. Bolsonaro usou 1.346 palavras sem citar o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para agradecer ao eleitorado e legitimar a insurgência de apoiadores nas rodovias desde a noite da proclamação da derrota, que, diante das câmeras, não reconheceu.
Na curta fala no Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro evocou expressões que fizeram parte da crônica do período de governo bolsonarista, por onde passou, dentre elas “Deus”, “pátria”, “família” e “liberdade”. Sem responder às perguntas de repórteres brasileiros e estrangeiros, saiu sem olhar para trás, acompanhado de apenas um dos filhos: o deputado federal Eduardo Bolsonaro.
Em seguida, o ministro da Civil, Ciro Nogueira, afirmou que, na quinta-feira (3), começaria o processo de transição do governo, assim que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, consolide o nome do vice eleito, Geraldo Alckmin, como coordenador da transição.
Em um dos pontos mais esperados – sobre a democracia -, Bolsonaro se defende, dizendo que sempre foi rotulado como antidemocrático. “Ao contrário dos meus acusadores, sempre joguei dentro das quatro linhas da Constituição. Nunca falei em controlar ou censurar a mídia e as redes sociais”, disse, em indireta a algumas fala de Lula da Silva.
Antes, Jair Bolsonaro agradeceu aos 58 milhões e classificou os atos antidemocráticos são “movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral”. Para ele, as aglomerações “pacíficas sempre serão bem-vindas”. Ele, no entanto, no tom que usou em campanha e enquanto presidiu o País, deixou mais uma indireta à oposição: “os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir”.
No entanto, ao mesmo tempo, quase três centenas de rodovias brasileiras continuavam bloqueadas, sob a tensão de ações policiais e pedidos golpistas de intervenção militar
Em outro aceno aos apoiadores, ele afaga, dizendo que a “direita surgiu de verdade em nosso país”. Ainda lembrou a quantidade importante para a sua base de congressistas eleitos e disse que ele formou “diversas lideranças pelo Brasil”. E, esperançoso: “Nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca. Somos pela ordem e pelo progresso”.
Lendo o texto do discurso, Bolsonaro cita ainda a Carta Magna. “Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição”.
E, em uma fala mais endereçada aos eleitores que o levaram ao segundo turno e, por uma margem de votos considerada pequena – quase 2 milhões – numa votação surpreendente, diz: “É uma honra ser o líder de milhões de brasileiros que, como eu, defendem a liberdade econômica, a liberdade religiosa, a liberdade de opinião, a honestidade e as cores verde-amarela da nossa bandeira”. Antes de fechar a pasta onde acomodou o discurso, se despediu: “Muito obrigado”.
Um jornalista, impávido, aos berros, insistiu na pergunta: “Presidente, o senhor não vai reconhecer a derrota?”.
Leia o discurso completo de Jair Bolsonaro:
“Quero começar agradecendo os 58 milhões de brasileiros que votaram em mim no último dia 30 de outubro. Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral. As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir. A direita surgiu de verdade em nosso país. Nossa robusta representação no Congresso mostra a força dos nossos valores: Deus, pátria, família e liberdade.
Formamos diversas lideranças pelo Brasil. Nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca. Somos pela ordem e pelo progresso. Mesmo enfrentando todo o sistema, superamos uma pandemia e as consequências de uma guerra. Sempre fui rotulado como antidemocrático e, ao contrário dos meus acusadores, sempre joguei dentro das quatro linhas da Constituição. Nunca falei em controlar ou censurar a mídia e as redes sociais.
Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição. É uma honra ser o líder de milhões de brasileiros que, como eu, defendem a liberdade econômica, a liberdade religiosa, a liberdade de opinião, a honestidade e as cores verde-amarela da nossa bandeira. Muito obrigado.”