O desleixo de Cruz na gestão de recursos à educação municipal
Enquanto SME tinha 25% como mínimo de investimento, prefeitura utilizou somente 18%
À frente da missão de angariar lugar sob o sol das eleições de 2024, o prefeito Rogério Cruz parece não se preocupar com os votos que pode perder em uma área que alcança uma parcela considerável do goianiense, ou seja, o seu eleitorado. Além de pais e mães, os servidores estão atentos às tentativas de Cruz de estabelecer uma política pública de educação municipal que faça valer lhe dar mais quatro anos de mandato.
Ana é uma professora da rede municipal de Goiânia. Aos 59 anos, 25 de sala de aula, alfabetizou centenas de milhares de meninos e meninas que sempre encontra por aí – e é seguida nas redes sociais por um montão de adultos que aprenderam com ela a soletrar.
Na trajetória como professora, principalmente na rede pública, é marcada por insegurança. “Cada gestor, no caso prefeito, pensa de um jeito. Há aqueles que julgam mais importante o nosso trabalho e outros que se lixam”, comenta ela, antes de pedir que seu nome, a escola em que dá aulas, ou qualquer coisa que a identifique, sejam mantidos sob sigilo.
Indignada com a falta do pagamento do reajuste de 33% do piso salarial e com alguns detalhes na condução do prefeito da capital, é taxativa, ao mesmo tempo em que tem fala coordenada e sem exagero no tom de voz: “A gente tem medo de como essa gestão pode desconstruir ainda mais o conceito de educação básica no ano que vem”.
Quando prestou contas, Cruz entregou um relatório em que consta investimento de apenas 18%, quando ele poderia ter usado o mínimo de 25%. Em dezembro, para justificar o valor da verba carimbada, Cruz vai repassá-lo a servidores. O vereador de oposição e uma das vozes dos servidores públicos da educação na Câmara Municipal, Mauro Rubem (PT) vê com bons olhos o repasse dos valores aos trabalhadores da educação, mas acredita que a gestão de Rogério Cruz deveria ter programado melhor o investimento na área.
Mauro Rubem acrescenta, ainda, alguns pontos também levantados pela professora Ana. “A prefeitura deveria pagar o piso completo e ampliar mais vagas. Deveria ter construído novas unidades”, aponta. Para ele, o valor do investimento, que pode ultrapassar os 25%, poderia ainda ter se atentado para a criação de novas vagas, tendo em vista que o déficit ainda é prejudicial às famílias goianienses, sobretudo aquelas de baixa renda que não podem bancar babás.
Mauro ainda relembra episódios que mostram como o prefeito Rogério Cruz tratou de tentar sanar o déficit educacional. Ao contrário de construir novas unidades educacionais, Cruz, diz o vereador: “Fechou bibliotecas, salas de informática”.
Sem dar detalhes, Rogério Cruz disse que vai dar ajuda de custo para todos os mais de 19 mil servidores da Educação. Cruz vai enviar o projeto de lei que prevê a concessão do benefício à Câmara. No mesmo evento, Cruz afirmou que entregará kits com materiais escolares a estudantes do 5º ao 9ºano.
“A gente fica especialmente ansioso para saber”, comenta Ana, ao lembrar que, no Estado, onde também é professora, chegou a receber R$1.500 dessa “sobra orçamentária”. “Fica impressão que a prefeitura trabalha às cegas, sem planejamento, entendimento do que se passa dentro da sala de aula e no administrativo de uma escola”, comenta, antes de suspirar: “e torcer os dedos e aguardar”.