‘Beleza Despretensiosa’ propõe naturalidade e autenticidade na estética
Abordagem valoriza o equilíbrio e o respeito à individualidade, alertando contra excessos e riscos de procedimentos irreversíveis no Brasil
Em um cenário de culto à imagem perfeita, onde os procedimentos estéticos tornaram-se tão comuns quanto esperados, o dermatologista Dr. Bones surge com uma proposta contracorrente: a ‘Beleza Despretensiosa’. Trata-se de uma abordagem que valoriza a naturalidade e recusa os excessos, preservando a saúde e a identidade pessoal de seus pacientes.
Segundo o médico, essa busca pela beleza natural não implica uma negação da estética, mas sim uma reinterpretação. “Quando eu pensei no conceito de Beleza Despretensiosa, quis coroar uma defesa que já trazia em meu consultório: combater o exagero dos procedimentos na dermatologia. É possível cuidar da aparência sem ultrapassar os limites e ainda preservar a nossa autenticidade”, afirma ele.
Inspirado pelo conceito de ‘Quiet Luxury’ (luxo silencioso), o médico sugere que elegância e bem-estar coexistem com simplicidade. “Hoje, o simples é o novo luxo. O não exagero virou algo desejado. Mas vejo que, muitas vezes, o excesso de procedimentos estéticos é uma fuga de problemas emocionais ou de frustrações com a própria imagem”, pontua. Com mais de uma década de atuação no Brasil — país que ocupa o segundo lugar no mundo em procedimentos estéticos, atrás apenas dos Estados Unidos — ele destaca que a obsessão por intervenções excessivas transcende a vaidade e se reflete em questões emocionais, como baixa autoestima e inseguranças.
“A beleza está no nosso olhar, na forma como enxergamos as coisas e nos conectamos com os outros. Não são os cílios ou a sobrancelha que definem isso, mas a alma da pessoa. A gente precisa parar de se apegar a detalhes externos e cuidar daquilo que realmente nos torna únicos”, reflete.
Para ele, a pressão para alcançar um ‘rosto padrão’ é um fenômeno cultural que se manifesta no cotidiano e afeta a saúde mental de muitas pessoas, levando-as a acreditar que só serão aceitas se atingirem uma aparência idealizada. “É visível como há uma padronização cada vez maior. Hoje, parece que quem não faz mil procedimentos está errado. Todo mundo tem a boca preenchida, o rosto harmonizado, os cílios alongados. Mas por que nos forçamos a ser iguais?”, questiona Dr. Bones, propondo uma reflexão sobre os reais motivos que levam alguém a buscar mudanças na aparência. “Se o objetivo do procedimento não é um desejo pessoal, mas sim agradar a terceiros, é muito provável que o resultado final seja insatisfatório para o paciente”, completa.
Ele também adverte sobre o uso de substâncias como o polimetilmetacrilato (PMMA), um material acrílico usado em preenchimentos corporais permanentes, como no aumento de glúteos, cujos efeitos são irreversíveis. Para ele, o PMMA representa um risco permanente, pois é um corpo estranho no organismo e pode causar reações adversas sérias com o tempo. “Vemos cada vez mais casos graves, desde insuficiência renal até complicações como necrose e infecções. O PMMA só deve ser usado em casos muito específicos, onde é realmente essencial para o paciente”, destaca. Esse alerta se estende a outros procedimentos irreversíveis, que ele considera um limite que os profissionais e pacientes precisam respeitar.
O aumento no número de complicações com procedimentos estéticos, como necroses e até casos de cegueira por erros em aplicações de substâncias por profissionais não habilitados, traz uma preocupação para a prática de Dr. Bones. Ele observa que, embora o Brasil seja referência em estética, ainda há uma carência de regulamentação e fiscalização rígida nesse mercado, o que acaba colocando pacientes em risco. “A falta de critérios no uso de produtos injetáveis é alarmante, e com isso, casos graves ocorrem com frequência. Precisamos priorizar a segurança do paciente, e, para isso, a escolha de profissionais capacitados e regulamentados é fundamental”.
Com um olhar voltado ao equilíbrio entre estética e saúde, o dermatologista também reflete sobre as consequências emocionais que a busca pela beleza imposta pela mídia pode trazer. “Com toda a pressão das redes sociais, a busca por um mundo perfeito é exaustiva. Eu quero dizer às pessoas que está tudo bem ser quem elas são. Não precisamos nos transformar para nos sentir bem. Podemos realizar tratamentos que melhoram a autoestima, claro, mas sempre respeitando nossa essência”, diz.
Apesar da ‘Beleza Despretensiosa’ ser uma proposta relativamente nova, Dr. Bones vê um futuro promissor para essa abordagem. Com o crescente interesse pela estética natural e a preocupação em manter a própria identidade, ele acredita que, em alguns anos, a moderação na estética se tornará uma tendência. “Vejo as pessoas começando a entender a importância do equilíbrio, e acredito que, no futuro, a sociedade passará a adotar um olhar mais consciente sobre a própria imagem. A beleza despretensiosa, a moderação, o respeito ao próprio corpo serão conceitos fundamentais para a nossa saúde e bem-estar”.
Dessa forma, o médico destaca que a verdadeira beleza reside na autenticidade e no respeito à própria imagem, superando pressões externas e buscando o bem-estar em primeiro lugar. Para ele, a estética deve ser uma ferramenta de empoderamento, e não uma armadilha que aprisiona as pessoas em padrões irreais e inatingíveis.
“A beleza está no viver, no se aceitar e no entender que envelhecer é parte da vida. Eu prefiro falar em ‘vivenciamento’ — uma alternativa ao termo ‘envelhecimento’. A vida é sobre como você escolhe enxergar o mundo. Você está envelhecendo ou está vivendo? A escolha é sua”, conclui.