Vitória de Trump reacende esperança da direita brasileira pelo retorno de Bolsonaro ao poder
Parlamentares e apoiadores de Bolsonaro manifestaram a expectativa de que esse movimento chegue ao Brasil em 2026
Não é novidade para ninguém que a vitória do republicano Donald Trump – quase um símbolo de resistência da direita – nas eleições presidenciais dos Estados Unidos foi recebida com euforia pela direita daqui. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados celebraram o triunfo de Trump como um sinal de que o conservadorismo e os valores defendidos pelo ex-presidente americano ganharam novo fôlego na arena política global.
Diversos parlamentares e apoiadores de Bolsonaro manifestaram a expectativa de que esse movimento de direita chegue ao Brasil em 2026, com o possível retorno de Bolsonaro ao Palácio do Planalto, caso sua inelegibilidade seja anulada.
O ex-presidente foi declarado inelegível, em 2023, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em dois processos. No primeiro, foi condenado por abuso de poder político ao convocar embaixadores para questionar o sistema eleitoral, em 2022. No segundo, foi penalizado por abuso de poder econômico. Sua defesa afirmou que ele é inocente em ambas as acusações.
No entanto, com a inelegibilidade válida até 2030, o próximo passo dos seus apoiadores é tentar reverter essa decisão – seja por recursos legais ou por uma lei que conceda anistia ao ex-presidente.
Entusiasmo para 2026
Pelo Brasil, a vitória de Trump chegou como um deleite. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, chegou a responder a deputada Tábata Amaral (PSB-SP), que havia alertado sobre os riscos de interpretar os acontecimentos nos EUA como um presságio para o cenário brasileiro.
Eduardo foi categórico: “O que acontece nos Estados Unidos, acontece no Brasil, sim. Depois de 2016 por lá, teve o 2018 aqui. Em 2024, Trump nos Estados Unidos e, se Deus quiser, em 2026 o retorno de Bolsonaro para trazer ‘bons tempos’ para o Brasil”.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), também filho do ex-presidente, publicou declarações exaltando a vitória e associando-a aos valores da “liberdade, democracia e conservadorismo”.
Já o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), outro dos filhos do ex-presidente, afirmou que mesmo apoiada pela “máquina estatal”, Kamala Harris foi derrotada. Segundo ele, isso é uma resposta às políticas progressistas da esquerda, ao que descreveu como “agenda woke” – uma espécie de “paranoia” especialmente sobre questões de justiça social. Em português brasileiro, “mimimi”. No entanto, o vereador parece ter esquecido que tanto seu pai quanto Trump também foram derrotados com a máquina pública na mão
Deputados como Gustavo Gayer (PL-MG) e Mario Frias (PL-SP) usaram as redes sociais para parabenizar Trump e ironizar a candidata derrotada. “Tá Kamala pronta? Então vaza”, diz a publicação de Frias.
Paralelos com o Brasil
Outras figuras públicas próximas a Bolsonaro ampliaram o coro de celebração, destacando a importância da vitória de Trump para o fortalecimento das pautas conservadoras.
Deputados como Alexandre Ramagem (PL-RJ) e Maurício Marcon (Podemos-RS) aproveitaram o momento para criticar a imprensa e os institutos de pesquisa americanos, que projetavam uma disputa acirrada, numa tentativa de desacreditá-las.
Marcon, por exemplo, chamou o resultado de “massacre” e exaltou o empresário Elon Musk como um dos principais responsáveis pela “vitória esmagadora” de Trump, a quem disse ser um combatente pela liberdade.
Já a deputada Bia Kicis (PL-DF) celebrou a vitória de Trump como um “alívio para o mundo livre” e declarou que os brasileiros têm agora “uma chance de lutar pela verdade e liberdade, rejeitando a tirania e a censura”.
Senadores relacionaram eleição de Trump ao momento no Brasil
Senadores de oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também não perderam a oportunidade de associar a vitória de Trump às questões internas do Brasil.
Sérgio Moro (União-PR), por exemplo, aproveitou para criticar a postura diplomática de Lula, que recentemente manifestou apoio a Kamala Harris, a candidata derrotada. Para Moro, esse apoio foi um erro diplomático, pois contradiz a neutralidade que um chefe de Estado deveria manter em assuntos eleitorais de outros países.
Outros parlamentares, como o senador Jorge Seif (PL-SC), veem o triunfo de Trump como parte de uma onda conservadora que está se espalhando por diversos países ao redor do mundo.
Ele mencionou líderes de direita como Javier Milei da Argentina, Nayib Bukele, de El Salvador; Luis Lacalle Pou, do Uruguai e Sergio Mattarella da Itália, para afirmar que o avanço do conservadorismo representa uma resposta ao que ele considera “degradação social e perda de protagonismo” promovida por governos de esquerda.
Já a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), aliada de Bolsonaro, sintetizou o sentimento de seus colegas ao afirmar que a vitória de Trump representa uma vitória da democracia.
Expectativas
A base de apoio de Bolsonaro também tem esperança de que a vitória de Trump tenha um efeito positivo para as ambições políticas do ex-presidente. Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação do governo Bolsonaro, adaptou o slogan da campanha de Trump ao contexto brasileiro, pedindo para que o Brasil também seja “grande novamente”.
Para muitos analistas políticos, o retorno de Trump à Casa Branca, certamente, vai influenciar o cenário político global, incluindo o brasileiro. Embora ainda seja cedo para determinar como vai ser em 2026, aliados do ex-presidente já se preparam para promover suas narrativas.
Por lá, Trump foi eleito com promessas do retorno do “sonho americano”. Por aqui, cabe refletir – Bolsonaro vai conseguir se reeleger com o mesmo discurso de 2018? O Brasil tem problemas reais para serem resolvidos que vão muito além da retórica polarizadora de que a esquerda é o “câncer” na nação. Para 2026, é preciso de respostas concretas aos desafios do país.