Alas do PT avaliam mudança de rumo para garantir força
Enquanto a prefeita de Contagem defende migração para o centro, lideranças de Goiás veem a sigla como centro-esquerda e esquerda
O mandato da presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffman (PR), vai até junho de 2025. Atualmente, o partido discute uma renovação, que pode resultar ou não em uma aproximação maior com o centro. Essa via, por exemplo, é o que defende a prefeita reeleita de Contagem (Grande BH), Marília Campos, expoente do partido. A visão, contudo, não é compartilhada amplamente.
Para Edward Madureira, suplente de deputado federal por Goiás e vereador mais bem votado pelo partido em Goiânia – o segundo com mais eleitores, nesta eleição, o PT já é um partido de centro-esquerda e que venceu a eleição de 2022 (com Lula) junto ao centro democrático. Ou seja, a sigla já é moderada e não precisaria mudar migrar.
“Não sei se é o caso de rumar ao centro, pois hoje temos uma extrema-direita. O PT não representa e nunca representou a extrema-esquerda”, avalia Edward. “O que está em disputa hoje democracia contra autoritarismo, então é natural que o PT dialogue com os partidos de centro, como dialogou na última eleição. E eu acredito que a pauta mais importante é da economia e social, pois precisamos reduzir a pobreza, acabar com fome e apoiar quem quer empreender.”
Segundo Edward, o debate ideológico, puro e simples, não está no centro da discussão neste momento. Sobre a polarização, ele crê que ainda deve continuar, infelizmente. Se não com o ex-presidente [Jair Bolsonaro (PL)], com pessoas desse espectro, o que é muito perigoso para o País.”
Ele observa que existem regimes autoritários de direita que flertam com o fascismo, inspirados em negacionismo, anticiência e antivacina, o que é muito perigoso. “Então, eu acredito que dá para se construir algo para combater esse risco, para mim o que está em jogo, no fim das contas, é a democracia”, reforça a qualidade de diálogo de um PT de centro-direita.
Inclusive, ele vê o PT de Goiás a capacidade de ampliação do diálogo com o centro democrático. “O PT pode muito mais do que tem conseguido nessas últimas eleições. Acho que a eleição municipal aqui, a Adriana [Accorsi (PT), que disputou à prefeitura de Goiânia] avançou bastante, nós avançamos bastante na Câmara Municipal… A questão é ir para esse debate tendo como pano de fundo o desenvolvimento do Estado, do País, e a democracia.”
Mais à esquerda
Já o suplente de deputado estadual e vereador reeleito por Goiânia pelo Partido dos Trabalhadores, Fabrício Rosa, crê no contrário. Para ele, o PT deve seguir firme à esquerda, defendendo os interesses da classe trabalhadora e das populações historicamente vítimas da desigualdade.
A prefeita Marília, ao Estado de Minas, no começo desta semana, disse que “o PT precisa despolarizar sua atuação e caminhar para o centro”. Para ela, essa despolarização deve começar já, sem esperar o próximo pleito. “Aqui (Contagem), eu consegui despolarizar e ganhar um pedaço. Sei que é um processo lento e gradual. Temos também que nos aproximar do Centro, não apenas como aliança eleitoral, mas como estratégia política para atraí-lo na defesa do Estado do bem-estar social. Muita gente do Centro é liberal e defende o Estado mínimo. Hoje, o que a população mais precisa é democratizar o acesso aos direitos sociais. Isso fortalece a própria democracia”, acredita.
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A visão de Fabrício Rosa é diferente. “Em relação à polarização, eu entendo que essa não é uma discussão em si, que se revolve dizendo, ‘ah, vamos enfrentar, vamos acabar com a polarização’, como se fosse uma escolha higienizada e à parte da vida da sociedade, e não é.”
Ele argumenta que algumas pessoas pregam o golpe e o autoritarismo, enquanto outras acreditam no processo democrático. “Algumas pessoas pregam práticas discriminatórias, o racismo, a homofobia, xenofobia; outras pregam uma política de compreensão. Algumas pessoas pregam um arcabouço fiscal a qualquer custo, quando nós sabemos que o poder público no Brasil é pequeno. Alguns querem dizer que o Estado é inchado, quando, na verdade, não é. Nós sabemos que faltam policiais, faltam professores, faltam vagas nos CMEIs, faltam vagas na UTI…”
Assim, Fabrício pontua que existem dois lados. “O lado daqueles que atendem os pobres e a classe trabalhadora e aqueles que querem a manutenção dos privilégios e das várias formas de opressão.”
Ele reforça: “Não, eu não estou do lado do que a prefeita de Contagem disse, que o PT tem que ir para o centro. Pelo contrário, tem que ir mais para a esquerda, pois a esquerda se traduz nisso. Defender os interesses da classe trabalhadora, das populações historicamente vítimas da desigualdade, do racismo e contra o capitalismo financeirizado, que pouco produz, mas muito lucra.”