Acordo Mercosul-União Europeia: será que agora vai?
Ex-premiê de Portugal e defensor do acordo, António Costa assume a presidência do Conselho Europeu; expectativa é que ele destrave o tratado entre os blocos
Após mais de 20 anos, o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE) volta ao foco durante a 65ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, nos dias 5 e 6 de dezembro, em Montevidéu, Uruguai. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), um dos principais defensores do tratado, reiterou sua intenção de assinar o documento ainda em 2024, apesar de resistências históricas, como a oposição da França e de setores agrícolas europeus.
A novidade no cenário é a recente posse de António Costa, ex-primeiro-ministro de Portugal, como presidente do Conselho Europeu. Costa, um socialista pragmático e declarado defensor do acordo, assume o cargo com uma reputação consolidada como negociador experiente e um histórico de apoio à integração entre os blocos. Sua proximidade com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia e também entusiasta do tratado, é considerada um trunfo para superar os impasses.
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Durante seu mandato em Portugal, Costa posicionou o país como um dos maiores defensores do tratado. Em 2023, ao receber Lula em Lisboa, ele garantiu que se empenharia para assegurar a ratificação do acordo. Agora, como presidente do Conselho Europeu, será ele capaz de destravar as negociações e concretizar um dos tratados comerciais mais aguardados da história recente?
Décadas de espera
Desde que as primeiras conversas começaram, em 1999, o acordo Mercosul-UE passou por inúmeros altos e baixos. A assinatura preliminar, alcançada em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), gerou expectativas, mas o texto não foi ratificado por nenhum dos blocos, permanecendo inoperante. Em dezembro de 2023, outro viés. Na época, Lula ficou entusiasmado com a possibilidade da assinatura, no entanto, o acordo não avançou. O presidente francês Emmanuel Macron declarou, na ocasião, que a proposta “era ultrapassada” e não levava em conta em seu centro as preocupações com biodiversidade e proteção do meio ambiente contra as mudanças climáticas.
O objetivo do tratado é ambicioso: reduzir barreiras tarifárias e não tarifárias, ampliar o comércio e impulsionar o crescimento econômico dos países envolvidos. Estimativas indicam que sua implementação poderia aumentar as exportações do Mercosul em setores como agricultura e produtos manufaturados, enquanto a UE teria maior acesso a mercados de bens e serviços na América do Sul.
No entanto, a resistência europeia, liderada pela França, sempre representou um obstáculo significativo. Agricultores franceses temem a concorrência de produtos sul-americanos, como carne bovina e soja, e líderes políticos frequentemente cedem às pressões do setor, considerado tradicional e influente.
Otimismo
Enquanto isso, no Mercosul, as expectativas são altas. Lula, que acompanha o processo desde seu primeiro mandato, mostrou-se confiante: “Nós vamos fazer o acordo do Mercosul. Se os franceses não quiserem, eles não apitam mais nada; quem apita é a Comissão Europeia”.
O presidente eleito do Uruguai, Yamandú Orsi, também se mostrou otimista após reuniões recentes com Lula. Para ele, o momento é propício para que os dois blocos avancem e concretizem o tratado.
Se ratificado, o acordo Mercosul-UE seria uma vitória política para Lula e para António Costa, consolidando suas trajetórias como líderes globais comprometidos com a integração internacional. Além disso, representaria um marco histórico para o comércio global, unindo dois dos maiores blocos econômicos do mundo.
A pergunta que permanece é: após mais de duas décadas de idas e vindas, será que agora, com António Costa no comando do Conselho Europeu, finalmente vai dar certo? Montevidéu pode ser o palco para o desfecho dessa longa história.