Entenda os riscos do uso precoce de maquiagem por crianças e adolescentes
Especialista alerta sobre os impactos físicos e psicológicos da adultização precoce
Com a popularização das redes sociais, especialmente o TikTok, as crianças têm sido cada vez mais expostas a influenciadores digitais que compartilham suas rotinas de beleza, maquiagem e cuidados com a pele. Mesmo que muitas dessas práticas sejam destinadas a adultos, elas se tornam alvos de aspiração para um público jovem. As plataformas alimentam um ciclo vicioso de comparação, onde as meninas buscam imitar comportamentos e estéticas que, muitas vezes, não condizem com sua faixa etária.
Esse comportamento é amplificado pelos algoritmos das redes sociais, que direcionam conteúdos de beleza e cuidados à pele para os mais jovens. O fenômeno, conhecido como “adultização precoce“, ocorre quando crianças, muitas vezes antes da puberdade, começam a adotar práticas e preocupações estéticas próprias de adultos. A pressão para se enquadrar em padrões de beleza perfeitos, muitas vezes gerados por filtros e edições, pode resultar em uma insatisfação corporal precoce, o que pode gerar transtornos como a ansiedade, a depressão e a distorção da imagem corporal.
Laura Silva, psicóloga especializada em adolescentes, aponta que a exposição precoce a padrões de beleza irreais tem sérias implicações para a autoestima e o bem-estar psicológico das crianças. “As redes sociais criam um ambiente de constante comparação. As crianças começam a se sentir inadequadas por não atenderem aos padrões de beleza mostrados por influenciadores e celebridades, que frequentemente são manipulados digitalmente para parecerem perfeitos. Isso pode gerar sentimentos de frustração e inadequação”, explica a especialista.
O uso de maquiagem e cosméticos também pode afetar a saúde física da criança. A pele dos mais jovens é mais sensível e vulnerável, o que aumenta o risco de reações alérgicas e outros problemas dermatológicos. A adoção de produtos anti-idade ou tratamentos inadequados pode causar danos irreversíveis à pele, além de agravar condições como acne e irritações. No entanto, muitas crianças e adolescentes, influenciadas pela propaganda e pelos influenciadores digitais, não possuem a maturidade necessária para compreender os riscos desses produtos.
O impacto psicológico do uso precoce de maquiagem e produtos de beleza vai além da simples busca por um padrão estético. Quando a maquiagem se torna uma parte central da vida de uma criança, ela começa a se distanciar de uma fase importante do desenvolvimento, onde a identidade deve ser construída com base em valores e experiências, e não em aparências externas. “A maquiagem pode fazer parte da vida das mais jovens, mas, quando ela passa a ser uma preocupação constante, ela deixa de ser uma brincadeira e se torna uma questão emocional”, afirma Laura Silva.
A psicóloga também destaca que, ao focar excessivamente na aparência, as crianças podem perder a oportunidade de se desenvolver emocionalmente, criando um vazio que será preenchido por padrões de beleza muitas vezes inatingíveis. A busca incessante por uma estética idealizada, alimentada por influenciadores e propagandas, pode levar a um ciclo de insatisfação que, no futuro, poderá resultar em transtornos alimentares, distúrbios de imagem e sérios problemas de autoestima.
O papel dos pais: orientação e autocuidado
Em meio a essa realidade, o papel dos pais e responsáveis é fundamental. “É essencial que os pais dialoguem com seus filhos sobre as influências das redes sociais e ajudem a distinguir entre o que é real e o que é apenas uma ilusão digital. Incentivar uma autoestima baseada em valores internos, como caráter, inteligência e bondade, é crucial para o desenvolvimento de uma identidade saudável”, recomenda Laura Silva.
Além disso, é importante que os responsáveis promovam uma relação saudável com a imagem corporal, sem submeter as crianças e adolescentes à pressão de se encaixarem em padrões estéticos irreais. O autocuidado deve ser ensinado como uma forma de promover a saúde e o bem-estar, e não como uma obrigação estética.
Para garantir um crescimento saudável e equilibrado, é essencial que a sociedade reavalie os padrões de beleza impostos às crianças e adolescentes, priorizando o autocuidado realista e o respeito pela individualidade de cada fase da vida.