Mercado financeiro revisa projeções da inflação, PIB e juros para 2025
A expectativa da taxa Selic, principal ferramenta de controle inflacionário, permanece em 15%
O mercado financeiro atualizou suas expectativas econômicas para os próximos anos, com destaque para uma leve alta na projeção de inflação em 2025. Segundo o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira (20), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano subiu de 5% para 5,08%. Já a previsão de crescimento do PIB foi ajustada de 2,02% para 2,04%.
As estimativas semanais divulgadas no Focus, baseadas na opinião de economistas do mercado financeiro, mostram um cenário de ajustes moderados, tanto para o curto quanto para o médio prazo. Para 2026, o crescimento econômico foi revisado para 1,77%, enquanto para 2027 e 2028, as projeções permanecem estáveis em 2%.
“O aumento na projeção da inflação reflete, principalmente, as incertezas fiscais e a volatilidade cambial. A economia brasileira ainda enfrenta desafios estruturais, como os custos elevados de produção e os riscos associados à política monetária global”, analisa o economista Luiz Carlos Ongaratto.
Inflação e metas desafiadoras
Além da alta esperada para o IPCA em 2025, a expectativa para a inflação nos anos seguintes também passou por revisões. Em 2026, o índice subiu de 4,05% para 4,10%, enquanto para 2027 e 2028 as projeções são de 3,9% e 3,58%, respectivamente. O mercado tem buscado alinhar suas previsões às diretrizes do Banco Central, que trabalha com uma meta de inflação de 3% para 2025, com intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%.
No entanto, o histórico recente mostra que cumprir as metas não será uma tarefa fácil. Em 2024, por exemplo, o IPCA encerrou o ano em 4,83%, acima do teto da meta de 4,5%. Segundo Ongaratto, a combinação de inflação persistente com juros elevados exige uma estratégia ainda mais focada.
“O Banco Central precisará calibrar cuidadosamente a Selic. Se, por um lado, a alta dos juros contribui para segurar a inflação, por outro, penaliza o crescimento econômico e o mercado de crédito. Esse equilíbrio será decisivo para 2025”, afirma.
Taxa de juros segue elevada
A taxa Selic, principal ferramenta do Banco Central para controle inflacionário, também teve sua projeção ajustada no Boletim Focus. Para 2025, a expectativa permanece em 15%, refletindo a manutenção de uma política monetária contracionista diante do cenário adverso.
Em 2026, no entanto, o mercado espera que a Selic recue para 12,25%, um leve aumento em relação à projeção anterior de 12%. Nos anos seguintes, as taxas devem desacelerar, alcançando 10,25% em 2027 e 10% em 2028.
Segundo o Copom (Comitê de Política Monetária), o aumento de 1 ponto percentual na Selic em dezembro de 2024 foi uma resposta ao impacto do pacote fiscal apresentado pelo governo federal. “A mensagem do Banco Central é clara: sem disciplina fiscal, o risco inflacionário aumenta, exigindo mais rigor na política monetária”, destaca Ongaratto.
O economista reforça que a convergência da inflação para a meta será um processo gradual. “Há ainda fatores externos, como a política de juros nos Estados Unidos e a evolução dos preços das commodities, que podem impactar os custos domésticos e o câmbio”, explica.
Câmbio estável, mas em patamares altos
O mercado projeta que o dólar seguirá estável em 2025, com cotação de R$ 6,00. A mesma taxa é esperada para o final de 2026, enquanto para 2027 e 2028 as expectativas indicam R$ 5,92 e R$ 5,99, respectivamente.
A valorização da moeda norte-americana reflete, em parte, o aumento das incertezas globais e a percepção de risco em relação ao Brasil. Segundo Ongaratto, a alta do dólar pressiona ainda mais os preços internos. “A taxa de câmbio tem impacto direto na inflação ao encarecer insumos importados e produtos finais. Para conter esse movimento, é necessário reduzir a percepção de risco fiscal e melhorar o ambiente de negócios no país”, conclui.
Com os ajustes constantes nas projeções, o cenário econômico para os próximos anos continua desafiador. Embora o mercado sinalize otimismo moderado com o crescimento do PIB, as pressões inflacionárias e a necessidade de manter juros elevados ainda são fatores que exigem atenção de investidores e do governo. A próxima reunião do Copom, marcada para os dias 28 e 29 de janeiro, será crucial para avaliar como o Banco Central pretende lidar com esses desafios