Lula enfrenta dilema com o Centrão: alto custo político e pouco apoio
O HOJE ouviu um cientista política que questiona se reforma ministerial e concessões ao Centrão valem o investimento, diante da falta de retorno político e incertezas sobre apoio até 2026
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Bruno Goulart
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se vê diante de um dilema político ao lidar com o Centrão, bloco formado por partidos de centro e direita no Congresso. Apesar de investir pesadamente em cargos, emendas parlamentares e outras concessões, o retorno em apoio político tem sido insuficiente para garantir a aprovação de pautas prioritárias da administração. A situação levanta questionamentos sobre a eficácia da estratégia adotada e se vale a pena continuar investindo nessa relação, especialmente diante da possibilidade de uma reforma ministerial.
Lula afirmou, na última quarta-feira (19), que está satisfeito com sua equipe e que eventuais mudanças no governo são decisões próprias do presidente. No entanto, o custo político para manter o apoio do Centrão tem sido alto, sem os resultados esperados. Ao O HOJE, o cientista político Guilherme Carvalho destacou que os custos de governabilidade aumentaram significativamente, mas o retorno em termos de coordenação política e aprovação de projetos tem sido baixo. “O governo está pagando um preço alto e não está recebendo o apoio necessário para avançar em sua agenda”, afirma.
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Um dos principais desafios é a heterogeneidade da coalizão governista, que reúne partidos de diferentes espectros ideológicos, da esquerda à direita. Essa diversidade, embora necessária para garantir maioria no Congresso, gera conflitos internos e dificulta a construção de consensos. Carvalho lembra que problemas semelhantes contribuíram para a queda da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), cuja base de apoio era ampla, mas frágil. “O PT tradicionalmente tem dificuldade em equilibrar sua coalizão, o que gera instabilidade”, explica.
A falta de apoio consistente do Centrão coloca em xeque a viabilidade de uma reforma ministerial, que poderia incluir a redistribuição de pastas para agradar aliados. A questão é se essa estratégia traria resultados concretos. “Vale a pena continuar investindo nessa relação se os resultados não estão sendo satisfatórios?”, questiona Carvalho. Além disso, mesmo que o governo atenda às demandas do Centrão, não há garantias de que o apoio será estável até o final do mandato, em 2026.
Outro ponto de preocupação é a agenda de governo. O Centrão tende a apoiar pautas mais conservadoras, o que pode limitar a capacidade de Lula de avançar em projetos progressistas. “Será que as pautas que o Centrão está disposto a aporar são suficientes para recuperar a popularidade do governo?”, indaga o cientista político. A falta de coordenação política tem impactado a imagem da administração, que enfrenta desafios para manter altos índices de aprovação.
Enquanto isso, Lula mantém um discurso otimista sobre seu governo. Ele até afirmou, publicamente, estar “muito contente” com sua equipe e destacou que mudanças ministeriais podem ocorrer ao longo do tempo, conforme a necessidade. No entanto, a pressão por resultados concretos e a necessidade de garantir apoio no Congresso devem continuar a desafiar o presidente nos próximos meses.
Dessa forma, o impasse com o Centrão é um problema mais amplo da política brasileira: a dificuldade de construir maiorias estáveis em um Congresso fragmentado e com interesses diversos. Para o governo, a questão não é apenas sobre quanto está disposto a pagar, mas se o investimento trará os resultados esperados. Enquanto isso, a incerteza sobre o apoio político até 2026 permanece, deixando o governo em uma encruzilhada.