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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Herança

O legado político do governo progressista do Papa Francisco

O pontífice, que faleceu na última segunda-feira, 21, marcou e transformou o papel político do Vaticano no século XXI

Thiago Borgespor Thiago Borges em 22 de abril de 2025
O legado político do governo progressista do Papa Francisco
Foto: Reprodução

A morte do Papa Francisco na madrugada da última segunda-feira, 21, marcou o fim de um dos governos mais divisivos e controversos da Igreja Católica nos últimos tempos. O papado de Francisco ficou marcado pelas controvérsias em torno do líder religioso, que nunca escondeu o viés progressista que carregava consigo em suas convicções.

Eleito em 2013, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio — nome de batismo do pontífice — tornou-se o primeiro papa latino-americano e jesuíta da história, além de ser o primeiro papa não-europeu em mais de 1.200 anos. Escolheu o nome Francisco em homenagem ao santo de Assis — símbolo da humildade e do compromisso com os pobres — e, desde então, seu pontificado foi marcado não apenas por gestos simbólicos, mas por decisões que transformaram o papel político da Igreja Católica no século XXI.

O papado de Francisco reposicionou o Vaticano como uma potência mergulhada em debates contemporâneos como as mudanças climáticas, a desigualdade social, a imigração, as relações internacionais e os direitos humanos. Seu estilo direto, optando pelos marginalizados e suas críticas ao capitalismo construíram a imagem de um papa que desafiava não apenas tradições internas, mas estruturas de poder consolidadas no mundo.

Ao publicar a encíclica Laudato Si’, em 2015, Francisco elevou a pauta ambiental ao centro do discurso católico, acusando governos e grandes corporações de destruição irresponsável do planeta. A carta foi lida como um manifesto ecológico, mas também como um alerta político: a crise climática é inseparável da crise social. Ele afirmou que “o clamor da terra e o clamor dos pobres são o mesmo”, aproximando a Igreja de movimentos ambientalistas e sociais, enquanto despertava resistência em setores conservadores.

Sua crítica ao “mercado livre absoluto” e ao “capitalismo que mata” incomodou elites econômicas. Em discursos na ONU e no Parlamento Europeu, denunciou as “estruturas de pecado” que produzem pobreza e exclusão. No contexto da crescente desigualdade global e da ascensão de líderes autoritários, Francisco adotou uma postura frontal contra políticas anti-imigração e discursos de ódio, chamando a atenção de governos como o dos Estados Unidos durante o primeiro governo Trump, e de regimes nacionalistas na Europa.

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No plano interno da Igreja, Francisco buscou reformar estruturas. Promoveu maior inclusão de mulheres na gestão do Vaticano, descentralizou decisões pastorais e incentivou o diálogo com culturas e religiões diversas. Seu pontificado rompeu com a rigidez doutrinária, adotando um tom mais pastoral e acolhedor diante de temas como a homossexualidade, a comunhão de divorciados e a identidade de gênero — sem alterar a doutrina oficial, mas abrindo espaços para a escuta.

Essas iniciativas o colocaram em rota de colisão com alas conservadoras do catolicismo. A força da oposição conservadora ao papa Francisco ficou evidente em janeiro de 2023, quando veio à tona que o falecido cardeal australiano George Pell — figura central do conservadorismo católico e aliado próximo do papa anterior, Bento XVI — era o autor do memorando anônimo, publicado em 2022, que classificou como uma “catástrofe” o pontificado de Francisco.

Apesar da resistência, Francisco nomeou cardeais alinhados com sua visão. Quase 80% do colegiado que escolherá o próximo papa foi escolhido pelo pontífice. Resta saber se, com os conflitos internos e a guinada dos governos à direita ao redor do mundo, a escolha do próximo papa será guiada por olhares progressistas ou mais moderados. (Especial para O Hoje)

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