Centrão reduz apoio a Lula, pois vê governo enfraquecido em 2026, diz especialista
Levantamento mostra queda na fidelidade de PSD, União Brasil, PP e MDB ao governo. Especialista em marketing político Felipe Fulquim afirma ao O HOJE que partidos estão “à espreita” de 2026 e podem se unir a um candidato de centro ou direita
Bruno Goulart
O governo Lula (PT) tem enfrentado um crescente desgaste político com a redução no apoio de partidos do Centrão, que, mesmo ocupando ministérios, diminuíram sua fidelidade ao Planalto em votações cruciais no Congresso. Dados divulgados pelo O GLOBO mostram que PSD, União Brasil, PP e MDB, que juntos comandam dez pastas, registraram queda no alinhamento com o Executivo entre 2023 e 2024. Enquanto isso, o Republicanos foi a única sigla que aumentou seu apoio, sinalizando uma movimentação estratégica em meio a um cenário eleitoral que já começa a se desenhar.
De acordo com o especialista em marketing político Felipe Fulquim, consultado pelo O HOJE, o comportamento desses partidos reflete um cálculo eleitoral. “Eles estão à espreita do que pode acontecer em 2026. Se surgir um candidato viável de centro ou direita, muitos podem migrar para uma nova aliança, especialmente se o governo não melhorar sua popularidade ou a economia não reagir”, afirmou.
Queda na fidelidade
Um levantamento das votações no Congresso revela que o PSD caiu de 86% para 77% de apoio ao governo; União Brasil recuou de 71% para 67% – o menor índice entre os partidos analisados; MDB registrou queda de 81% para 77% e PP teve leve redução, de 76% para 75%. Apenas o Republicanos, que tem o ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), aumentou sua adesão, passando de 77% para 81%.
A insatisfação se tornou pública. Parlamentares do PSD reclamam da distribuição de pastas, considerando o Ministério da Pesca como de “baixo prestígio”. Já o União Brasil vive disputas internas, com deputados pressionando por uma saída da base aliada. “A pauta econômica nos une, a dos costumes nos separa. Nossa posição depende do que vem para votação”, disse Elmar Nascimento (União Brasil).
Derrotas no Congresso
O governo sofreu derrotas significativas nos últimos meses, muitas delas com votos de partidos que compõem sua base – fim das “saidinhas” de presos (maio/2023); aprovação do marco temporal para terras indígenas (maio/2023); manutenção do veto de Bolsonaro contra punição a fake news eleitorais (maio/2024).
Leia mais: Aproximação entre caiadismo e bolsonarismo pode mudar planos de Wilder
Além disso, o pedido de urgência para anistiar envolvidos nos ataques de 8 de janeiro – apoiado por 146 deputados da base governista – escancarou a fragilidade do Palácio do Planalto. “O governo está desorganizado, não articula. A coordenação política é muito ruim”, criticou o deputado goiano José Nelto (UB), um dos vice-líderes do governo que assinou o requerimento.
Centrão de olho em 2026
Felipe Fulquim já havia dito ao O HOJE que a queda no apoio não é apenas uma reação a frustrações imediatas, mas um movimento estratégico em direção a 2026. O entendimento, segundo ele, é que o governo não vai bem e que ainda há tempo para desembarcar e não estar associado ao Planalto de Lula em 2026. Essa associação dos partidos de Centro com o presidente poderia ser negativa aos olhos do eleitorado.
O PP, por exemplo, já sinalizou aproximação com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), visto como um possível candidato de centro-direita. O PSD, por sua vez, tem nomes como Gilberto Kassab, que pode buscar espaços em uma eventual terceira via.
Enquanto isso, o governo ainda não conseguiu aprovar itens prioritários, como a regulamentação das redes sociais, a isenção do Imposto de Renda e a PEC da Segurança Pública.