Na segunda-feira (5), a convidada do Mandavê era menor de idade, mas o conteúdo da conversa carregava maturidade suficiente para desestabilizar qualquer roteirista de stand-up. Com treze anos e meio de idade e um repertório que passeia entre a lousa da escola e a mira dos haters, Juju Raiz se sentou à mesa do podcast apresentado por Juan Allaesse com a desenvoltura de quem já entendeu o algoritmo da internet, ou ao menos aprendeu a peitá-lo.

Juju chegou acompanhada do pai, Tiago Raiz, ex-policial militar de Goiás e atual comediante de plantão. A dupla, unida pelo DNA e pela comédia, tornou-se um fenômeno curioso nas redes sociais. Se antes Tiago fazia abordagens armadas, hoje seu maior embate é com as piadas que escreve, e que nem sempre agradam a filha. “Ele traz umas ideias meio ultrapassadas”, disse Juju, sorrindo, enquanto o pai revirava os olhos.

O episódio serviu como um bastidor improvisado da rotina cômica da família. A história começou com sessões noturnas de stand-up entre pai e filha. Os dois assistiam a vídeos de Igor Guimarães e Thiago Ventura, nomes que serviram de referência para que a menina se atrevesse a pedir: “Pai, vamos fazer umas piadas pra mim?”. Daí para o palco foi um pulo. Hoje, a comediante mirim se apresenta ao lado de Tiago, mas já planeja apresentações solo para o ano que vem. Crescer na comédia, pelo visto, também envolve um certo desejo de independência.

No podcast, ela falou do improviso que é lidar com as redes sociais. Para Juju, não existe fórmula: é “ir na tora”. Posta tudo, vê o que acontece. Um vídeo seu, por exemplo, explodiu no Facebook, rede que ela sequer usa. Foi parar numa página aleatória, acumulou mais de um milhão de visualizações e ela só ficou sabendo depois.

Mas nem tudo são risadas. Os haters são reais, e grisalhos. “A maioria é da terceira idade”, afirmou. Quando os ataques passam dos limites, é o pai quem entra em cena. Sem filtro, sem meias palavras. Ele responde um por um. “Hoje em dia está difícil. Você faz algo para ser engraçado, e o povo leva a sério demais”, lamentou Tiago, refletindo sobre o desgaste de tentar fazer graça em tempos de cancelamento.

O humor doméstico, contudo, não se limita à internet. Juju contou que o pai a busca na escola com o carro bombando “Boate Azul” no volume máximo. Ela prefere funk, claro, e os embates musicais se tornaram uma espécie de marca registrada nos vídeos da dupla. Se ela coloca funk, ele troca por modão. E vice-versa. “Fica uma confusão”, disse ela, rindo.

Apesar das diferenças geracionais, os dois funcionam como um relógio cômico bem ajustado. Tiago escreve, grava e dirige. Juju atua, improvisa e desafia. A simbiose é tamanha que até as brigas parecem roteirizadas. O podcast revelou, sem esforço, a alquimia entre os dois: uma combinação de timing, carisma e coragem para rir de si mesmo, mesmo quando o público é cruel.

No TikTok, Juju já ultrapassa a marca de 780 mil seguidores e acumula mais de 9,8 milhões de curtidas. Os vídeos variam entre esquetes roteirizadas e situações reais da convivência com o pai, como brigas musicais entre funk e sertanejo ou reflexões cômicas sobre o comportamento de adolescentes. Um dos conteúdos que mais viralizou tem o título “O Mistério da Casa de Swing Revelado!” e alcançou grande repercussão na plataforma.

No Instagram, onde está como @jujuraiz_, a jovem também já soma mais de 810 mil seguidores. Lá, ela compartilha bastidores de gravações, trechos de apresentações e momentos descontraídos do dia a dia.

Ao lado da filha, Tiago Raiz também tem ampliado sua presença nacional. Após mais de uma década como policial militar em Goiás, ele estreou no stand-up comedy durante a pandemia, se apresentando em casas de comédia de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, Brasília e outros estados. Tiago já passou também por programas de televisão como o Programa do Ratinho, no SBT, e tem ganhado espaço em podcasts.

A dupla, formada por pai e filha, equilibra o talento cômico com uma rotina digital intensa. Enquanto Tiago escreve e produz, Juju incorpora personagens e ajuda a adaptar as piadas para o público jovem. Os números crescentes nas redes reforçam o potencial do trabalho conjunto, e apontam para um futuro promissor na comédia nacional.