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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Metronização

Goiânia aposta em inteligência artificial para agilizar BRTs

Sistema promete elevar velocidade operacional dos ônibus em 30%, mas especialista afirma que impacto real ainda é modesto

Anna Salgadopor Anna Salgado em 20 de maio de 2025
Sistema promete elevar velocidade operacional dos ônibus em 30%, mas especialista afirma que impacto real ainda é modesto
Foto: Alex Malheiros

A Prefeitura de Goiânia iniciou, nesta segunda-feira (19), a operação do primeiro trecho do sistema de metronização com uso de Inteligência Artificial (IA) no transporte coletivo da capital. A tecnologia, que estreou no corredor BRT Leste-Oeste entre o Terminal Novo Mundo e a Praça da Bíblia, busca sincronizar os semáforos com a passagem dos ônibus, evitando paradas desnecessárias e aumentando a velocidade média nos horários de pico de 16 km/h para até 21 km/h,  um avanço de cerca de 30%.

Segundo o prefeito Sandro Mabel, a proposta é fazer com que os corredores BRTs se tornem realmente rápidos e atraentes para os passageiros. “Ao sair da estação, o ônibus já conta com um aparelho que começa a conversar com os semáforos. Eles programam o melhor momento para abrir e fechar, reduzindo o tempo de parada”, afirmou. 

O sistema utiliza sensores que detectam a aproximação dos veículos e, com base em um algoritmo simples, prolongam o sinal verde por até 10 segundos, permitindo a travessia dos coletivos.

Leia mais: Capital se prepara para temporada de corridas em 2025

A ação é parte de um Termo de Cooperação firmado entre a Secretaria Municipal de Engenharia de Trânsito (SET), a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), a Rede Metropolitana de Transporte Coletivo (RMTC) e o RedeMob Consórcio. A próxima etapa da implementação está prevista para junho, quando o trecho entre a Praça Cívica e o Terminal Isidória, no eixo Norte-Sul, deverá ser contemplado.

De acordo com Tarcísio Abreu, secretário da SET, a iniciativa vem sendo testada há três semanas e os primeiros resultados indicam redução significativa nas paradas dos ônibus. Segundo a Secretaria, o primeiro trecho já apresenta melhora real para o usuário. A pasta afirma que a priorização do transporte coletivo tem sido uma das bandeiras da atual gestão municipal.

Para o presidente da CMTC, Murilo Ulhôa, a tecnologia tem impacto direto na rotina dos passageiros. Ele pontua que os ônibus que antes paravam quatro vezes nesse trecho, agora param apenas uma. O passageiro chega mais rápido ao destino, passa menos tempo no veículo e mais tempo com a família.

 

Metronização: especialista alerta para limitações práticas e efeito político da tecnologia

Apesar do entusiasmo do poder público, o especialista em mobilidade urbana Marcos Rothen alerta que os efeitos práticos da metronização são limitados. “É positivo, mas está longe de equiparar o BRT ao desempenho de um metrô. O termo ‘inteligência artificial’ serve mais como apelo político. Na prática, trata-se de um sistema simples, que apenas prolonga o verde do semáforo ao identificar a aproximação de um ônibus”, esclareceu em entrevista exclusiva ao jornal O Hoje.

Rothen explica que o modelo já é utilizado em outras cidades brasileiras, como Curitiba, há anos. A principal inovação é o uso de tags nos ônibus em vez de sensores físicos embutidos no asfalto, o que reduz os custos de instalação. “Essa tecnologia é a mesma usada em pedágios ou estacionamentos com sistema automático de cancela. Não há nada de novo ou revolucionário”, reforça.

Entre os poucos desafios técnicos da implantação, o especialista cita apenas a possibilidade de reclamações por parte de motoristas de veículos particulares, que podem enfrentar esperas um pouco maiores nos cruzamentos. “Fora isso, a operação é simples e depende apenas de vontade política para continuar. A manutenção do sistema não é complexa”, afirmou.

Rothen também destaca que não há, até o momento, intenção clara de integrar o sistema a outros modais de transporte urbano. “Tanto a prefeitura quanto o governo do estado têm investido apenas em melhorias pontuais. Os novos ônibus, por exemplo, possuem ar-condicionado, mas o modelo é o mesmo de anos atrás. Mesmo nos BRTs, os veículos ainda estão longe do padrão visto em cidades com sistemas modernos.”

Apesar das limitações apontadas por Marcos, a expectativa da Prefeitura é de que a metronização incentive o uso do transporte coletivo e contribua para a redução do número de veículos particulares nas ruas. “Cada carro a menos melhora a mobilidade de toda a cidade”, reforçou Mabel, que anunciou ainda a retomada dos micro-ônibus tipo citybus, para atender demandas pontuais com maior agilidade.

Enquanto a população aguarda pelos próximos trechos da metronização, os passageiros do eixo Leste-Oeste já começam a experimentar viagens ligeiramente mais rápidas; mesmo que a transformação, como pondera o especialista, ainda esteja longe de representar uma revolução no transporte público da capital. 

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