O que é mito, verdade ou risco nos truques virais de cuidados com a pele
Especialista em estética analisa o uso de produtos caseiros que se popularizaram nas redes sociais e alerta para os perigos do “faça você mesmo” sem orientação
Na vitrine interminável da internet, onde tutoriais de beleza viralizam com a mesma velocidade com que são esquecidos, práticas caseiras voltadas ao cuidado da pele conquistam milhões de adeptos. São receitas que prometem milagres: menos oleosidade, mais hidratação, esfoliação instantânea ou alívio para olheiras. Mas, entre um clique e outro, surge a pergunta inevitável — o que, afinal, é seguro?
Quem responde é Patrícia Elias, esteticista e dermaticista. A especialista se tornou referência por unir rigor técnico à acessibilidade dos tratamentos naturais. Em tempos de influência digital desenfreada, ela decidiu avaliar cinco das fórmulas mais populares nos vídeos curtos e nos carrosséis de dicas.
A primeira análise recai sobre o leite de magnésia, usado como primer para controlar a oleosidade e fixar a maquiagem. O efeito antibrilho se deve aos compostos de magnésio, zinco e titânio, que realmente criam um acabamento matificante. No entanto, o produto tem um pH elevado, incompatível com o da pele, o que pode causar alergias e dermatites. “O uso contínuo é contraindicado. Ele não foi feito para a pele e pode danificar a barreira cutânea”, alerta Patrícia.
Outro item comum nas prateleiras populares é a pedra hume em pó, vendida como antitranspirante natural. O composto atua obstruindo os poros e reduzindo a transpiração, mas não tem ação antibacteriana. Ou seja: ajuda a conter o suor, mas não impede o mau odor. “Algumas pessoas misturam o pó com óleos essenciais como lavanda ou melaleuca para tentar uma ação mais completa. Funciona até certo ponto, mas não substitui desodorantes com ação antifúngica e antibacteriana”, explica.
Na cozinha, um resíduo se tornou queridinho: a borra de café. Popular como esfoliante natural, ela de fato remove células mortas. Mas usá-la pura, direto sobre o rosto, pode ser agressivo. A especialista recomenda combiná-la com mel, aloe vera ou sabonete líquido, para suavizar o atrito. “Além de esfoliar, esses ingredientes hidratam e protegem. A aplicação deve ser leve, com movimentos suaves, evitando lesões”, pontua.
Velho conhecido nos rituais de beleza, o pepino gelado nos olhos continua eficaz — mas dentro de um limite. O frio ajuda a desinchar ao promover a vasoconstrição, reduzindo o inchaço matinal. No entanto, ele não tem efeito real sobre olheiras pigmentadas ou estruturais. “Pode fazer parte da rotina, mas é preciso compreender suas limitações. Olheiras mais profundas exigem abordagem profissional”, diz Patrícia.
Já o vinagre de maçã, frequentemente promovido como solução para acne e manchas, é visto com mais cautela. Seu caráter ácido pode provocar queimaduras, descamações e desequilíbrio do pH da pele. Como alternativa segura, a especialista propõe um ingrediente simples e acessível: a água de coco. Rica em minerais, vitaminas e com efeito hidratante, ela atua como tônico natural e pode ser usada com mais tranquilidade. “É uma solução suave, que respeita a fisiologia da pele”, diz.
Na avaliação da dermaticista, o fenômeno das receitas virais revela tanto o desejo de autonomia quanto a falta de orientação profissional no acesso a cuidados estéticos. “Produtos naturais podem, sim, ser aliados da beleza. Mas é preciso respeitar limites, entender as propriedades e, sobretudo, consultar especialistas antes de aderir a qualquer tendência”, conclui.