Sanção de Trump a Moraes pode virar trunfo da direita em 2026
Possível aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes reforça discurso bolsonarista de perseguição política e pode fortalecer direita nas eleições presidenciais
Bruno Goulart
A declaração do secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, sobre a possibilidade de aplicar sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), é um prato cheio para a extrema-direita nacional inflamar seus discursos nas eleições presidenciais de 2026. O motivo apresentado — alegações de perseguição à oposição e violações de direitos humanos — serve de munição política para o grupo, que desde 2022 tenta resgatar o fôlego eleitoral de Jair Bolsonaro e seus aliados.
A base jurídica das possíveis sanções é a Lei Magnitsky, instrumento da legislação norte-americana que permite ao governo impor penalidades a indivíduos acusados de corrupção ou graves violações de direitos humanos. Na prática, as punições incluem bloqueio de bens, cancelamento de vistos e proibição de entrada nos EUA. Mas, no caso de Moraes, o peso real da medida está menos no aspecto burocrático e mais no simbólico. A extrema-direita brasileira, em especial os aliados de Bolsonaro, rapidamente celebraram a iniciativa como uma “prova” de que suas denúncias de censura e autoritarismo têm eco internacional — ainda que os fundamentos das acusações estejam longe de serem unânimes ou juridicamente sólidos.
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Eduardo Bolsonaro (PL), que se licenciou do cargo de deputado federal para permanecer nos EUA após risco de ter o passaporte apreendido, tem desempenhado um papel ativo nessa articulação. Próximo de figuras como Donald Trump e aliados do Partido Republicano, ele comemorou publicamente o anúncio de Rubio e do deputado Cory Mills, autor das acusações contra Moraes. Sua atuação tem reforçado a ligação entre direita brasileira e o trumpismo norte-americano, num movimento coordenado para reposicionar o bolsonarismo como um movimento perseguido, mas resiliente — boa estratégia para a corrida eleitoral.
“Inimigo da liberdade”
Especialistas apontam que, mesmo que as sanções tenham efeitos limitados em termos legais — sendo decisões administrativas do Executivo norte-americano e reversíveis com a mudança de governo — o impacto político pode ser profundo. Moraes tem sido um dos principais alvos da base bolsonarista, especialmente após liderar investigações contra ataques à democracia e fake news, além de manter decisões duras contra atos antidemocráticos como os de 8 de janeiro de 2023. Ao ser sancionado por um governo estrangeiro, o ministro passa a ser associado, ainda mais fortemente, à ideia de inimigo da “liberdade de expressão” e da “direita cristã e conservadora”, como definem seus críticos.
Esse cenário favorece diretamente a estratégia eleitoral da oposição de extrema-direita para 2026. Ao associar Moraes ao presidente Lula, possível candidato à reeleição, cria-se uma narrativa de que o Judiciário e o Executivo estão unidos para sufocar adversários políticos. A retórica de “ditadura judicial” e “censura” ganha corpo, especialmente entre os eleitores mais polarizados e engajados nas redes sociais.
Fortalecimento da oposição
Além disso, a eventual sanção pode criar ruídos na relação diplomática entre Brasil e Estados Unidos. Caso o governo brasileiro interprete a medida como uma interferência indevida em sua soberania e sistema judicial, o gesto poderá ser usado por Lula para mobilizar apoio nacionalista e reforçar sua defesa institucional. No entanto, em termos de opinião pública, o efeito pode ser dúbio: ao mesmo tempo que incomoda setores democráticos, também fortalece o discurso da oposição sobre um suposto “autoritarismo do sistema”.