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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
Negócios

Déficit global de 3 milhões de motoristas pressiona logística no Centro-Oeste

Mais de 220 mil caminhoneiros devem se aposentar até 2026

Otavio Augustopor Otavio Augusto em 25 de junho de 2025
Logistica colaborativa Eficiencia para motoristas
Goiás ganha destaque como polo logístico, mas sofre com déficit de motoristas

O setor de logística no Brasil, especialmente em estados estratégicos como Goiás, vive um paradoxo: enquanto cresce a demanda por transporte eficiente, esbarra na escassez de motoristas, na elevação dos custos operacionais e na instabilidade do comércio internacional. Com localização privilegiada no Centro-Oeste, Goiás abriga centros de distribuição de grandes varejistas e é peça-chave no escoamento de grãos e produtos industrializados. No entanto, o avanço do setor depende da superação de gargalos históricos e da atração de novos profissionais.

Déficit global de motoristas impacta o Brasil

A falta de mão de obra qualificada no transporte de cargas é um fenômeno global. Segundo dados da União Internacional dos Transportes Rodoviários (IRU), o déficit de caminhoneiros já ultrapassa 3 milhões de vagas no mundo. A projeção é ainda mais alarmante: esse número pode dobrar até 2028. No Brasil, a situação não é diferente. A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) estima que 37% dos caminhoneiros autônomos devem se aposentar até 2026. Isso representa uma perda de mais de 220 mil profissionais da ativa, num universo atual de 615 mil cadastrados no RNTRC.

A idade média dos motoristas autônomos no país é de 46 anos. Sem renovação geracional, a cadeia logística corre o risco de paralisar parte do seu funcionamento. Além disso, os caminhões em circulação têm, em média, 11 anos de uso, o que reforça a necessidade de modernização da frota e de políticas de incentivo à profissão.

Goiás: polo estratégico da logística nacional

Com localização geográfica privilegiada, Goiás se destaca como centro logístico do Centro-Oeste. A cidade de Hidrolândia, por exemplo, é hoje sede de 15 centros de distribuição, sendo um dos principais entroncamentos rodoviários do país, cortada por 26 km da BR-153. A posição estratégica atrai empresas do setor varejista, farmacêutico e de peças agrícolas, com impacto direto no emprego e na renda da região.

O prefeito de Hidrolândia, José Délio, afirma que os CDs da cidade geram cerca de 4 mil empregos diretos e até 7 mil indiretos. “Temos a melhor localização geográfica do estado. Hidrolândia não precisa atravessar Goiânia para chegar a polos como Anápolis. Isso facilita a chegada e a saída de produtos”, destaca.

Insegurança global e alta no custo logístico

As tensões internacionais também afetam o transporte brasileiro. O fechamento do espaço aéreo no Oriente Médio e a ameaça de bloqueio do Estreito de Ormuz elevaram os custos de frete e seguro. A Associação Brasileira de Logística (Abralog) estima que o frete aéreo pode subir entre 15% e 25% nas próximas semanas. No caso do agronegócio, o impacto é ainda maior: o custo do transporte de grãos pode chegar a US$ 500 milhões, com o aumento de US$ 7 por tonelada no frete marítimo.

Em setores como varejo, indústria automotiva e agro, o custo logístico total pode ter alta entre 5% e 12%, segundo estimativas da Abralog. Isso coloca pressão sobre preços finais, margens e competitividade.

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Custo do frete de grãos sobe US$ 500 mi. Foto: Divulgação

Campanhas tentam atrair jovens para o transporte

Diante do cenário de envelhecimento da categoria e da desvalorização profissional, a CarboFlix lançou o movimento “Orgulho de Carregar o Brasil”, que será divulgado no Dia do Caminhoneiro, em 30 de junho. A campanha, idealizada por Thelis Botelho, CEO da CarboFlix, busca resgatar o prestígio da profissão e atrair jovens para o transporte rodoviário de cargas. A ação envolve vídeos, depoimentos, colaborações com influenciadores e o apoio de nomes ligados ao automobilismo.

“Esse movimento nasceu para dar visibilidade ao que muitas vezes passa despercebido: o caminhoneiro está no coração da economia brasileira”, afirma Thelis Botelho. A ideia é reconectar a sociedade com o valor da profissão e pressionar o poder público por melhores condições de trabalho e remuneração.

Inovação e tecnologia transformam a logística

Enquanto lida com escassez de motoristas e infraestrutura precária — segundo a CNT, 67,5% das estradas brasileiras têm problemas de pavimentação ou sinalização — o setor aposta em tecnologia. Sistemas como WMS (gestão de armazéns), ERP com foco em agro e sensores conectados (IoT) ajudam a reduzir perdas, otimizar rotas e rastrear cargas em tempo real.

Tendências como a automação de última milha, uso de veículos elétricos e inteligência artificial para previsão de demanda e roteirização também ganham espaço. A expectativa é que, até o próximo ano, 20% das entregas no Brasil sejam automatizadas, segundo o Fórum Econômico Mundial.

Combinadas, essas soluções apontam para uma nova fase da logística no país: mais conectada, estratégica e sustentável. Mas para que isso aconteça, será preciso enfrentar os desafios estruturais e humanos que ainda travam o setor — e que, sem ação rápida, podem comprometer o futuro da cadeia produtiva nacional.

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