O que é o terror noturno e como lidar com ele
Distúrbio atinge principalmente crianças entre 9 meses e 12 anos e pode assustar famílias, mas tende a desaparecer com o tempo e raramente exige tratamento médico
Choros inconsoláveis, gritos de desespero e movimentos bruscos durante o sono podem parecer cenas de um pesadelo infantil. Mas, em muitos casos, pais e responsáveis estão diante de um fenômeno conhecido como terror noturno. A condição, apesar do nome impactante, é benigna, transitória e não deixa lembranças na manhã seguinte. O problema afeta majoritariamente crianças, especialmente entre os nove meses e os 12 anos de idade, e faz parte de um grupo de distúrbios do sono chamados parassonias.
Durante uma crise, a criança parece acordada, mas não está. Ela pode gritar, chorar, apresentar respiração ofegante, suar, ficar com o rosto vermelho, os músculos enrijecidos e os olhos abertos — sem, no entanto, reconhecer os pais ou responder a qualquer estímulo externo. Esse estado de agitação intensa, que pode durar de trinta segundos a até cinco minutos, ocorre durante o sono profundo, especificamente na fase N3 do sono NREM (sem movimentos rápidos dos olhos), quando o despertar é mais difícil.
De acordo com neurologistas do sono, como Leticia Azevedo Soster, do Hospital Israelita Albert Einstein, e Dalva Lucia Rollemberg, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o terror noturno é resultado de uma ativação incompleta do cérebro, que permanece parcialmente em vigília enquanto o restante do corpo continua dormindo. Essa atividade descoordenada está associada ao processo de amadurecimento neurológico, o que explica sua prevalência na infância.
A origem exata do distúrbio ainda não é completamente compreendida, mas fatores como histórico familiar, estresse emocional, febre, privação de sono e higiene inadequada do sono são conhecidos por aumentar a frequência dos episódios. Em geral, o distúrbio não está ligado a traumas psicológicos nem é sinal de transtornos mentais. Ainda assim, seu impacto na família pode ser grande, especialmente pela intensidade das manifestações e pela sensação de impotência dos adultos ao lidar com um filho em sofrimento — mesmo que ele não se lembre de nada depois.
A principal diferença entre o terror noturno e os pesadelos está no estado de consciência da criança. Nos pesadelos, que ocorrem durante o sono REM (com movimentos oculares rápidos), a criança costuma acordar, lembrar do sonho ruim e buscar conforto com os pais. Já no terror noturno, ela não desperta, mesmo em meio a gritos e agitação. No dia seguinte, não há qualquer lembrança do que aconteceu.
Diante de uma crise, especialistas orientam que os pais não tentem acordar a criança. Isso pode piorar a situação, prolongando o episódio ou causando confusão. O mais indicado é garantir que a criança esteja segura, evitando que se machuque, e aguardar o fim da manifestação. É fundamental que os adultos mantenham a calma e não se desesperem com o que estão presenciando.
Para prevenir novos episódios, a recomendação é manter uma rotina noturna consistente e tranquila. Dormir no mesmo horário, em um ambiente silencioso, escuro e livre de estímulos eletrônicos, contribui para a qualidade do sono infantil. Atividades leves antes de dormir, como leitura ou banho morno, também ajudam. Em alguns casos, quando os episódios ocorrem sempre no mesmo horário, pode ser útil acordar a criança cerca de 15 minutos antes do previsto para interromper o ciclo do terror noturno. Essa estratégia deve ser feita com cuidado e orientação profissional.
Na maioria dos casos, o distúrbio desaparece espontaneamente à medida que o cérebro da criança amadurece. No entanto, quando o terror noturno é muito frequente, interfere na qualidade de vida da família ou está associado a outros problemas de sono, é recomendável procurar ajuda médica. Em situações específicas, o médico pode indicar o uso de medicamentos em baixa dosagem, sempre com prescrição e acompanhamento especializado.
Para os pais, o mais difícil é aceitar que não há muito o que fazer durante a crise, além de estar presente e garantir segurança. O susto é inevitável, mas a informação ajuda a reduzir a angústia. Saber que o terror noturno é um processo natural do desenvolvimento neurológico infantil e que tende a desaparecer com o tempo é fundamental para lidar com ele com mais serenidade.
Aos poucos, o amadurecimento do cérebro da criança elimina essas manifestações noturnas. Enquanto isso, a paciência e o acolhimento dos pais seguem sendo as melhores ferramentas para atravessar a fase. Com acompanhamento adequado e estratégias simples de rotina, o terror noturno pode deixar de ser uma fonte de pânico e se tornar apenas mais uma etapa vencida no crescimento infantil.