Paz que Alcolumbre prega mascara guerra pelo petróleo
Presidente do Senado perdeu as condições de assegurar para o Congresso a sede do debate pela união nacional
Na abertura dos trabalhos deste ano no Congresso Nacional, em 3 de fevereiro, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), arvorou-se de bastião da república e declarou como objetivo para 2025 a pacificação. Como nada conseguiu até agora além de encrencas para todo lado, reafirmou nesta terça-feira 19/8 que continua desejando a união nacional.
Alcolumbre não está sozinho nessa bravata. Quase todos os que fazem da política um ringue se arvora de apóstolos da conciliação. O problema é o outro, o outro procura confusão, o outro sabe estar errado, o outro desrespeita os acordos, o outro é filho da outra, eu mesmo sou uma Madre Tereza de Calcutá e esse meu colega de bancada é o Mahatma Gandhi.
Entre o discurso e a prática há um mar. Literalmente, conforme se verá a seguir – entre aspas o que Alcolumbre disse agora e, em seguida, a análise de cada frase.
Impeachment virou palavrão
“Tenho buscado, dentro da linha tênue do equilíbrio, garantir que todos possam se manifestar, divergir ou convergir dentro do espírito democrático.”
Mais ou menos. Os pedidos de impeachment, por exemplo, não saem da gaveta e tirá-los de lá é atribuição exclusiva do presidente do Senado. A liberdade de manifestação, como se sabe, depende mais de quem interpreta o que o outro disse do que saber o que o outro quis dizer, para usar a técnica dilmista.
Lugar de debater é no parlamento
“Que a gente possa deixar os embates do processo eleitoral para o ano da eleição e se debruçar sobre as agendas que são o princípio das nossas obrigações.”
Está completamente enganado acerca do papel do Parlamento, o local adequado para os embates, inclusive os acerca do processo eleitoral. Se não forem discutidas as no Congresso Nacional, onde se falará de eleições? Na Suprema Corte? As agendas apropriadas para o Senado são as que tratam de fiscalizar e legislar, ambas à margem do calendário da Casa, quando deveriam estar cumprindo o princípio de suas obrigações – exatamente legislar e fiscalizar.
Investir em saúde mental
“Nessas conversas [que diz ter “com representantes das instituições democráticas, do Parlamento, de entidades da sociedade civil, de movimentos sociais e religiosos”], eu percebo também um sentimento generalizado de angústia.”
Finalmente, uma autoridade com alto cargo percebeu que as doenças mentais estão se generalizando. Que sejam investidos no segmento ao menos parte das verbas destinadas a palestras, divulgação e diárias gastas pelo Ministério da Saúde.
Radical, intransigente e ofensiva é a rachadinha
“Angústia diante do radicalismo, da intransigência e das ofensas que ultrapassam os limites do que é coerente.”
O que angustia é a falta de ocorrer o que o presidente do Senado diz estar acontecendo. O que é radical? Mandar para a cadeia durante 14 anos quem picha uma estátua. O que é intransigente? Impedir o internauta de postar o que deseja. Quais ofensas passam dos limites da coerência? O uso indevido de emendas, o adesismo em troca de verbas públicas, a nomeação de assessores que recebem menos de salário mínimo e dão o restante do salário para rachadinha como denunciou a revista “Veja” sobre o próprio Alcolumbre.
O saco de gatos de A a B
“Não estou me referindo ao partido A, ao partido B, nem à ideologia A ou ideologia B.”
Nisso o presidente do Senado tem razão: o que menos interessa ali é partido ou ideologia, pois num saco de gatos o que vale é o tamanho das unhas e das presas.
Divisão multiplica lucros
“Interessa a alguém termos um país dividido?”
Sim, interessa a muita gente e só está dividido porque muitos estão lucrando com isso, sobretudo os que possuem base no Congresso.
Racional é quem come ração
“Todas as lideranças políticas do Brasil estão protagonizando um debate que tem sido muito ruim. Perde-se a racionalidade das coisas.”
Piores são os que nem debatem, afinal, desconhecem o que é razão jurando tê-la.
Só no cemitério há o que deseja
“As famílias estão divididas. A sociedade está dividida. Vejo filho brigando com pai, pai brigando com filho, primo contra primo, avô brigando com neto e neto discutindo com avô.”
O nome disso é convivência. O restante é cemitério.
— ponderou.
Davi reforçou o papel das instituições na preservação do equilíbrio democrático e conclamou para a superação do momento atual com serenidade e espírito coletivo.
— A democracia é uma vitória nossa. Que a gente possa, todos os dias, regá-la e fortalecê-la, para que, a partir dos princípios estabelecidos na Constituição, possamos garantir a autonomia e a independência dos Poderes constituídos no Brasil. E que sejamos capazes de superar esta quadra com muito entusiasmo, na esperança de que o amanhã, o mês que vem, o ano que vem ou as próximas décadas sejam melhores para os 212 milhões de brasileiros que esperam de nós as respostas adequadas.
Margem Equatorial não pode ficar à margem
“Seria muito bom que buscássemos a paz e a compreensão, para que, mesmo nas divergências, pudéssemos respeitar o outro.”
A primeira organização a ser procurada para esse fim é o Ibama, que está travando o que realmente interessa ao país e a Alcolumbre, o petróleo da Margem Equatorial, 2.200 quilômetros de poços, o novo pré-sal. São 30 bilhões de barris, que na cotação de 20/8 custam 20 trilhões e 454 bilhões de dólares. Grande parte dessa fortuna está no Amapá de Alcolumbre. Um Davi maior que qualquer Golias.
Para dar ideia do que significa a Margem Equatorial, todas as riquezas produzidas pelo Brasil em 2024 somaram 2 trilhões e 179 bilhões de dólares – é o que se chama de PIB, o Produto Interno Bruto. Acompanhe um raciocínio:
Cada aluno custa para Harvard 275 mil dólares por ano.
Se colocarmos 100 mil estudantes brasileiros em Harvard em cursos de quatro anos, formaríamos 1 milhão de compatriotas durante 80 anos na melhor universidade do mundo investindo 1 trilhão e meio.
Ainda sobrariam 679 bilhões de dólares para consertar o País.
Eis a paz de que o Brasil precisa.
Porém, tudo isso é sonho, já que as petroleiras vão levar o delas e os políticos destinarão para suas bases (que não estão em Massachusetts, onde está Harvard).
Por enquanto, aguarda-se que o presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre, convença a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a destravar a Margem Equatorial. Senão, nada de dinheiro para Harvard, petroleiras nem políticos