Encontro em Barretos aponta para estratégia da direita sem Bolsonaro
Tarcísio, Caiado e Zema apostam em discursos complementares; especialistas apontam disputa velada com os Bolsonaro e busca por realinhamento ao centro
Como tem se tornado costumeiro, os governadores da direita postulantes a presidenciáveis estiveram juntos no último fim de semana. Desta vez, o palco que Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União Brasil) e Romeu Zema (Novo-MG) dividiram foi o da tradicional Festa do Peão de Barretos, no interior de São Paulo.
Os governadores, que frequentemente têm participado de eventos juntos e transformam os encontros em oportunidades para dar o tom eleitoral da disputa de 2026, desta vez dividiram os discursos. Tarcísio foi quem fez a defesa de praxe do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O governador de São Paulo lembrou da “emoção” que sentiu ao subir no palco da festa pela primeira vez ao lado de Bolsonaro, “que está passando por uma grande injustiça”, segundo o chefe do Executivo paulista. “Se a humilhação traz tristeza, o tempo vai trazer a justiça e eu tenho certeza que a justiça chegará”, comentou Tarcísio sobre a situação do ex-presidente.
Zema foi o porta-voz da defesa do agronegócio. Em ambiente propício, o governador de Minas Gerais citou que, em 2024, pela primeira vez na história, as exportações do agronegócio superaram a mineração no Estado — ao acenar eleitoralmente para um dos segmentos mais fiéis ao bolsonarismo.
Já Caiado adotou o discurso eleitoral em prol da frente ampla da direita. “Nós temos aqui um pacto entre nós. Todos os governadores são governadores experientes. Aquele que chega lá vai saber, com a competência que tem, botar ordem no Brasil. Não tenha dúvida disso”, afirmou o governador goiano. “É isso que nós temos. Todo mundo sai agora, mas de segundo turno está todo mundo junto, unido, para nós darmos rumo e devolvermos o Brasil para os brasileiros de bem”, concluiu Caiado.
Frente de governadores
Para o especialista em marketing político pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Luiz Carlos Fernandes, os governadores perceberam que o ex-presidente não será candidato e, simultaneamente, Bolsonaro “não vai jogar a toalha” e está disposto a “chutar qualquer um que se atreva a tentar ocupar seu lugar como o representante da direita”. Fernandes citou que os ataques recentes do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) são indícios desse cenário. “Os três juntos podem ao menos pulverizar o ataque e fazer uma frente de governadores”, avaliou o especialista.
Além disso, Fernandes citou que o momento atual, em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retoma a popularidade aos poucos, tornou o páreo difícil para qualquer um dos governadores. Dessa forma, “talvez acreditem que precisam seguir em três frentes e todos se comprometem a apoiar o que sobreviver e tiver maior viabilidade eleitoral”, destacou.
Realinhamento
O sociólogo João Carvalho avalia que, após os ataques dos filhos do ex-presidente, os governadores tiveram um realinhamento. Para Carvalho, o recuo de Tarcísio, ao se colocar como candidato à reeleição de São Paulo, e a baixa aceitação de Zema e Caiado nas pesquisas colocam um impasse na direita.
“Nós estamos caminhando para um racha dentro da direita, em que a família Bolsonaro não aceita outro candidato que não seja do clã. Os governadores que hoje estão buscando uma unidade, estão buscando uma possibilidade de se deslocar da extrema direita e caminhar mais para a centro-direita. Nesse caso, esse realinhamento é uma estratégia para que, no segundo turno, todos os candidatos de direita, que hoje são pré-candidatos, possam se unificar na tentativa de somar para vencer o presidente Lula”, analisou o sociólogo. (Especial para O HOJE)