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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Câmara dos Deputados

Isenção do IR deixa de ser pauta com aceitação ampla

Desentendimentos entre deputados ainda permanecem, apesar do esforço de Motta em evitar atritos

Marina Moreirapor Marina Moreira em 28 de agosto de 2025
6 abre Foto Michel Jesus Camara dos Deputados
Créditos: Michel Jesus/Câmara dos Deputados

Uma das pautas que mais prometem dar destaque positivo ao governo Lula é o projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e que reduz progressivamente a alíquota para rendas de até R$ 7.350. O texto tramita com caráter de urgência na Câmara dos Deputados e pode ser votado ainda nesta semana. O objetivo é que a medida seja implementada no próximo ano e passe a taxar super-ricos com o intuito de promover justiça social, a partir da noção de que quem ganha pouco não deve pagar imposto, o que transfere essa função para quem possui maior poder aquisitivo. 

Nesse caso, o governo propõe taxar rendas superiores a R$ 600 mil anuais com uma tributação mínima de 10%. Segundo o Ministério da Fazenda, a medida atingirá apenas 0,13% dos contribuintes, que hoje pagam, em média, 2,54% de Imposto de Renda e renderia cerca de R$ 34 bilhões aos cofres públicos para cobrir os R$ 25,8 bilhões perdidos com as novas regras de isenção. Para a economista Adriana Pereira, a taxação é uma decisão acertada, mas apenas isso não basta para resolver o problema.

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“O governo propõe compensar a medida com uma alíquota mínima de 10% sobre rendas anuais acima de R$ 600 mil. Trata-se de um passo correto e necessário: o Brasil convive com um sistema tributário regressivo, em que os pobres pagam proporcionalmente mais que os ricos. Ao tributar os que concentram a renda, o País corrige uma distorção histórica”, pontua. 

Pereira ressalta que é preciso ir além. “No entanto, apenas a taxação dos super-ricos não basta. Embora justa, sua base é muito estreita para financiar integralmente a renúncia fiscal que viria com a isenção até R$ 5 mil. É preciso tributar lucros e dividendos, rever benefícios setoriais ineficientes, ampliar a cobrança sobre grandes patrimônios e combater a financeirização da renda que escapa à tributação”, explica a economista, que é doutora em Políticas Públicas.

O tema ganhou imensa visibilidade, pois muitas são as pessoas de baixa renda que pagam imposto de renda, o que abarca uma parcela considerável da sociedade a favor do projeto. Do ponto de vista político, a medida pode ser algo que escancara a diferença dos pontos defendidos pela base e pela oposição, que deseja retirar um ponto essencial do projeto que é a taxação dos super ricos. 

Discordâncias

A exigência foi feita ao considerar que é possível aplicar a medida sem, necessariamente, taxar quem possui renda considerada alta. Em contrapartida, a oposição e até mesmo membros do Centrão propõem que o governo corte gastos, ao invés de optar pela taxação. 

“Nós somos totalmente favoráveis que isso aconteça [a isenção do Imposto de Renda], inclusive acho que deveria ser mais: entre R$ 7,5 mil e R$ 10 mil”, afirma o deputado Gilson Marques (Novo-SC). “Nós aprovamos e votamos sim à isenção do IR. Por que digo isso? Porque não concordamos com a compensação. A compensação apenas altera a vítima tributária”, afirmou. 

Já a deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP) não vê progresso em ser contrário à taxação dos super-ricos. “Eu acredito que essa ameaça de não prever a compensação no projeto do imposto de renda seja parte das chantagens que o centrão vem fazendo com o governo para que não avance qualquer matéria de caráter progressivo. E não é coincidência que essas chantagens apareçam justo no momento em que o ministro Flávio Dino implica novo bloqueio em emendas parlamentares. É como parte dos parlamentares sabe agir”, avalia a deputada. 

Reta final

Diante das discordâncias entre os parlamentares em torno da pauta, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), diz que a nomeação de Arthur Lira (Progressistas-AL) como relator do projeto é algo que pode auxiliar na concordância entre base e oposição. 

“A escolha do [ex] presidente Lira [como relator] demonstra que colocamos alguém com interlocução com a Casa e que dialoga bem com os partidos da base aliada e da oposição. Os trabalhos cumpriram os requisitos do debate e a aprovação por unanimidade demonstra que o trabalho foi bem feito”, afirmou Motta. 

De acordo com o presidente da Câmara, há a possibilidade de alguns parlamentares ainda quererem alterar algo no projeto. Assim, Motta ressalta a responsabilidade que os deputados devem ter com o projeto. “Claro que teremos emendas e destaques que queiram mudar algo, mas, pela construção feita, entendo que o texto da comissão possa vir a ser mantido. Temos que aguardar, a política é dinâmica, é uma Casa plural, mas vamos enfrentar os destaques e as iniciativas para aumentar a bondade do pacote, mas a Câmara vai ter responsabilidade”, defendeu o presidente. (Especial para O HOJE)

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