Inclusão no ensino superior: desafios e conquistas para estudantes com deficiência
Apesar de 18,6 milhões de brasileiros possuírem algum tipo de deficiência, apenas 7 em cada 1.000 matrículas em cursos de graduação no país
Em meio a grandes discussões sobre inclusão de pessoas atípicas ou com deficiência em escolas e espaços públicos, o foco costuma se concentrar na primeira infância e na alfabetização. No entanto, a inclusão no ensino superior e no mercado de trabalho ainda recebe pouca atenção.
Vestibular, aulas, provas, trabalhos e interações sociais fazem parte da experiência universitária, mas a falta de acessibilidade impede que muitas pessoas vivenciem plenamente esses momentos.
Segundo o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), 18,6 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência. Ainda assim, a maioria das instituições acadêmicas não estão preparadas para receber esse público, evidenciando a lacuna de acessibilidade no ensino superior.
Felizmente, algumas universidades estão mudando essa realidade, adotando políticas inclusivas e seguindo as medidas do Ministério da Educação (MEC), como o “Programa Incluir”, que prevê adequações arquitetônicas, aquisição de materiais didáticos acessíveis e capacitação de professores e servidores para atender estudantes com deficiência.
A acessibilidade no ensino superior é essencial para garantir que todas as pessoas, independentemente de suas deficiências, possam participar ativamente da vida acadêmica. Estudos, como o livro Educação Inclusiva, Deficiência e Contexto Social: Questões Contemporâneas, mostram que o sucesso acadêmico depende de recursos e apoio institucionais.
Contudo, a realidade ainda é desafiadora. Em 2021, apenas 7 em cada 1.000 matrículas em cursos de graduação eram de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades, correspondendo a 63,4 mil alunos em um universo de quase 9 milhões. Além disso, apenas 7% concluíram a graduação, com mulheres ligeiramente à frente, 7,4%, e homens com 6,6%.
O MEC reforça, por meio da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), que a educação é direito de todos e que as universidades devem garantir acessibilidade em todos os níveis. Isso inclui desde os prédios e laboratórios até materiais digitais e comunicação adequada para surdos, cegos e pessoas com dificuldades cognitivas.
Ferramentas como leitores de tela, lupas eletrônicas e tradutores automáticos de Libras, como o Hand Talk Plugin, têm se mostrado essenciais para garantir igualdade de acesso. A tecnologia não apenas facilita a aprendizagem, como também integra as universidades à transformação digital inclusiva.
João Vitor de Paiva: Exemplo de Inclusão e Superação
O exemplo de João Vitor de Paiva ilustra os avanços e desafios da inclusão. Na última quinta-feira, 28 de agosto, ele se tornou o primeiro aluno com síndrome de Down a se formar em Educação Física na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Jovem influenciador, palestrante e ativista, João Vitor utiliza suas plataformas para reforçar a importância da inclusão, diversidade e empoderamento.
Em entrevista ao jornal O HOJE, ele compartilhou os desafios enfrentados na graduação. Segundo João, o acolhimento da universidade, professores e colegas foi fundamental para que ele superasse obstáculos. “Ser tratado como uma pessoa capaz, com possibilidades além das dificuldades, fez toda a diferença”, afirmou.
Ele destaca que, mesmo com barreiras físicas, atitudinais e comunicacionais, é possível ter uma experiência acadêmica plena quando as instituições oferecem apoio e respeito.
Paiva também enfatiza a importância de inspirar outros estudantes. “É fundamental abrir portas e mostrar que todos podem realizar seus sonhos”, disse. Ele lembra que sua experiência como influenciador e palestrante reforçou sua confiança, ajudando-o a enfrentar desafios acadêmicos e sociais.
O jovem acredita que, apesar dos avanços, ainda é necessário investir em acessibilidade, capacitação docente e conscientização para garantir uma inclusão verdadeira no ensino superior.
Mesmo com a Lei de Cotas garantindo percentuais de vagas para pessoas com deficiência (PcD), a taxa de emprego formal para este público ainda é baixa. Dados mostram que apenas 46,2% das PcD em idade de trabalhar estão inseridas no mercado formal, e muitos enfrentam barreiras urbanísticas, arquitetônicas e atitudinais.
A escolaridade não garante automaticamente inclusão no mercado de trabalho, evidenciando que educação inclusiva deve caminhar lado a lado com políticas de emprego e acessibilidade.
Ferramentas como o Hand Talk Plugin e iniciativas de capacitação continuam sendo fundamentais para reduzir desigualdades e promover oportunidades reais. A trajetória de João Vitor evidencia que, quando instituições acolhem e oferecem recursos adequados, estudantes com deficiência podem não apenas concluir seus cursos, mas também se tornar líderes, influenciadores e exemplos de transformação social.
A formatura do jovem, portanto, não é apenas um marco pessoal, mas um símbolo do potencial da educação inclusiva, demonstrando que com políticas adequadas, tecnologia assistiva e apoio institucional, a universidade pode ser um espaço de oportunidades iguais para todos.
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