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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Estratégia de Bruno para ser campeão de votos derrota atuais deputados 

Bases sólidas de estaduais serão pulverizadas com tática de lançar vereadores à Assembleia, cujo presidente vai ter mais de 200 mil votos sem precisar disso

Nilson Gomespor Nilson Gomes em 16 de setembro de 2025
Foto:Maykon Cardoso/ Alego
Foto:Maykon Cardoso/ Alego

O mais votado a deputado estadual nas eleições de 2022 em Bela Vista de Goiás, na Região Metropolitana, foi o vereador Arthur Fernandes, então no PDT. Teve 2.314 votos, superando os 2.127 do representante do município na Assembleia, Jamil Calife, colega de PP da prefeita Nárcia Kelly, que o apoiava e hoje é secretária de Turismo de Goiânia. Arthur derrotou igualmente Amauri Ribeiro (1.073), da vizinha Piracanjuba e defensor dos tiradores de leite, grande base da economia da região. Ficou à frente também de Henrique César (780 votos), pastor assembleiano parente do substituto de Nárcia na prefeitura, Eurípedes do Carmo. Arthur é filho de Bela Vista. No restante do Estado, tirou 568 votos. Esse efeito é natural, pois o eleitor gosta de ver seus conterrâneos encarando os grandões. A síndrome de Peter Pan ao contrário faz com que os parlamentares com mandato estadual sempre percam para o político da cidade.

É tradição em Bela Vista ter concorrentes locais. Na eleição anterior, outro conterrâneo, Donizete Cabrito obteve 1.824, com a mesma tática: a candidata da prefeita, Eliane Pinheiro, teve 1.503; Amauri, 1.424; Henrique, 733. Agora, alguém da equipe do presidente da Assembleia, Bruno Peixoto, teve a grande ideia de vampirizar essa experiência. Bruno é pré-candidato a deputado federal, sabe que a briga é de onça grande porque as emendas de Brasília fazem as estaduais parecerem troco. E precisa de estratégia. Uma delas é convencer ao menos um vereador de sua base em cada cidade a sair a deputado estadual. Pode até não conseguir mandato, e dificilmente ocorrem zebras assim, mas vai dar substancial ajuda a seu líder.

Nos bastidores da Assembleia, comenta-se que a meta de Bruno é superar os 274.406 votos de Delegado Waldir em 2018 e, portanto, os 254.653 de Silvye Alves, a nº 1 de 2022. Como não se pode contar com omelete dentro da galinha poedeira, imaginou-se que ex-prefeitos e vereadores atuais renderão dobradinhas bem nutritivas e saborosas. Porém, antes de o galo cantar três vezes, alguém lembrou da palavra traição, pois os apoiadores de Bruno o têm em conta de um jardineiro fiel: sem as lideranças municipais batendo de porta em porta pedindo ajuda nas urnas, os atuais componentes da Assembleia podem ser alijados – no mínimo, ficarão sem o controle das rédeas das posições em cada lugarejo. O plano deixaria Bruno campeão e seus colegas em apuros.

A reportagem conversou com três deputados estaduais no fim de semana e com dois no início da noite de ontem. Nem toda unanimidade é burra, como o próprio Nelson Rodrigues diria se morasse hoje em Goianira, que tem o maior quadro de Van Gogh no mundo, e fica bem ali, a 15km de Goiânia, na beira de GO-070: todos os cinco estão com síndrome do pânico e não é aquele das panicats. Os legisladores são gratos a Bruno pelos cargos e as verbas que o presidente conseguiu no Executivo e na Assembleia, mas lamentam que vá tirar de uma vez o que passou 32 meses distribuindo aos poucos. Um pensador florentino traçou esse modo de atuação, o nome dele é Nicolau Maquiavel, no livro “O Príncipe”, praticar o bem aos poucos e o mal de uma tacada só. Poft!

Os colegas afirmam que “Bruno não precisa disso”, pois “vai ter uma votação consagradora” se continuar contando com a ajuda dos colegas do atual time da Assembleia. Nenhum deles acredita que o presidente do Poder se mantenha firme recrutando candidatos entre ex-prefeitos e vereadores de suas vitaminadas bases. Clamam até pela “compaixão”, que seria sua marca registrada. 

Ah, o que aconteceu a Arthur, citado no início do texto? Está advogando e, em 2024, depois de tentar fazer aliança para se candidatar a prefeito, se reelegeu vereador com 488 votos.

Prefeitos e primeiras-damas engrossam exército

Entre cargos comissionados no Legislativo e no Executivo de Goiás, funções gratificadas, empregados terceirizados e prestadores de serviço, são 10 mil os empregados a serviço de Bruno Peixoto, mesmo número dos de livre nomeação de Ronaldo Caiado. Esse exército foi testado em 2022 e aprovado: Bruno ganhou a medalha de ouro com 73.692. Para dar ideia de quão magnífica é essa quantidade de votos, na eleição anterior o alto do pódio havia sido de Henrique César, com 46.545. Em 2024, ocorreu a mágica para no mínimo quadruplicar o resultado e Bruno saiu das eleições municipais com cem prefeitos. Desde então, obteve dezenas de adesões e diz-se que seu cacife só tem rival à altura no governador Ronaldo Caiado, pois o vice, Daniel Vilela, perderia para o presidente da Assembleia até dentro do MDB. 

Além de seus colegas deputados e diretores da Assembleia, o grosso da tropa de Bruno são os batalhões de prefeitos atuais e ex, primeiras-damas de agora e de mandatos passados, secretários municipais e vereadores, muitos vereadores, centenas de vereadores, várias centenas de vereadores. Bom de política, ótimo de campanha e excelente de conversa no pé da orelha, Bruno precisa ser orientado a cumprir a legislação, pois autoridades do interior adoram entrar com ação por abuso do poder político e econômico.

A nova seara do presidente da Assembleia são as mídias sociais estreladas por ele mesmo. Seus vídeos, feitos para bombar no TikTok, têm um desassombrado ator de meia-idade enfrentando os roteiros mais controversos. Não há notícia de nenhum antecessor seu como chefe do Poder Legislativo atuando em frente às câmeras com tanta desenvoltura. É preciso esperar os efeitos nas urnas que essas aparições podem render. Naturalíssimo que rendam fofoca generalizada, elogios dos assessores, críticas de adversários, mas não se pode esconder que o homem tem coragem.

Contra Bruno pesa o passado de seu cargo. Nos últimos tempos, nenhum presidente da Assembleia vingou. Nenhum virou senador. Nenhum chegou a governador ou vice. Sem contar os interinos, nem a deputado federal, como quer Bruno, seus antecessores chegam. Samuel Almeida coleciona insucessos. Hélio de Sousa tentou alcançar a Câmara dos Deputados e perdeu. Hélder Valim e Sebastião Tejota foram para o Tribunal de Contas do Estado. José Vitti saiu, voltou, perdeu em Palmeiras e está sem cargo desde que deixou o secretariado de Ronaldo Caiado. Jardel Sebba, no sereno, coleciona derrotas em Catalão e acabou lançando o filho, Gustavo Sebba. Lissauer Vieira era tido como candidato a senador e vice-governador de Caiado em 2022, nada disso aconteceu, viu seu guru Henrique Meirelles desistir da volta a Goiás e obteve uma derrota avassaladora para prefeito de Rio Verde no ano passado. Pode ser que tenha faltado a esses presidentes uma câmera na mão e uma ideia na cabeça.

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