O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
SAÚDE

Sepse mata 136 crianças goianas em dois anos e traz alerta para risco silencioso

A infecção pode atingir qualquer pessoa, mas alguns grupos estão mais vulneráveis, como recém-nascidos, crianças idosos e grávidas

Caroline Gonçalvespor Caroline Gonçalves em 23 de setembro de 2025
11 abre Marco Monteiro
Higiene e vacinação são as principais recomendações para proteger os pequenos Foto: Marco Monteiro

Pouco conhecida por grande parte da população segundo o Ministério da Saúde, a sepse, também chamada de  infecção generalizada, é uma condição grave que surge como resposta descontrolada do organismo a uma infecção. Quando isso acontece, o corpo libera substâncias que, em vez de ajudar, acabam provocando uma inflamação generalizada. Isso compromete o funcionamento dos órgãos e, em casos mais sérios, pode levar à morte em poucas horas.

A doença pode ser desencadeada por infecções simples, como uma pneumonia, uma infecção urinária ou mesmo uma lesão na pele. Mas o problema está na forma como o corpo reage. Em vez de combater apenas o foco da infecção, o sistema imunológico ataca o próprio organismo, afetando coração, rins, fígado e outros órgãos vitais.

Em Goiás, os números revelam a gravidade do cenário. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), foram registradas 91 mortes de bebês e crianças de até 12 anos por sepse em 2024. Neste ano, até o momento, já são 45 óbitos pela mesma causa, totalizando 136 mortes infantis em dois anos. Os dados são do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, e ainda podem passar por atualizações.

Além das mortes, os registros de internações também chamam atenção: 374 crianças foram internadas em hospitais estaduais em 2024 com diagnóstico de sepse. Em 2025, até o momento, são 183 internações em unidades sob gestão estadual.

A infecção pode atingir qualquer pessoa, mas alguns grupos estão mais vulneráveis, como recém-nascidos, crianças pequenas, idosos, grávidas, pacientes com doenças crônicas (como diabetes, insuficiência renal ou cardíaca), imunossuprimidos (como pessoas com Aids ou em tratamento contra o câncer), transplantados, usuários frequentes de antibióticos, além de pacientes hospitalizados com uso de sondas, cateteres ou ventilação mecânica.

O pediatra Tiago Dalcin, membro da Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente, alerta que é preciso atenção com qualquer infecção em crianças. Segundo ele, a sepse pode ter várias origens. “Existem vários tipos de infecções que podem causar sepse em crianças: como doenças respiratórias, infecções urinárias, meningite, até uma infecção de pele pode evoluir para sepse”, explica.

Ele reforça que o principal risco da doença está na  letalidade. “O grande perigo é que ela está associada a maior mortalidade. Cerca de 20% das crianças com sepse morrem, isso significa que 1 a cada 5 crianças com sepse não sobrevive”, alerta o médico.

Reconhecer os sinais iniciais pode salvar vidas. De acordo com Dalcin, os pais devem observar mudanças no comportamento da criança durante quadros de infecção.

“Os principais sinais e sintomas que os pais devem ficar atentos, eu diria, têm a ver com o estado geral da criança. Uma criança que está muito prostrada, eventualmente sonolenta, associada a um quadro de infecção, deve ser avaliada o mais rápido possível por um profissional de saúde. Muito importante deixar claro que, felizmente, a maioria dos quadros infecciosos não evolui para a sepsis, mas alguns sim acabam evoluindo e, quando evoluem, a gente sabe que tem um risco maior de morte”, afirma.

Em caso de suspeita, a recomendação é agir rápido. “A primeira coisa a fazer numa desconfiança de que pode ser sepse é procurar imediatamente o serviço de saúde mais próximo. E a grande questão da importância do diagnóstico de sepsis cedo é que quanto mais cedo a gente conseguir diagnosticar sepsis, mais cedo a gente vai conseguir fazer uma intervenção”, orienta.

A prevenção da sepse, segundo o especialista, está ligada ao controle de infecções em geral. Higiene e vacinação são as principais recomendações para proteger os pequenos. “A grande prevenção da sepsis, na realidade, acaba sendo a prevenção das infecções que podem evoluir com a sepsis. A gente enfatiza há bastante tempo medidas fundamentais como a higiene de mãos, medidas fundamentais como a imunização. A gente tem novas vacinas, cada vez mais o calendário vacinal brasileiro está mais completo. E a gente sabe que as vacinas funcionam bastante para a gente poder fazer esse tratamento, essa prevenção.”, afirma.

Segundo a superintendente de Políticas e Atenção Integral à Saúde da SES/GO, Amanda Melo, os profissionais de saúde fazem treinamentos com frequência para criar um protocolo padronizado de atendimento. ” Nós, com frequência fazemos treinamentos com os profissionais, e nesse momento nós estamos com um projeto chamado IHR, que é Integração Hospitalar em Rede. E a partir disso, com parceria do Instituto IHI e também Einstein, a gente vem fazendo capacitações e treinamentos dentro das nossas unidades de saúde, nos nossos hospitais estaduais, para que eles tenham os protocolos padronizados”, afirmou

Em relação a estrutura dos hospitais, Amanda ressaltou que o Estado possui leitos de UTI pediátricas suficientes e preparadas para receber esses pacientes. ” A gente faz muitas visitas, além dos nossos hospitais estaduais, nós temos alguns planos de fortalecimento, , que nós cofinanciamos também alguns leitos de UTIs pediátricas. Em quantidade nós temos um quantitativo suficiente para atendimento das crianças”, comentou. 

Diante dos números crescentes e da falta de conhecimento sobre a sepse, em 2024 foi lançada a Agenda Global para a Sepse. A iniciativa tem metas a serem cumpridas até 2030 e é apoiada por mais de 70 organizações internacionais. Ela se baseia em cinco pilares: liderança política com planos nacionais, preparação dos sistemas de saúde para atendimento, mobilização social com campanhas educativas, incentivo à pesquisa e inclusão do tema em políticas públicas.

A sepse é uma emergência médica e precisa ser tratada como tal. O diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento são determinantes para a sobrevivência. Ao menor sinal de agravamento em um quadro infeccioso, principalmente em crianças, é essencial buscar atendimento médico. Quanto antes a sepse for identificada, maiores são as chances de recuperação.

Siga o Canal do Jornal O Hoje e receba as principais notícias do dia direto no seu WhatsApp! Canal do Jornal O Hoje.
Veja também