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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Análise

Aprovação de Lula e otimismo econômico melhoram — mas crescimento é insustentável, avalia economista

Pesquisas apontam melhora no humor do eleitorado e na percepção da economia, mas Greice Fernandes alerta para inflação elevada, juros mantidos e risco de bolha

Bruno Goulartpor Bruno Goulart em 1 de outubro de 2025
Aprovação de Lula e otimismo econômico melhoram — mas crescimento é insustentável, avalia economista
Aprovação de Lula cresce e encontro com Trump pode acontecer ainda nesta semana. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Bruno Goulart

As últimas pesquisas do Ipespe revelaram uma guinada simultânea na percepção da população sobre o governo Lula (PT) e sobre a economia brasileira. A aprovação do presidente cresceu sete pontos e alcançou 50%, superando pela primeira vez a desaprovação, que recuou para 48%. Ao mesmo tempo, o otimismo com os rumos econômicos aumentou de 37% para 40%, enquanto a visão negativa caiu de 58% para 54%.

A leitura dos números sugere que a imagem do presidente e a avaliação da economia caminham de mãos dadas. Mas, segundo a economista Greice Fernandes, ouvida pelo O HOJE, a explicação não está em fundamentos sólidos, e sim em estímulos temporários e conjunturas externas.

“A economia brasileira realmente está aquecida, mas nós precisamos observar que isso acontece devido às políticas sociais do governo Lula. Os programas sociais jogam dinheiro na economia, e no momento em que o dinheiro circula, há uma tendência de crescimento, de aquecimento. Só que não é um crescimento sustentável, porque aumenta o consumo, gera inflação e mantém a Selic em 15%”, afirmou a especialista.

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De acordo com a pesquisa, a percepção de que a economia cresce (38%) já supera a visão de retrocesso (36%). O otimismo é maior entre os mais pobres (40%) e os mais ricos (43%), enquanto a classe média permanece mais crítica, com 56% avaliando a economia negativamente.

Trump: o maior cabo eleitoral do Lula

Na avaliação de Fernandes, o salto de popularidade de Lula também foi alimentado por fatores externos, como o “tarifaço” de Donald Trump sobre as exportações brasileiras:

“A popularidade do presidente Lula aumentou nos últimos dias por causa do tarifaço do Trump em relação ao Brasil. Eu costumo dizer que o Trump foi o maior cabo eleitoral do Lula. Como ele foi muito duro com o Brasil, Lula reagiu dizendo que a soberania é dos brasileiros. Isso melhorou a percepção do governo junto à população”, explicou.

Apesar disso, a economista vê sinais de atenção. A inflação continua acima da meta e corrói o poder de compra, especialmente dos mais pobres. O Banco Central tem mantido os juros em 15% e, na última reunião do Copom, adotou um tom considerado “duríssimo”. Fernandes reforça que não há espaço para cortes neste ano:

“Na última reunião de setembro, o Copom manteve a Selic e reforçou que, pelo menos até o fim do ano, não há possibilidade de corte. Isso inibe o consumo das famílias e também o setor produtivo, porque encarece o crédito”, analisou.

Qualidade do crescimento

Outro ponto que preocupa é a qualidade do crescimento. Segundo ela, a expansão atual está associada ao aumento da informalidade, ao endividamento das famílias e à cautela dos bancos em conceder crédito.

“Na verdade, não é que a economia cresceu. Tem dinheiro circulando, mas nós temos inflação corroendo o poder de compra e a inadimplência aumentando. Não é aquele crescimento sustentável das empresas, que gera emprego, renda e arrecadação. Isso pode formar uma bolha econômica”, avaliou.

Fernandes também destacou o peso do déficit fiscal, que segue em alta. Para ela, o aumento dos gastos sociais, sem contrapartida em cortes, reforça um quadro preocupante:

“Nosso déficit fiscal só aumenta. O governo não reduziu gastos, pelo contrário, só vem aumentando. Quanto maior o déficit, maior será a inflação, a tributação e a taxa de juros. Isso repercute de forma negativa, reduzindo o poder aquisitivo da população e retraindo o setor produtivo”, afirmou.

Assim, mesmo com o avanço da aprovação presidencial e o maior otimismo sobre a economia, o diagnóstico é de que a melhora se apoia em bases frágeis. “Hoje temos uma percepção positiva, mas é uma ilusão. Não é aquela economia que cresce com inflação em queda, juros caindo e empresas se expandindo. É uma economia irrigada por estímulos, mas sem sustentação para durar muito tempo”, concluiu a economista.

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