Goiás está se lixando para eleição e Goiânia menos ainda
Pesquisa Grupom mostra que o eleitor está distante da eleição e não tem nenhum envolvimento com os pré-candidatos, a não ser os aliados de ocasião e os “profissionais do poder”
O instituto Grupom, que conquistou credibilidade pelos acertos nos resultados ao longo de décadas, divulgou em 30/10 o resultado de três pesquisas realizadas de abril a setembro deste ano. São verdadeiras pauladas na moleira dos ingênuos que supõem existir envolvimento popular nas pré-campanhas de governador. As cartelas enfocavam três dos principais candidatos — o vice-governador Daniel Vilela (MDB), o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) e o senador Wilder Morais (PL) —, faltou apenas a deputada federal Adriana Accorsi (PT).
Quem milita na imprensa, em partidos ou órgãos públicos nutre a ilusão de que pessoas comuns se interessam em massa por eleições — porém, na média, 70% decidem o voto para deputado horas antes de irem às urnas. Os 2.483 entrevistados pelo Grupom em 125 cidades deram uma banana de fritar para os pré-candidatos. “A maioria da população afirma não ter visto, até o momento, qualquer notícia sobre os principais nomes cotados para a disputa”, diz Mario Rodrigues Neto, com doutorado no assunto e CEO do Grupom. Para Neto, um total de zero por cento se surpreende com tamanho alheamento se o sujeito “acompanha o comportamento do eleitor médio”.
VIRGÍNIA E VINI JR. VOTARIAM EM VOCÊS?
Em Goiânia, então, tem mais gente interessada em saber como será o filho do casal Vi-Vi, Vini Jr & Virgínia, que na rotina de DMW, Daniel, Marconi & Wilder. Espantosos 82,4% dos eleitores da Capital nada ouviram, leram ou viram acerca de Wilder, 72,2% sobre Daniel e 44,4% a respeito de Marconi em 2025. Em plena era da inteligência artificial, continua valendo o velho deitado: “Falem bem ou mal, mas falem desses três esquecidos”.
Em Anápolis, o estrago também é grande: MDW são ignorados respectivamente por 31,8% 58,9% e 75,3%.
Aparecida: M 31,7%, D 49,5% e W 69,9%.
Entorno de Brasília: M 33,1%, D 46,9% e W 63,8%.
Não importa o conteúdo da notícia, se favorável ou contrário, mas alguém precisa debater no mínimo o nome do pretendente ao Palácio das Esmeraldas, sede do Governo de Goiás. Por isso, as cidades de portes pequeno e médio se dedicam mais a conversar sobre o assunto, geralmente em redes sociais e centrais de fofocas como o WhatsApp: M 34,2%, D 48,1% e W 66,7%.
CAIADO OPINOU SOBRE OPERAÇÃO NO RJ; O TRIO, NÃO
Como alguém quer ser governador se seu pretenso roteiro rumo ao poder não desperta o interesse dos governados? Um dos motivos pode ser a falta de propostas, pois os três as ignoram. Por exemplo: após a operação nas favelas do Rio de Janeiro, na última semana, o único político relevante de Goiás a emitir opinião significativa sobre o caso foi o governador Ronaldo Caiado (UB).
Qual dos três, estando no cargo, apoiaria e ofereceria ajuda ao governador do Rio de Janeiro? Foi o que Caiado fez de imediato, deixando a eficaz Polícia Militar de Goiás à disposição. A Rotam subindo os morros não faria feio e o Bope de Goiás é no nível do que foi treinado pelo Capitão Nascimento nos filmes “Tropa de Elite” 1 e 2.
Não há o que alguém possa fazer pelos pré-candidatos mais que eles próprios. Nem reclamar do pouco acesso à mente do eleitor ou que os levantamentos teriam outros números: “A pesquisa possui margem de erro de dois pontos percentuais, dentro do rigor metodológico habitual da Grupom”, fulmina Mario Neto. É aceitar e trabalhar para mudar.
O trio DMW tem níveis díspares de conhecimento. Pesquisas já mostraram que mais de 90% dos goianos conhecem Marconi. Wilder e Daniel não chegam a 1/3 disso. Tudo aí é bom e ruim. O bom de serem desconhecidos é que Daniel e Wilder podem juntar mais gente à medida que se mostrarem no Estado. O ruim para a dupla está em duas assertivas que dependem unicamente deles: 1ª) o eleitor conhecê-los e gostar; 2ª) comer pé de cachorro e capar o gato, ou seja, barriga cheia, pé na areia, circular o tempo inteiro, nada de preguiça ou desculpa (nenhum animal foi maltratado durante a confecção deste texto).
Chance de Daniel é Caiado imitar caso Alcides
Em 2006, a possibilidade de o vice-governador Alcides Rodrigues (PP), conhecido como Cidinho, vencer as eleições dependia de Marconi Perillo. O Tribunal Superior Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal entendiam que as alianças partidárias eram verticalizadas, o acordo que fizessem para presidente da República valia para os Estados. O PSDB de Marconi estava fechado com o DEM do senador Demóstenes Torres e do deputado federal Ronaldo Caiado. Então, Marconi teria de apoiar a candidatura de Demóstenes a governador, não Cidinho, pois o PP estava com o PT de Lula, que tentaria a reeleição.

A salvação de Cidinho foi a bancada nordestina ter pressionado em Brasília e os tribunais mudarem de opinião. Assim, Demóstenes ficou isolado e Marconi pôde apoiar Cidinho. Mudou tudo: Demóstenes rivalizava com Maguito Vilela (MDB) na liderança das pesquisas. Como Marconi entrou de sola na campanha, tirou prefeitos e partidos da chapa de Demóstenes, quase não sobraram candidatos a deputado — Caiado ficou a um triz de perder a reeleição, mesmo sendo um dos campeões de votos para a Câmara, porque Marconi levou quase todos os candidatos a deputado federal (Jorge Kajuru ficou sozinho e perdeu, mesmo bem votado).
Cidinho largou o apelido e ficou chamado pelo nome. Alcides? Não: Marconi. Nas musiquinhas, no material gráfico e no Horário Eleitoral (três coisas de ponta na época e hoje retrógradas), o candidato a governador era Marconi. Repetiam-se as campanhas de 1998 e 2002: Marconi e Alcides, nessa ordem. Pouquíssimo se divulgava que Marconi tentava o Senado.
Demóstenes foi minguando, Maguito se manteve e Alcides foi se vitaminando com Marconi e Lula, ambos com popularidade irrepetível. O resultado foi Lula e Alcides reeleitos, Marconi senador sem concorrente.
Está pronta a receita para Daniel, mas falta combinar com os ruços (sim, com ç). Há muito o que saber das ruas.
O ex-presidente Jair Bolsonaro vai apoiar Caiado para o Palácio do Planalto?
Caiado em campanha presidencial vai se dedicar a Daniel?
Caiado estaria em condição de propor a Wilder apoio para a reeleição de senador em 2030 em troca da desistência?
Wilder aceitaria ou consideraria proposta indecente?
Ou Wilder vai subir, inibindo negociações para se retirar?
Marconi vai parar de subir?
Acabaram as análises de que Marconi tem teto porque a rejeição se afastou a ponto de furar a laje?
Daniel, após assumir o governo, vai se tornar conhecido e se destacar como administrador?
Ou a população vai entender que Caiado era muito melhor?
Ou Caiado vai convencer que Daniel é a continuidade sem derrubar qualidade?
São muitas perguntas e nem sempre há um pesquisador do Grupom por perto para anotar as respostas.