Selic mantida em 15% ao ano freia crédito e pressiona o orçamento das famílias
Com inflação acima da meta e cenário internacional incerto, Copom opta por manter taxa Selic no maior patamar desde 2006
Pela terceira vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 15% ao ano, o maior nível desde 2006. A decisão, unânime entre os membros do Banco Central (BC), reflete a preocupação com a inflação que ainda ultrapassa o teto da meta, mesmo com sinais de desaceleração da economia.
Em nota, o BC afirmou que o “cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária”, reforçando que a manutenção dos juros por um período prolongado é essencial para garantir a convergência da inflação à meta de 3% ao ano, com tolerância de até 4,5%.
De acordo com o economista Luiz Carlos Ongaratto, a decisão do Copom é técnica e necessária diante do comportamento dos preços. “A manutenção da taxa de juros é muito por conta que a inflação nos últimos 12 meses ainda está acima da meta”, explica. Ele acrescenta que, enquanto isso, não há fundamentos para uma queda de juros, reduzir agora seria imprudente, pois poderia forçar uma nova alta no futuro.
Impacto direto da Selic em 15% é sentido principalmente no crédito
Ongaratto destaca que o impacto direto da Selic em 15% é sentido principalmente no crédito. Quando o preço do dinheiro sobe, os produtos e financiamentos também ficam mais caros, o que restringe o consumo e encarece as dívidas. Segundo ele, as empresas enfrentam juros efetivos que podem chegar a 20% ou 30% ao ano, o que trava investimentos e novos projetos.
Para as famílias, o efeito é duplo: o crédito fica restrito e o poder de compra diminui. “Se há uma baixa na taxa de juros de maneira forçada sem um fundamento técnico, você vai gerar inflação o que vai também fazer com que haja perda de poder de compra então o efeito inflacionário é muito mais danoso para a economia”, pondera o economista. Ele lembra que, sem uma política fiscal que reduza os gastos públicos, a sociedade deverá conviver com juros elevados por mais tempo.
Enquanto o Banco Central tenta conter a inflação com juros altos, o mercado revisa para baixo o crescimento do País. O último Relatório de Política Monetária reduziu a projeção do PIB de 2,1% para 2%, confirmando o desaquecimento econômico. Com crédito caro e consumo contido, a retomada do poder de compra e a recuperação do comércio devem continuar lentas e dependentes de uma queda sustentável da inflação nos próximos meses.