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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
Incoerência política

Por que o PT avalia apoiar José Eliton para governador em 2026

Apoio expõe um ponto de incoerência na estratégia petista em Goiás. Ex-aliado de Caiado, vice de Marconi e governador pelo antigo grupo rival, o pessebista é cotado para representar campo progressista com apoio do partido de Lula

Bruno Goulartpor Bruno Goulart em 15 de novembro de 2025
Por que o PT avalia apoiar José Eliton para governador em 2026
Há um mês, o ex-governador José Eliton recebeu a presidente estadual do PT, Adriana Accorsi, e Olavo Noleto, que faz parte do governo Lula. Foto: Reprodução/Instagram

Bruno Goulart

Com as eleições de 2026 cada vez mais próximas, surge outra figura, talvez nem tão conhecida assim, na corrida pelo Governo de Goiás. Trata-se do antigo aliado do governador Ronaldo Caiado (UB) e do ex-governador Marconi Perillo (PSDB), do qual foi vice – o também ex-chefe do Executivo estadual (por quase 9 meses) José Eliton (PSB). Mas o que chama a atenção é a possibilidade de o PT apoiar a pré-candidatura do agora pessebista ao Palácio das Esmeraldas. 

Segundo o deputado estadual Mauro Rubem (PT), “está tendo uma conversa dentro do PT para que o José Eliton seja candidato ao governo com o apoio do PT”. De acordo com ele “isso tem sido costurado pelo próprio vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), a diretoria nacional e a presidente estadual, Adriana (Accorsi).” O parlamentar afirma que o tema está em construção e ainda passará por debate interno. É importante citar que o PSB, partido de José Eliton, integra a base do governo federal e tem ampliado articulações regionais.

Mas vale lembrar que José Eliton começou sua trajetória política como aliado do grupo liderado por Marconi Perillo. Em 2010, foi escolhido por Ronaldo Caiado como o nome do antigo DEM (hoje União Brasil) para vice na chapa do tucano ao governo. Marconi venceu aquela eleição e foi reeleito em 2014, quando o cargo foi assumido por José Eliton em abril de 2018, que tinha deixado o PP e migrado para o PSDB. Na disputa daquele ano, Eliton concorreu à reeleição, mas foi derrotado pelo governador Ronaldo Caiado. Hoje, o ex-tucano está filiado ao PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, que, por sua vez, mantém proximidade histórica com Marconi, ambos ex-governadores pelo PSDB.

Leia mais: Qual o intuito de Bolsonaro em articular visita de Castro, Tarcísio e Caiado

Dentro do PT, a movimentação divide opiniões, mas há quem enxergue a construção de uma frente ampla como caminho estratégico. O vereador Edward Madureira explica ao O HOJE que a sigla tem buscado ampliar alianças no campo progressista. “O PT está disposto a construir uma frente ampla. E o José Eliton tem se apresentado nessa trincheira. Inclusive apoiou o presidente Lula na última eleição. Mas ainda está sendo discutido.”

Críticas à possível aliança do PT com Eliton

Por outro lado, há vozes que veem na possível candidatura uma aposta arriscada e até repetitiva. O mestre em História e especialista em Políticas Públicas Tiago Zancopé critica a ideia e aponta falta de renovação. “Me parece uma falta de criatividade terrível tentar reciclar o nome do José Eliton. Ele chega à política pelas mãos do Caiado, depois vira vice do Marconi, assume o governo e termina com um índice de aprovação baixo.” 

O especialista também lembra desgastes enfrentados na gestão, como a tentativa frustrada de implementar Organizações Sociais (OSs) na educação e o cenário negativo deixado ao fim do mandato, até mesmo sem quitar folha de pagamento dos servidores. Para Zancopé, a esquerda deveria buscar nomes realmente competitivos para não disputar “apenas para figurar”.

Além disso, analistas avaliam que a proposta se insere numa estratégia nacional do presidente Lula de recompor alianças amplas em Estados nos quais o PT enfrenta forte resistência eleitoral. O cientista político Lehninger Mota destaca que essa lógica não é exclusiva de Goiás: “Essa aliança é a continuação do discurso do Lula de articular uma frente ampla pela democracia. Em lugares onde o PSB tem mais chance do que o PT, eles apoiam”.

Mota também lembra que o PT historicamente tem dificuldade para ultrapassar a casa dos 10% dos votos no Estado, o que reforça o cálculo político de buscar nomes de menor rejeição. A maior votação recebida pelo partido na disputa ao Palácio das Esmeraldas veio em 2002, quando a ex-deputada federal Marina Sant’Anna atingiu 15,17% da votação no primeiro turno, atrás de Maguito Vilela (MDB), com 32,79%, e Marconi, que foi eleito com 51,21% dos votos. 

Alternativa pragmática

Ainda assim, Mota pondera que José Eliton não é necessariamente competitivo, mas pode servir como alternativa pragmática dentro de uma estratégia que priorize eleger senadores e deputados federais aliados.

Apesar das polêmicas, a movimentação não está encerrada. Por fim, Mauro Rubem ressalta que o processo será debatido amplamente e que outras possibilidades ainda estão na mesa. Por enquanto, o cenário aponta apenas para um primeiro movimento dentro de uma articulação maior que incluirá a direção nacional do PT, o PSB e as lideranças regionais. O desfecho, assim como a viabilidade eleitoral da proposta, permanece aberto. (Especial para O HOJE)

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