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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
PRIMEIRO TURNO

Chile vota neste domingo em meio à insegurança recorde e disputa acirrada entre esquerda e direita

País vive escalada da violência, avanço de facções internacionais e forte debate sobre imigração. Pesquisas apontam liderança da esquerda no primeiro turno, mas vantagem da direita em um possível segundo turno

Micael Silvapor Micael Silva em 16 de novembro de 2025
Chile
Foto: Os candidatos presidenciais Franco Parisi, Jeannette Jara, Marco Enriquez-Ominami, Johannes Kaiser, José Antonio Kast, Eduardo Artés e Evelyn Matthei participam do último debate presidencial de 2025, realizado antes das eleições Cristobal Basaure Araya/SOPA Images/LightRocket via Getty Images

O Chile vai às urnas neste domingo (16) para o primeiro turno das eleições presidenciais, em um cenário marcado pela escalada da criminalidade e pelo acirramento do debate sobre imigração. Embora a esquerda apareça na liderança das pesquisas, os levantamentos indicam favoritismo da direita no segundo turno, marcado para 14 de dezembro.

A candidata da esquerda governista, Jeannette Jara, do Partido Comunista e apoiada pelo presidente Gabriel Boric, lidera a disputa com cerca de 30% das intenções de voto. Em segundo lugar está José Antonio Kast, do Partido Republicano, representante da extrema direita, com pouco mais de 20%.
Outros três nomes da direita — Johannes Kaiser, Evelyn Matthei e Franco Parisi — aparecem embolados na disputa pelo terceiro lugar.

Mesmo com a dianteira no primeiro turno, Jara seria derrotada em um eventual segundo turno, segundo as pesquisas.

Virada política quatro anos após vitória histórica da esquerda

A eleição ocorre em um Chile muito diferente daquele de 2021, quando Gabriel Boric venceu embalado pela onda de protestos contra a desigualdade e pela esperança de uma nova Constituição.
Quatro anos depois, a Carta Magna não saiu do papel, e o cenário mudou drasticamente.

Hoje, a principal preocupação dos chilenos é a criminalidade — acima de temas como economia, saúde e educação. O país viu:

  • a taxa de homicídios mais que dobrar em dez anos: de 2,3 por 100 mil habitantes (2015) para 6,0 (2024);

  • os casos de sequestro atingirem recorde, com mais de 860 registros no último ano;

  • a chegada de quase 700 mil imigrantes venezuelanos, provocando tensões sociais e associação entre imigração e violência por parte da população.

O impacto da violência e da imigração no discurso político

Segundo a socióloga Lucia Dammert, da Universidade de Santiago, o país vive um “duplo choque”: crescimento da criminalidade e aumento da imigração.

“Ainda não nos recuperamos desses choques”, afirma. “O debate político acabou sendo alimentado por eles.”

Em resposta ao temor da população, candidatos da direita adotaram um discurso mais duro.
Kast propõe:

  • a expulsão de todos os imigrantes irregulares;

  • o ‘Escudo da Fronteira’, com muro de 5 metros, trincheiras e cercas elétricas no norte do país.

Já Jara defende estratégias voltadas ao crime organizado, como quebra de sigilo bancário de suspeitos, rastreamento de fluxos financeiros e medidas sociais, como:

  • criação do salário mínimo universal;

  • teto para o preço de medicamentos;

  • implantação da Empresa Nacional do Lítio, estratégica para a economia e a transição energética.

Narcotráfico internacional e novas formas de violência no país

O norte do Chile faz fronteira com Peru e Bolívia, países produtores de drogas. A região passou a ser rota de facções internacionais após a onda migratória.

O ex-procurador Raul Arancibia lembra ter ouvido falar pela primeira vez do Tren de Aragua, facção venezuelana classificada como organização terrorista pelos EUA, em 2021. A partir daí, crimes antes incomuns no Chile — como extorsões, torturas e assassinatos encomendados — se espalharam rapidamente.

“Nem mesmo os criminosos chilenos estavam acostumados com esse nível de violência”, diz Arancibia.

Ele afirma ter alertado as autoridades ainda em 2021, sem sucesso. No ano seguinte, já sob o governo Boric, o número de homicídios atingiu patamar recorde.

Para conter o avanço, o governo reforçou o orçamento policial, aprovou novas leis, criou forças-tarefa e mobilizou militares na fronteira. Boric afirma ter prendido centenas de integrantes do Tren de Aragua.

Especialistas alertam: foco excessivo em imigrantes ofusca crime interno

Apesar do protagonismo das facções estrangeiras no debate político, Dammert alerta que o foco desproporcional na imigração pode distorcer o enfrentamento da violência:

“Às vezes olhamos demais para os grupos transnacionais e esquecemos dos nossos”, afirma. “No fim, a maioria dos presos é chilena, e a maior parte das gangues também.”

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