PT não repete para governador as votações de Lula em Goiás
Situação piora quando o partido do presidente resolve apostar em candidatos de outras siglas, como ocorreu em 2006 e está sendo articulado para o próximo ano
Os demais partidos grandes de Goiás estão na captura de votos para cargos majoritários, menos o PT, que novamente ocupa o Palácio do Planalto, ali, do outro lado da fronteira, a 200km de Goiânia, a 40 minutos de Valparaíso. Para dar ideia da disparidade, a sigla da estrela vermelha está na Presidência da República pela 5ª vez e no Estado não passa nem perto. Nunca elegeu governador e só teve senador no breve tempo em que Henrique Santillo se filiou, logo após a fundação do PT – à época, Joaquim Roriz, que depois seria governador do Distrito Federal, também foi companheiro de partido de Luiz Inácio Lula da Silva.
Para dar ideia, em 2022, o candidato do PT a governador, o ex-reitor da PUC-GO Wolmir Amado, obteve 6,98% dos votos. Lula, no 1º turno, conseguiu mais de 500% acima: 39,51%. Para o próximo pleito, em 2026, a deputada federal petista Adriana Accorsi aparece bem nas pesquisas, até em posição de empate quádruplo com o vice-governador Daniel Vilela (MDB), o senador Wilder Morais (PL) e o ex-governador Marconi Perillo (PSDB). Mesmo assim, o PT se mostra interessado em deixar sua pré-candidata para lá e crer no ex-governador José Eliton (PSB), que concluiu o mandato de Marconi em 2018, tentou a reeleição e ficou em 3º, atrás de Ronaldo Caiado (UB), eleito em 1º turno, e de Daniel Vilela.
Ruim com ele, pior sem ele
Nas vezes em que abriu mão de lançar candidatura própria, o PT consegue se sair pior do que quando lança até seus nomes mais desconhecidos. Em 2006, o PT botou fé no ex-deputado federal Barbosa Neto, PMDBista antigo então recém-filiado ao PSB. Resultado: Barbosa teve 6,56% para governador (tendo de vice um herói petista, o urologista Valdi Camarcio) e o senatoriável da chapa o também ex-deputado Aldo Arantes, do PCdoB, que colheu 4,31%. Na eleição anterior, em 2002, com candidata própria (Marina Sant’Anna), o PT havia obtido 15,17%, mais que o dobro de Barbosa na eleição seguinte.
PT foi situação em Goiás por poucos dias
Por alguns meses, logo no início deste segundo mandato de Ronaldo Caiado no Governo de Goiás, o PT se sentiu situação. O motivo era a aliança nacional entre Lula e o União Brasil de Caiado. A lua de mel foi mais rápida que a passagem da cheia para a nova, porém, nas disputas municipais ocorreu o de sempre, votação minguante e decepção crescente. O PT já elegeu prefeitos de cidades populosas, inclusive Anápolis (Roberto Gomide 2009/2014), Goiânia (Darci Accorsi 1993/1996, Pedro Wilson 2001/2004, Paulo Garcia 2010/2016) e Valparaíso (Lucimar Nascimento 2013/2016). Mas atualmente só tem três prefeitos, os da Cidade de Goiás (Aderson Gouvea), Itapuranga (Paulinho Imila) e Professor Jamil (Ney Novaes). Somados, tiveram 14.639 votos.
Na Assembleia Legislativa, a bancada do PT tem Antônio Gomide, Bia de Lima e Mauro Rubem. Na Câmara dos Deputados, os goianos são Adriana Accorsi e Rubens Otoni. A meta para 2026 é reeleger os cinco e levar a Brasília ainda o ex-tesoureiro nacional Delúbio Soares e o ex-reitor da Universidade Federal de Goiás Edward Madureira.
Nenhum petista goiano em cargos altos
O único goiano que chegou a ministro nos cinco mandatos do PT foi o financista Henrique Meirelles, que havia acabado de se eleger deputado federal pelo então inimigo PSDB – foi presidente do Banco Central, cargo que em seguida seria equiparado a ministro. Atualmente, o maior cargo ocupado por petistas é o de Olavo Noleto, secretário-executivo do Conselho de Desenvolvimento Social Sustentável, que em mandatos passados foi duas vezes ministro interino, das Comunicações e das Relações Institucionais, a Pasta das emendas. Nos mesmos cinco mandatos petistas na presidência, o maior cargo a que petistas goianos chegaram foi o de presidente da Funasa, com Valdi Camarcio.
Parece vingança de Lula pelas más votações de seus companheiros. Não vem aqui nas campanhas – nem nas deles e muito menos nas dos outros. Durante o exercício da presidência, raramente aparece.
Agro e conservadorismo podem explicar maus desempenhos
O PT nasceu como partido dos sindicatos, da Igreja Católica e do que se poderia chamar de classe intelectual, incluídos os artistas. Na primeira eleição após ser fundado, o partido lançou para governador de Goiás o professor Athos Magno Costa e Silva (nenhuma relação com o general que foi presidente entre 1967 e 1969, Arthur da Costa e Silva). Athos, que depois seria deputado estadual, conseguiu somente 9.818 votos ou 0,68%.
Qual o motivo de tão pouca preferência? O Estado de Goiás é conservador, uma explicação para as bandeiras consideradas progressistas terem péssimo desempenho. Goiano repele aborto e ainda se incomoda com beijos públicos entre pessoas do mesmo sexo. Além dos costumes, outro entrave seria a agropecuária, ocupada por um padrão de convivência alheia a casamento gay, invasão de terras e outros interesses do PT e animosidade dos goianos.

Essa aversão se dá, sobretudo, no interior. Além de já ter ganhado em Goiânia e Anápolis, o PT compôs chapas vitoriosas à Prefeitura de Aparecida, 2º município mais populoso do Estado. Na Capital, inclusive, o PT se sobressaiu já na 1ª eleição após a volta do voto direto para prefeito, em 1985, com Darci Accorsi, pai da deputada federal Adriana Accorsi. Foi declarado vencedor Daniel Antônio, do PMDB, mas surgiram tantas provas de fraudes eleitorais que, na eleição seguinte, em 1988, o PT quase derrota o invencível Nion Albernaz para prefeito. A glória chegou em 1992, quando Darci ganhou e levou.