Banco Master é mais um escândalo na lista de crises de desgaste da direita
Com figuras do UB e do PP envolvidas, caso amplia o desgaste da direita, pressiona alianças e alimenta um cenário eleitoral mais favorável ao governo Lula
Bruno Goulart
O escândalo entre o Banco Master e o BRB (Banco de Brasília), que resultou na prisão dos banqueiros Daniel Vorcaro e Augusto Lima, abalou a estrutura política em Brasília e abriu um novo flanco de desgaste para a direita e para o Centrão. A crise atinge diretamente nomes influentes, como o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, e o líder máximo do Progressistas (PP), senador Ciro Nogueira (PI), dois pilares das articulações direitistas no Congresso e que foram padrinhos da operação de compra do Master pelo BRB.
De acordo com o pesquisador e sociólogo Jones Matos, o episódio se soma a um conjunto de crises que já enfraquecem o campo conservador desde a taxação norte-americana de produtos brasileiros à iminente prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Para Matos, o caso Master “é mais um elemento num ambiente já marcado por descrédito”.
A operação que barrou a compra do Banco Master pelo BRB, aprovada pelo conselho do banco brasiliense, mas travada pelo Banco Central, colocou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), no centro da turbulência. Fiador político da transação, Ibaneis reagiu: acusou a oposição no DF de interferir na compra por interesse eleitoral. No entanto, com a possibilidade de instalação de uma CPI na Câmara Legislativa, o governador pode ser chamado a depor e já enfrenta resistência do PL, que reavalia apoiá-lo como candidato ao Senado em 2026.
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Enquanto isso, o partido de Bolsonaro opera com cautela. A sigla mantém duas pré-candidaturas competitivas ao Senado: a deputada federal Bia Kicis (PL), já lançada oficialmente, e Michelle Bolsonaro (PL), que ainda pode ser deslocada para uma chapa presidencial. Nesse cenário, o desgaste de Ibaneis fragiliza alianças e abre um vácuo estratégico no DF.
Crise do Banco Master atinge a centro-direita
Jones Matos observa que o impacto do escândalo ultrapassa o Distrito Federal e atinge o coração do Centrão. Segundo o sociólogo, “esse grupo é profundamente pragmático”. “Se perceber que não terá condições de derrotar Lula, uma parcela significativa vai migrar para o governo.” Para o pesquisador, o momento é particularmente difícil para a extrema direita, que acumula derrotas e narrativas negativas, da crise no Banco Master às acusações sobre a campanha internacional de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) contra o País.
Além disso, a retirada das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros desarmou um dos principais discursos bolsonaristas contra o governo Lula. Jones aponta o silêncio de governadores da direita e centro-direita, como Ronaldo Caiado (UB) e Romeu Zema (NOVO-MG), beneficiados diretamente pela medida, já que as taxas sobre carne e café, produtos-chave de seus Estados, foram zeradas.
Trânsito em Brasília
Paralelamente, o caso Master revela a capilaridade política dos banqueiros envolvidos. Daniel Vorcaro, por exemplo, mantinha relações próximas com figuras dos Três Poderes: o ex-presidente Michel Temer (MDB) atuava como consultor, o ministro da Justiça de Lula, Ricardo Lewandowski, integrou um comitê estratégico do grupo e líderes como o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (UB-AP), e o senador Ciro Nogueira (PP-PI) mantinham interlocução direta com o banqueiro.
Para Matos, a soma desses desgastes deve empurrar a eleição de 2026 para um debate menos radicalizado. O sociólogo avalia que, se a extrema direita chegar pulverizada, o presidente Lula terá um caminho facilitado para buscar a reeleição, inclusive, no primeiro turno. “São vários pontos desfavoráveis a esse grupo que tenta voltar ao poder com Bolsonaro, que está inelegível. O ambiente político está caminhando para uma normalização”, afirma.
Como aponta Jones, o Centrão deve buscar o lado mais seguro: “Eles vão para onde estiver a governabilidade”. (Especial para O HOJE)