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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Análise

Racha entre Congresso e governo Lula deve ser temporário, diz Lavareda

Crises entre presidentes da Câmara e do Senado com líderes do Planalto nas duas Casas revela desgaste na relação do Executivo com os comandos do Legislativo; especialista aponta riscos, mas avalia que cenário deve se dissipar até as eleições de 2026

Bruno Goulartpor Bruno Goulart em 26 de novembro de 2025
Racha entre Congresso e governo Lula deve ser temporário, diz Lavareda
Motta cortou relações com Lindbergh Farias e Alcolumbre rompeu com líder no Senado, Jaques Wagner. Fotos: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados, Bruno Peres/ABr e Waldemir Barreto/Agência Senado

Bruno Goulart 

O governo do presidente Lula da Silva (PT) enfrenta, nesta semana, mais uma turbulência política. A ruptura quase que simultânea entre os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos–PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil–AP), com dois dos principais articuladores do Palácio do Planalto no Congresso acendeu o alerta no núcleo político do governo.

De um lado, Motta cortou relações com o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), após sucessivas críticas feitas por petistas nas redes sociais à condução do PL Antifacção pelo presidente da Câmara. De outro, Alcolumbre rompeu com o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), devido à frustração com a decisão de Lula de não indicar Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a vaga de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal.

Interlocutores relataram ao O HOJE que o “racha” entre Motta e Lindbergh foi agravado pelo o que classificaram como “jogo sujo do PT”, que teria exposto o presidente da Câmara a ataques públicos. “A primeira resposta seria derrubar a indicação de Jorge Messias”, afirmou uma fonte próxima à cúpula da Casa. 

No Senado, Alcolumbre também reagiu ao não ver seu aliado Pacheco escolhido para a vaga. Apesar da crise, o próprio presidente do Congresso anunciou que a sabatina de Messias está marcada para o dia 10 de dezembro. Ainda assim, o clima é ruim. E o impacto recai sobre votações de interesse do Planalto e sobre a condução da agenda legislativa até o fim do ano.

O que está por trás do conflito entre governo e Congresso

Para além das insatisfações pessoais, o episódio expõe a fragilidade da base governista. Segundo o especialista em comportamento eleitoral e marketing político Antônio Lavareda, ouvido pelo O HOJE,  o problema do governo é ter minoria nas Casas: “ A base de esquerda no Congresso é francamente minoritária”.

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Além disso, as relações pessoais entre líderes e presidentes das Casas continuam  a exercer peso decisivo em um Congresso fragmentado. Quando esses canais se rompem, o Executivo precisa reconstruir caminhos políticos, processo que demanda tempo, coordenação e concessões.

Pode prejudicar o governo?

A resposta imediata é sim, mas com limites. Lavareda afirma que, embora haja um impacto real na articulação, não se trata de uma crise definitiva. “Isso não constitui nenhum abalo irreversível nas relações do governo com os presidentes das duas Casas. O governo tem instrumentos para recompor essas pontes quando deseja. É questão de negociação e ajustes.” 

Na prática, o Planalto deve reforçar a atuação da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), além de mobilizar aliados com trânsito direto junto a Motta e Alcolumbre.

Recomposição

A recomposição é provável, argumenta Lavareda, não apenas por interesse institucional, mas também pelo contexto eleitoral. Pesquisa da CNT/MDA divulgada nesta terça-feira (25) mostra melhora na avaliação do governo: a aprovação subiu de 31% para 34%, enquanto a rejeição caiu de 40% para 36%.

O desempenho pessoal de Lula também teve avanço, ao passar de 44% para 48% de aprovação. “Tudo isso influencia os presidentes das Casas a dialogarem com o governo”, analisa o especialista.

Cenário de curto prazo

Apesar do ruído político, o governo trabalha com a expectativa de retomada do diálogo ainda antes de 2026. Nos bastidores, articuladores avaliam que as reações de Motta e Alcolumbre funcionam, em parte, como recados públicos ao Planalto e que a acomodação dos interesses deve baixar a temperatura já no início do próximo ano, especialmente com a proximidade do recesso e o encerramento das atividades em Brasília. (Especial para O HOJE)

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