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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Michelle desenha o bolsonarismo, pois o marido quer candidatos-raiz

As desculpas de Flávio à madrasta mostram não que ela mande em tudo, mas que ele está no comando e começa a apresentar virtudes de líder num grupo que caminhava para se tornar acéfalo

Nilson Gomespor Nilson Gomes em 3 de dezembro de 2025
Michelle
Foto: Fabio Rodrigues/Pozzebom ABr

Sobralense nascido em Pindamonhangaba (SP), Ciro Gomes (PSDB) foi ótimo prefeito de Fortaleza e governador do Ceará. No Ministério da Fazenda do governo de Itamar Franco, garantiu a estabilidade de que o Real precisava para domar a inflação maluca dos anos 1990, vinda da década anterior. Desde então, tentou ser presidente da República quatro vezes e perdeu todas, com humilhantes 3,04% dos votos em 2022. Agora, quer voltar ao comando de seu Estado, entregue às facções criminosas por administrações frouxas, inclusive as do seu irmão Cid Gomes (PSB). Fez acordo com Jair Bolsonaro (PL), seu antigo colega na Câmara dos Deputados, mas não com a mulher dele, Michelle, que foi lá para dizer que seu candidato é outro. Nascia uma líder.

Nas pesquisas, Michelle Bolsonaro é quem melhor representa a oposição na disputa direta com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – o 1º é Jair, mas cumpre regime fechado numa sala da Polícia Federal, em Brasília. O que ela foi ao Ceará destruir foi a possibilidade de o PL se tornar mais um partido de vira-casacas. Num momento, Ciro está num vídeo dizendo cobras, lagartos e lagartixas a respeito de (e sem respeito a) Jair Bolsonaro. No outro, a esposa do ofendido atravessa o Brasil para dar apoio ao algoz do marido. 

Aliança com Ciro foi realmente obra de Jair

Durante algumas horas, os três filhos mais velhos – o senador Flávio (RJ), o deputado Eduardo (SP) e o vereador Carlos (SC) – ficaram descontentes com a madrasta. Lembravam que o pai havia concordado em fazer aliança no Ceará tendo Ciro na cabeça da chapa, num esforço para tentar ter chance de derrotar o PT, atualmente no comando do Estado e da prefeitura da capital.

Flávio, escolhido por Jair para encabeçar o lado do clã no bolsonarismo, se desculparia com Michelle após visitar o pai na PF. Sim, buscam-se pessoas iguais a Ciro, de pulso e competentes no antipetismo, mas não precisa necessariamente ser “o” Ciro do Ceará nem o do Estado vizinho (Ciro Nogueira, senador pelo Piauí, presidente do PP e da federação União Progressista). É vital ter as qualidades de Ciro Gomes sem ter os defeitos de Ciro Nogueira nem os vícios de ambos os Ciros.

O perdão, essa bênção cristã

O gesto de Flávio foi uma demonstração de que evoluiu, num contraponto a Eduardo, que teve outro modo de agir para ajudar o pai. Coisa rara na política, o pedido de perdão humaniza qualquer atividade e desmonta qualquer argumento de quem se considera cristão – Michelle é cantora nos templos em que congrega sua fé evangélica. O que ela começou a desenhar no Nordeste chegou ao Distrito Federal, onde vai ser candidata ao Senado, com um rosto esculpido pelo marido: a face visível do PL precisa estar não somente na superfície – é indispensável ser bolsonarista-raiz.

Se com Bolsonaro candidato à reeleição presidencial foi difícil selecionar o elenco de candidatos ao Senado, imagine agora, com ele preso e uma galera achando que basta se dizer de direita para ganhar voto. O chega pra lá de Michelle em Ciro pode ter salvado o bolsonarismo de virar massa de modelar nos dedos do Centrão. Jair participou de 22 campanhas vitoriosas de candidatos ao Senado. Quantos subiram à Tribuna ontem para o defender?

Sim, a bancada do PT é um exemplo

Parece clara a diretriz do capitão (o Superior Tribunal Militar ainda não se submeteu aos caprichos de tirar-lhe a patente): não basta se dizer de direita, é preciso assumir o compromisso de não se curvar às determinações do grupo. A bancada petista é um exemplo: alguns de seus senadores odiavam a ex-presidente Dilma Rousseff, mas todos se revezavam em sua defesa durante o processo de impeachment – e olhe que Dilma não fez por sua bancada 1 milésimo do que Bolsonaro ajudou seus aliados no Congresso. 

Portanto, se o grupo decidir que é para votar a anistia ampla, geral e irrestrita, como a esquerda conseguiu em 1979 e se livrou de seus crimes realmente graves, então, é para votar o que foi decidido, nenhum direito a menos – até porque os delitos nem chegam perto dos assaltos a banco que a própria Dilma engendrava. Se o bolsonarismo se apresentava sem rosto, a caminho de se tornar acéfalo, agora tem não apenas Flávio no volante, mas também Michelle no acelerador.

Candidato a presidente não terá sobrenome Bolsonaro

O deputado Eduardo Bolsonaro bem que tentou, fez a sua parte a seu jeito, foi aos Estados Unidos, articulou, brigou, bateu boca. No fim, os presidentes Donald Trump e Lula ficaram nas questões de Estado e largaram a encrenca nas costas do parlamentar do PL. Foi a última tentativa de alguém com sobrenome Bolsonaro se sobressair a ponto de encabeçar a chapa da oposição ao Palácio do Planalto, sede do Executivo federal. Michelle será candidata ao Senado pelo PL do Distrito Federal, Eduardo tem de articular muito para salvar a própria elegibilidade, Flávio vai à reeleição no Rio de Janeiro e o vereador Carlos está indo bem nas pesquisas em Santa Catarina.

Se o último prazo das convenções partidárias fosse o próximo domingo, estariam definidos os propósitos dos grupos: a esquerda unida com Lula, a direita com quem Jair Bolsonaro indicar (que pode ser mais de um no 1º turno para se juntar no 2º) e o Centrão com os pés em quatro canoas. Algumas surpresas podem pintar, como o MDB na vice de Lula, caso o atual ocupante do cargo, Geraldo Alckmin, resolva tentar o 5º mandato como governador de São Paulo. Quem seria o tal MDBista? Alguém do ministério, com favoritismo para Jader Barbalho Filho (filho de você sabe quem), aquele que fez diversas plásticas, o outro de rosto normal é Helder Barbalho, o governador do Pará.

Tá, e quem seria o ungido por Jair Bolsonaro? Se para governador do Ceará a exigência é de alguém fiel até a morte, não daria a coroa da vida no Planalto para um mais ou menos.

 

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