Filha de Iris pode tentar o Senado, mas deve sair do MDB e vai perder
Ana Paula tem razão em estar chateada com o esquecimento do trabalho do pai e encontrou na oposição espaço para tumultuar as pré-campanhas, sendo usada como contraponto ao outro filho de líder que vai concorrer
O casal Iris Rezende e Íris Araújo se esforçou bastante para construir um palácio de vidro na esquina das avenidas Jamel Cecílio e E, no Jardim Goiás, nas proximidades do shopping Flamboyant. O local seria usado como espaço para manifestações culturais, de que realmente Goiânia precisa. Com ele na prefeitura e ela na Câmara dos Deputados, a obra saiu. Mas os políticos demonstram pela cultura o mesmo interesse que um palmeirense teria por flâmulas do Corinthians.
Resultado, o prédio diferente e a ideia inovadora ficaram servindo para nada. Até que se substituiu o Centro Cultural Casa de Vidro Antônio Poteiro pelo Memorial Iris Rezende. A questão é que as autoridades estão demonstrando à memória do ex-governador o mesmo respeito que tiveram pelo talentoso pintor e escultor primitivista: nenhuma. Ana Paula Rezende Machado Craveiro, filha do casal, ficou furiosa (com razão) e caiu matando (sem razão) sobre o vice-governador Daniel Vilela, que preside o partido que foi de seu pai a vida inteira, o MDB.
Do nada, quer um cargo que o pai só conseguiu depois de ser tudo
Achava-se que seria apenas um momento de raiva, passaria, logo reconheceria estar sendo injusta. Qual nada! Ana Paula se lançou pré-candidata ao Senado pelo MDB. Para disputar um cargo dessa importância, deveria ter uma carreira como a do pai, que antes de ser senador foi vereador e presidente da Câmara de Goiânia, deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa, prefeito de Goiânia, governador de Goiás por dois mandatos e ministro da Agricultura.
Do nada, a filha quer o posto que o pai só alcançou depois de se destacar em altas posições municipais na Capital, estaduais e federais. Ana Paula não conseguiu até agora nem presidir grêmio estudantil, primeira vitória eleitoral de Iris. Para realizar sua vontade, teria de sair do partido, onde Daniel é maioria bem antes de ser vice-governador. Seria o passo final para a derrota antes de a competição começar.
A mãe de Ana Paula também chegou ao Senado, mas antes foi candidata a vice-presidente da República e teve ótimos serviços prestados na área social como primeira-dama da Câmara de Goiânia, da Assembleia e do Estado de Goiás por seis anos. Ana Paula não foi candidata nem a vice-presidente da República Livre do Cerradão, um programa da TV Anhanguera chefiado pelo Coronel Hipopota, ou a alguma república de estudantes. Dona Iris também foi atração da TV com suas aulas de culinária muito apreciadas por quem gosta de cozinha, sucesso total entre as mulheres. Mas até para as telas é difícil transportar a imagem de Ana Paula. É possível ter o Senado como o 1º emprego da vida de uma pessoa? Claro. Mas a tradição em Goiás é outra. Cadeira em que Juscelino Kubitschek sentou precisa de alguma biografia para ocupar.
Não dá para aventurar contra adversários fortes
Caso o cenário fosse diferente, ou seja, se Daniel estivesse bem superior aos adversários, talvez houvesse a possibilidade de atender ao que Ana Paula pediu na mídia: concorrer à 2ª vaga no Senado em conjunto com a primeira-dama Gracinha Caiado (União Brasil). Mas está uma guerra. Daniel vai enfrentar o ex-governador Marconi Perillo (PSDB), que já convidou a filha de Iris para ser sua companheira de chapa; o senador Wilder Morais (PL), que ela recebeu no memorial; e a deputada federal Adriana Accorsi (PT), apoiada pelo Governo Federal e cuja família teve bom relacionamento político com a sua.
Uma aventura acionada pela ira pode custar o projeto eleitoral do governador Ronaldo Caiado (UB), cuja reverência à memória de Iris é a maior de um político a outro no interior do Brasil. Caiado, se pudesse evitar, arriscaria a derrota de seu pupilo a governador e de sua mulher a senadora apenas porque a filha de seu amigo amanheceu com vontade de dar uma lição em alguém?
Números mostram que não há razão para mágoa
Ana Paula tem idade (56 anos) para ser mãe de Daniel (42). Portanto, não disputaram internamente no PMDB/MDB a instância mais pretendida, a ala jovem – quando ela chegou à juventude, aos 17, ele, aos 3 anos, ainda estava aprendendo a andar de bicicleta de rodinha. Então, a animosidade não pode ter começado tão cedo. Tampouco parece vir dos pais. Iris teve mais cargos que Maguito Vilela, o pai de Daniel, a quem atraiu da Arena para o PMDB.
Apareceu um mundão de pretendentes à vice de Iris para governador em 1990 e ele escolheu Maguito, que era de Jataí, no Sudoeste, mesma região de Paulo Roberto Cunha, o principal adversário à época. Em 1994, novamente, surgiu um exército querendo a bênção de Iris para ocupar sua cadeira, pois não existia reeleição a cargos no Executivo. E ele optou por Maguito. Então, Ana Paula não herdou do pai eventual birra com Daniel. Será que foi de Maguito? O que ele pode ter feito contra ela ou sua família para ela guardar a mágoa tão profundamente que só agora aparece?
Ao contrário da pretensão de Ana Paula, Maguito foi outro que para chegar ao Senado, tendo Dona Íris como 1ª suplente, comeu um fardo de sal como vereador em Jataí, deputado estadual e federal, vice-governador e governador com aprovação até então recorde. Por duas vezes, Maguito cedeu lugar para Dona Íris assumir no Senado. Guindada por seu ótimo trabalho como substituta interina de Maguito, ela foi campeã das urnas (201.229 votos) à Câmara dos Deputados em 2006, superando o próprio Caiado (152.895) e o tio de Daniel, Leandro Vilela (107.554), hoje prefeito de Aparecida. Em 2010, a mãe de Ana Paula se sagrou novamente a nº 1. Na eleição seguinte, Daniel foi o 2º mais votado (179.214) a deputado federal e Dona Iris perdeu com 66.234.
Estaria aí o problema? Em 2010, Maguito era prefeito de Aparecida. Daniel se elegeu deputado estadual (7º colocado geral, 3º do PMDB) com 36.382 votos, fazendo dobradinha com Iris, que era candidato a governador. Apenas 14.179 dos votos de Daniel foram na cidade governada pelo pai. Dona Iris teve mais votos que o filho do prefeito: 14.778. Portanto, nenhum motivo para um copo até aqui de mágoa.