Relação entre Lula e Congresso teve avanços, mas vive de crises que podem crescer em 2026
Instabilidade marcou relação entre Lula e Congresso ao longo de 2025, que pode se acentuar ainda mais com aproximação das eleições
Bruno Goulart
Ao longo de 2025, a relação entre o presidente Lula da Silva (PT) e o Congresso Nacional não foi fácil. Marcada por altos e baixos, a convivência entre Executivo e Legislativo combinou momentos de cooperação pontual com crises políticas profundas, reflexo de um Parlamento majoritariamente de centro-direita, avesso a pautas sociais estruturantes defendidas pelo governo, e cada vez mais fortalecido pelo controle do Orçamento.
De um lado, o Planalto conseguiu aprovar medidas de forte apelo popular, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, aprovada por unanimidade. A vitória, no entanto, não veio sem custos. O governo precisou investir em ampla campanha pública para constranger o Congresso, o que expôs a resistência histórica da classe política em abrir mão de privilégios. A pressão funcionou, mas evidenciou que consensos só avançam quando o desgaste político para os parlamentares se torna alto demais.
Agora, o Executivo passará a defender, de forma mais contundente, o fim da escala 6×1, outra proposta de cunho social que promete encontrar forte resistência no Parlamento. Assim como ocorreu com o Imposto de Renda, o debate tende a ser longo, polarizado e condicionado à capacidade do governo de mobilizar a opinião pública.
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Por outro lado, pautas sensíveis aprofundaram o distanciamento entre os Poderes. Propostas como a anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, o tarifaço, projetos ligados à segurança pública, além do PL Antifacção, foram fontes permanentes de atrito. Em meio a esse cenário, o governo também enfrentou derrotas, como a derrubada do decreto do IOF, que daria mais recursos ao governo para promover novas políticas públicas.
A aprovação da Lei Orçamentária de 2026 escancarou o desequilíbrio institucional: o Congresso ampliou para R$ 61 bilhões o volume de emendas parlamentares — um aumento de 20% em relação a 2025 e quase três vezes mais do que em 2019 —, enquanto retirou quase R$ 500 milhões da Educação e da Ciência. Em outubro, Lula declarou que o atual Congresso tem “qualidade de baixo nível”, ao atribuir o problema à presença expressiva da extrema direita.
Momento mais crítico da relação entre Lula e Congresso
No entanto, o momento mais crítico da relação ocorreu no fim de novembro, quando quase simultaneamente os presidentes da Câmara e do Senado romperam com o Planalto. Na Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) cortou relações com o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), após críticas públicas à condução do PL Antifacção. Já no Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) rompeu com o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA), frustrado com a decisão de Lula de não indicar o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ao Supremo Tribunal Federal, ao optar pelo advogado-geral da União, Jorge Messias.
Embora Alcolumbre tenha anunciado que a sabatina ocorreria em 10 de dezembro, a sessão acabou por ser adiada. Projetos estratégicos do governo, como a PEC da Segurança Pública e o próprio PL Antifacção, foram empurrados para 2026. Mesmo diante das crises, Hugo Motta afirmou, na semana passada, que a relação com o governo está “estabilizada”. Ainda assim, o discurso não elimina a percepção de desconfiança mútua.
No pronunciamento em rede nacional nesta quarta-feira (24), véspera de Natal, Lula tentou reposicionar o debate. Ao fazer um balanço do ano, destacou conquistas como a saída do Brasil do Mapa da Fome, a retomada do Bolsa Família, a valorização do salário mínimo, o fortalecimento da agricultura familiar, a ampliação do Minha Casa, Minha Vida e a política de isenção do IR. (Especial para O HOJE)