A corrida para poupar água e preservar a biodiversidade

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 25 de maio de 2022

O principal desafio a ser vencido pela agricultura, aqui e no resto do mundo, será como conciliar a necessidade de ampliar a oferta de alimentos, a custos mais baixos, e assegurar, ao mesmo tempo, a preservação do meio ambiente, evitando desmatamentos e outras formas de agressões ambientais. A pesquisa já trabalha no desenvolvimento de soluções, algumas já disponíveis no mercado, que poderão permitir ao campo alcançar o ponto de equilíbrio entre a expansão da atividade e os impactos ambientais gerados a partir da exploração das áreas disponíveis para a produção de grãos.

A indústria de sementes investe em tecnologias que deverão ajudar a poupar recursos tão vitais como a água e reduzir a necessidade de aplicação de produtos químicos nas lavouras, com efeitos em cadeia sobre o meio ambiente, ao evitar emissões de gases causadores do efeito estufa e ajudar a preservar a biodiversidade nas áreas de produção. Como “efeito colateral”, essas tecnologias têm permitido ganhos de produtividade, ao afastar insetos e pragas indesejados, que podem, se não controlados devidamente, gerar perdas de até 30% para as lavouras.

O aumento da eficiência hídrica tem sido o foco central das pesquisas que empresas como a Syngenta desenvolvem ao redor do mundo, Brasil incluído. “Fator limitado e limitante na produção agrícola, a água desempenha papel crítico nas fases de germinação, polinização e enchimento dos grãos”, constata a empresa. Seus pesquisadores continuam concentrados em duas linhas básicas de trabalho, sempre com o objetivo de ampliar a eficiência das plantações em situação de estresse hídrico acentuado, como forma de prevenção ao risco que as mudanças climáticas deverão impor à produção agrícola nas próximas décadas.

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Numa primeira linha de ataque, a pesquisa da Syngenta explora a genética da própria planta para identificar genótipos mais tolerantes à falta de chuvas. O trabalho, realizado principalmente no oeste dos Estados Unidos, no Chile e no oeste da Argentina, desenvolveu marcadores moleculares que facilitam e aceleram a seleção e o melhoramento de variedades mais tolerantes à privação hídrica.

Sob estresse

A meta inicial da Syngenta era atingir um nível de recuperação em torno de 25%, mas foram alcançados 50%. Esse indicador mensura a capacidade da planta de recuperar a produtividade mesmo submetida a períodos de seca mais prolongados. Iniciado há cinco anos, o trabalho resultou no lançamento da variedade Artesian para os plantios de milho, tecnologia a ser aplicada especialmente no cultivo da chamada safrinha. Essa mesma linha de atuação contempla ainda uma vertente biotecnológica, com a introdução na semente de uma enzima modificada que altera o metabolismo da planta sob estresse hídrico, estimulando-a a preservar a produção de açúcares consumidos durante o processo de formação dos grãos. Numa segunda área de trabalho, as equipes da Syngenta chegaram a um bloqueador químico que inibe a atuação do etileno – hormônio vegetal natural que dispara uma série de reações metabólicas quando a planta enfrenta a falta de chuvas.

Balanço

  • A Pioneer Brasil tem concentrado esforços no desenvolvimento de tecnologias próprias ou em parceria com outras gigantes do setor, com uso de técnicas biogenéticas. A empresa vinha migrando para outra tecnologia, que utiliza os recursos e eventos combinados do YeldGard, Herculex e Viptera (produto que Syngenta lançou no mercado brasileiro na safra 2010/11) para assegurar maior proteção contra insetos que atacam a parte aérea das plantações, ampliando o espectro das pragas combatidas.
  • Os recursos tecnológicos atualmente embutidos nas sementes derrubaram o total de pulverizações de seis a sete – e em alguns casos até 10 ou 11 – para apenas uma ou mesmo nenhuma. A cada aplicação de agrotóxico são consumidos 200 litros de água por hectare, o que representa uma economia de pelo menos 1,2 mil a 1,4 mil litros por hectare, na estimativa da companhia.
  • A Monsanto, hoje Bayer, foi pioneira no lançamento da tecnologia RR, com a oferta da soja tolerante ao glifosato, princípio ativo do defensivo Roundup Ready, da própria multinacional, e já comercializa o algodão Bolgard e diversas linhas e versões do milho Bt. Esses produtos reduziram drasticamente o número de pulverizações, com “duplo benefício ambiental e para a saúde humana, já que o produtor deixou de usar químicos de média e alta toxicidade e foi possível preservar as populações de inimigos naturais das pragas e de insetos envolvidos no processo de polinização”, afirma a mltinacional.
  • Já no mercado, a soja com a tecnologia Intacta RR2 Pro combina três eventos em só produto, eliminando a necessidade de submeter a semente ao tratamento com substâncias tóxicas. Essa variedade, resultado de uma parceria da Bayer/Monsanto com nove outras empresas e institutos de pesquisa, agregou pela primeira vez mecanismos para controlar pragas de solo, tornando a planta resistente às lagartas da soja e falsa medideira e à broca das axilas (que ataca a parte da planta onde a folha se une ao caule), além de apresentar tolerância ao glifosato e permitir ganhos de produtividade.