Abaixo do esperado, IPCA recua levemente no fechamento de agosto

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 13 de setembro de 2023

A inflação manteve o bom comportamento anotado nas últimas semanas e, contrariando as expectativas do mercado, veio ligeiramente abaixo das estimativas mais frequentes antecipadas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto. Nas quatro semanas do mês passado, a inflação apresentou variação de 0,23% segundo apuração mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que se compara com uma taxa próxima de 0,28% nas apostas do setor financeiro, considerada a média das previsões divulgadas. O Relatório Focus do Banco Central (BC) sugeria um IPCA de 0,26% para agosto, aproximando-se mais da taxa efetivamente coletada pelo IBGE.

O ritmo recente dos preços pode ser avaliado pela comparação com os índices divulgados pelo instituto nas últimas semanas, que demonstram leve desaceleração nas semanas finais de agosto, com as altas nos setores de energia elétrica residencial e combustíveis compensadas em grande medida pela sequência de quedas nos custos da alimentação, com impactos mais relevantes para as famílias de renda entre um e cinco salários mínimos.

Até a primeira quinzena de julho, considerando a variação acumulada em quatro semanas, a inflação ainda rodava em terreno negativo, com deflação de 0,07% por conta de quedas nos preços dos alimentos e da energia, principalmente. Nas duas semanas seguintes, com avanço dos preços dos combustíveis, o IPCA de julho atinge 0,12% e sofreria novo avanço nas quatro semanas finalizadas em 14 de agosto, com o IPCA-15 chegando a 0,28%. Essa aceleração de 0,35 pontos percentuais entre a primeira quinzena de julho e as duas semanas iniciais de agosto ocorreu, como já anotado aqui, como consequência do final do bônus de Itaipu, que havia contribuído para reduzir as tarifas da energia elétrica em julho, e ainda do aumento nos preços da gasolina e do óleo diesel.

Continua após a publicidade

Baixa persistente

Por conta dos mesmos fatores, a “inflação” dos preços monitorados saiu de 0,46% em julho para 1,26% no mês passado, respondendo por mais de um quarto da inflação de agosto. Excluído o grupo de preços monitorados, apenas para deixar mais nítida sua influência sobre o custo de vida e buscar estabelecer como os demais preços têm se comportado, a inflação teria sido de zero em julho, com ligeiro recuo de 0,09% em agosto. Os focos de pressão altista têm sido amenizados pela persistente tendência de queda nos preços dos alimentos, que chegaram ao final de agosto à 12ª semana de queda. A tendência ajudou a desaquecer a taxa de inflação, ainda que modestamente, com o IPCA encerrando as quatro semanas de agosto com elevação de 0,23% (ou seja, meio ponto percentual abaixo do IPCA-15 de agosto, o que indica um ritmo de alta dos preços mais brando nas semanas finais do mês passado).

Balanço

  • Na mesma sequência, a queda nos preços dos alimentos tem registrado velocidade mais intensa ao longo das últimas semanas, especialmente a partir das últimas duas semanas de julho. A tendência de queda dos alimentos tem sido verificada desde junho e as taxas de queda vinham apresentando oscilações, com queda de 0,51% nos 30 dias encerrados em 13 de julho e baixa de 0,66% nas quatro semanas daquele mês.
  • O ritmo de baixa parecia perder força nas duas primeiras semanas de julho, com a queda passando a 0,40%. Na quadrissemana seguinte, marcando o fechamento do IPCA de julho, a alimentação havia experimentado baixa de 0,46%. Puxado para baixo pelos preços mais baixos de carnes, leite, aves e ovos, verduras e legumes, o custo dos alimentos caiu 0,65% nas quatro semanas terminadas em 14 de agosto e passou a cair 0,85% ao longo dos 30 dias daquele mês.
  • Os preços dos serviços, foco das atenções do Comitê de Política Monetária (Copom), vêm cedendo também, sugerindo uma tendência de intensificação do processo de “desinflação” na economia. Esse processo tem se tornado mais evidente nos últimos dois meses, como mostram as séries estatísticas do IBGE. A inflação dos serviços chegou a ficar negativa em maio, com recuo de 0,06%, depois de ter subido 0,52% em abril. E retomou a tendência de alta em junho, com os preços do setor apresentando alta média de 0,62% em junho.
  • Nos dois meses seguintes, as altas perderam força e a “inflação dos serviços” recuou para 0,25% em julho e para apenas 0,08% em agosto, o que pode ser considerado virtualmente como estabilidade. Esse comportamento refletiu-se nas taxas acumuladas em 12 meses, que saíram de 7,49% em abril para 5,43% em agosto passado. Essa taxa corresponde a uma redução de 3,33 pontos percentuais em relação à inflação de 8,76% acumulada nos 12 meses até agosto do ano passado ainda no setor de serviços.
  • O acompanhamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), que divulga o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), tem mostrado deflação desde a quadrissemana terminada em 15 de agosto, com recuo de 0,07% no período. De toda forma, o ritmo de baixa tem sido menos intenso mais recentemente, depois do IPC-S registrar baixas de 0,18% e de 0,22% nas semanas dos dias 22 e 31 de agosto, respectivamente. Nas quatro semanas encerradas em 7 de setembro, o IPC-S ficou negativo em 0,02%, indiciando que os preços teriam entrado em alta na primeira semana deste mês.
  • A tendência de baixa ou de menor pressão inflacionária tende a persistir quando se considera o comportamento dos preços no atacado, o que deve influir nos preços cobrados do consumidor final de maneira favorável, sob o ponto de vista do controle da inflação. Medido pelo IBGE, o Índice de Preços ao Produtor (IPP) apresentou em julho queda de 0,82% e passou a acumular no ano um tombo de 7,23%, com baixa mais acentuada (-7,49%) na indústria de transformação.