Coluna

Agronegócio fecha trimestre com números negativos, ajudando a desaquecer economia

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 27 de junho de 2019

A contribuição do agronegócio para a atividade
econômica tende a ser muito menos intensa neste ano, assim como já havia sido
em 2018, com maior probabilidade de se aproximar do zero, quandose consideram
os dados do primeiro trimestre. Na divulgação mais recente do
Centro de
Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Produto Interno Bruto
(PIB) do agronegócio apresentou números negativos no acumulado entre janeiro e
março deste ano em relação a igual período de 2018, qualquer que seja a ótica
escolhida, ajudando a desaquecer a economia como um todo.

No
conceito “renda”, que inclui as variações de volume e de preço, adotado
tradicionalmente pelo centro de estudos, o PIB ficou virtualmente estagnado,
num recuo de 0,11%. Sob essa ótica, a metodologia do Cepea “
reflete
a renda real do setor”, considerandoas “variações de volume e de preços reais deflacionados
pelo deflator implícito do PIB nacional”. No conceito de “volume”, que se
aproxima da metodologia adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) para aferir o PIB do País, o agronegócio acumulou perdas de
0,58%, com tombo de 2,30% em março (igualmente na comparação anual, ou seja, em
relação ao terceiro mês do ano passado).

Até março, portanto, não só a renda no campo parou
de crescer como a contribuição para o PIB total do País havia sido negativa. O
“PIB renda”, como classifica a equipe do Cepea, chegou a desabar 5,52% em 2017
e manteve-se literalmente estável em 2018 (com ligeiro recuo de 0,01%). Em
volume, houve forte desaceleração no ano passado, com variação de 1,87% frente
a 7,61% em 2017. A participação do agronegócio no total de riquezas produzidas
pelo País saiu de 22,8% em 2016 para 21,4% no ano seguinte, recuando um pouco
mais no ano passado, para 21,1% (a menor contribuição desde 2015).

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Por setor

Ainda sob a ótica da renda, o setor de insumos tem
mantido o melhor desempenho entre todos os segmentos contemplados dentro do PIB
do agronegócio, com alta de 3,45% no primeiro trimestre, “impulsionado pelas
indústrias de fertilizantes e de defensivos”, na avaliação do Cepea. A
indústria de fertilizantes tem sido favorecida pelo câmbio, o que elevou os
preços do setor, enquanto o setor de defensivos observou um incremento nos
volumes vendidos. Embora ligeiramente positivo, a resultado da indústria não
parece animador, já que a variação ficou limitada a 0,05%. A agroindústria de
base agrícola, aponta o Cepea ainda, vem sendo afetada pela produção menor, com
pressões de custos afetando os setores de leite e carnes.

Balanço

·  
As dificuldades climáticas enfrentadas pelos
produtores de milho e soja no meio oeste dos Estados Unidos trouxeram um
impulso não esperado pelos produtores brasileiros, às voltas com safras
recordes nos dois casos, superiores às estimativas consideradas até o momento
pelos órgãos oficiais (IBGE e Conab).

·  
Os preços do milho em Goiás têm se mantido ao redor
R$ 28 por saca no mercado disponível, pelo menos R$ 5 acima das cotações
observadas no começo do ano. A saca de soja chegou a superar novamente a marca
de R$ 70, depois de ter rondado a casa de R$ 65 a R$ 66 há algumas semanas.

·  
O boletim mais recente do Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostra que 41% do milho plantado e 46%
das lavouras de soja enfrentam condições adversas ou muito negativas, diante de
59% e 54%, pela ordem, em boas e excelentes condições.

·  
No ano passado, na mesma época, 77% do milho e 73%
da soja apresentavam condições boas e excelentes de desenvolvimento, com 100%
da área já semeada nos dois casos. Devido ao clima mais hostil neste ano, 96%
do milho e 85% da soja já haviam sido plantados até 23 de junho, o que poderá
afetar de forma negativa as produtividades esperadas.

·  
Na previsão de junho do USDA, a produção de milho e
soja naquele país tende a encolher quase 9%, saindo de 366,29 milhões para
347,49 milhões de toneladas no primeiro caso e de 123,66 milhões para 112,95
milhões de toneladas no segundo, na comparação entre as safras de 2018/19 e a
esperada para 2019/20.

Desde
maio, em Chicago, a cotação do milho subiu 25% nos
contratos para julho de 2019, com alta de 11% para a soja.