Coluna

Alta da inflação em novembro não muda tendência futura dos preços

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 06 de dezembro de 2019

O
aumento das taxas de inflação a partir da segunda quinzena de novembro,
influenciado pelo salto nos preços das carnes (e destacadamente dos cortes mais
populares de carne bovina), mas também pela disparada dos preços dos jogos de
azar (controlados pelo governo), tende sempre a gerar desconforto entre as
famílias mais atingidas pelo aumento no custo de vida. No cenário em vigor para
a economia atualmente, no entanto, não há fatores que autorizem projetar para o
futuro o mesmo ritmo de alta registrado em novembro pelo Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), na aferição do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).

Os
aumentos das carnes e do custo das loterias tendem a elevar o índice
inflacionário apenas momentaneamente, com seus efeitos perdurando ainda ao
longo deste mês e, muito mais moderadamente, durante janeiro (mas já sem a
força observada até aqui). Os preços da carne bovina, com o aumento da oferta
de bois prontos para o abate, tendem a sofrer alguma acomodação, como já
antecipam os preços da arroba do boi gordo, que acumulavam redução de quase 9,7%
nos primeiros cinco dias de dezembro, depois de encerrarem novembro com salto
de 35,5%.A alta de 24,35% nos preços dos jogos de azar no mês passado deve ser
absorvida nas próximas medições do IPCA, ajudando a esvaziar o avanço anotadopelo
índice nos 30 dias de novembro (0,51%, conforme divulgado ontem pelo IBGE).

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A
normalização do regime de chuvas, com consequente recomposição dos
reservatórios, deverá levar a mudanças na chamada “bandeira tarifária” nas
próximas semanas. Até outubro, havia vigorado a “bandeira amarela”, que impunha
a cobrança adicional na conta de energia de R$ 1,50 a cada 100 quilowatts (Kw)
consumidos por residência. Em novembro, entrou em vigor a “bandeira vermelha”,
com a imposição de uma taxa adicional de R$ 4,169 para cada 100 Kw de consumo.
A perspectiva de normalização do suprimento de água nas usinas hidrelétricas
deverá retirar mais esse foco de pressão do IPCA nos próximos meses.

Altas
concentradas

Apenas
esses três itens foram responsáveis por quase 80% do IPCA de novembro, com
influência de praticamente 0,41 pontos de porcentagem na composição do índice
mensal. Colocado de outra forma, todos os demais preços na economia registraram
variação em torno de 0,1% no mês passado, reafirmando o bom comportamento dos
preços em geral (o que, por sua vez, relaciona-se com a baixa demanda na
economia e o avanço ainda muito modesto da atividade econômica). Como parece
evidente, a elevação do índice em novembro (e provavelmente em dezembro) foi
muito concentrada em um grupo reduzido de produtos, afastando os temores de uma
escalada mais ampla e geral dos preços. Mais claramente, a economia continua
muito distante dos anos de disparada inflacionária, mesmo numa fase em que o
preço do dólar tem mostrado extrema volatilidade, movida pelas incertezas no
mercado internacional e por manifestações desequilibradas de presidentes e
ministros.

Balanço

·  
O
IPCA de novembro superou ligeiramente a mediana das estimativas dos mercados
(ou seja, a previsão que surge com maior frequência nas apostas do setor), que
indicava variação de 0,47% para novembro. O erro de avaliação,
de acordo com Julia Passabom, economista do Itaú BBA, deveu-se especialmente à
elevação maior do que a antecipada para os preços da carne bovina, que subiram
8,54% frente à elevação de 6,7% prevista pela instituição (depois de uma
variação limitada a 1,79% em outubro).

·  
Em
dezembro, adianta Julia, o banco espera um IPCA na faixa de 0,74% (bem acima do
índice de 0,15% observado em dezembro do ano passado), o que traria o índice de
inflação acumulado nos 12 meses de 2019 para algo próximo a 3,9% – levemente
acima do IPCA de 2018, que atingiu 3,75%, mas novamente inferior à meta
inflacionária de 4,25%. O que confirmaria um terceiro ano de inflação abaixo da
meta.

·  
Esse
comportamento reincidente deverá levar o Banco Central (BC), na expectativa do
setor financeiro, a reduzir os juros básicos para 4,5% na próxima reunião do
Conselho de Política Monetária (Copom), nos dias 10 e 11 deste mês.Para janeiro
de 2020, estima-se redução do IPCA para 0,32% (idêntico ao índice de janeiro de
2019).

·  
Além
da concentração nas pressões de alta sobre a inflação de novembro, o Itaú BBA
chama a atenção para o avanço de apenas 0,13% no chamado “núcleo” dos preços
dos serviços (medida que desconsidera variações abruptas e produtos mais
voláteis de forma a permitir uma visão mais apurada da tendência em vigor para
os preços do setor). A taxa acumulada em 12 meses, ainda nesta área, recuou de 3,6%
até outubro para 3,3% em novembro.

·  
Trata-se
de um comportamento muito diferente daquele verificado no final da primeira
metade da década, quando os preços dos serviços pressionaram fortemente a
inflação, levando o BC a fazer o que sabe fazer: aumentar os juros.

·  
Na
média de todas as medidas de núcleos inflacionários, calcula o Itaú BBA, a
variação acumulada em 12 meses até novembro deste ano está muito próxima
daquela observada em igual intervalo finalizado em novembro de 2018 –
respectivamente 3,2% e 3,1%.

Além disso, o “índice de difusão” (que mostra o
percentual de produtos e/ou itens em alta no mês, embora não indique a
intensidade desses aumentos) baixou de 59,8% em outubro (quando o IPCA havia
sido de 0,10%) para 55,9% (o que confirma que os aumentos mais intensos ficaram
concentrados num grupo menor de produtos).