Coluna

Alta das carnes deverá ter influência reduzida na inflação de 2019 e 2020

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 25 de novembro de 2019

Os
preços da arroba do boi gordo entraram em disparada neste mês e já acumulavam,
até sexta-feira, 22, salto de 34% na comparação com o final de outubro, de
acordo com acompanhamento diário realizado pelo Centro de Estudos Avançados em
Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP em parceria com a B3 (antiga Bolsa de
Valores de São Paulo). Na média do período, comparada aos valores médios
registrados nos 22 primeiros dias de outubro, a alta atinge 18,4%, com a arroba
saindo de R$ 161,82 para R$ 191,59. Para se ter uma ideia de como o aumento se
intensificou nas últimas semanas, na sexta-feira passada, a arroba chegou a ser
negociada por R$ 228,80 (o equivalente a US$ 54,59 – nível mais elevado desde
29 de janeiro de 2015, quando havia registrado US$ 55,20).

Numa
velocidade menos acentuada, o quilo da carcaça suína apresenta alta de 11,8%
entre 1º e 22 de novembro, com variação média de 8,1% em relação aos primeiros
22 dias de outubro. Parte desses aumentos, César de Castro Alves, consultor da
área de agronegócio do Itaú BBA, deve-se à maior demanda chinesa pela carne
brasileira, diante do estrago causado pela peste suína africana no seu plantel.
A entressafra na pecuária bovina explica outra parte dos aumentos, com a falta
de bois para abate agravada pela estiagem prolongada, o que retardou a
recuperação dos pastos.

Os
aumentos nos mercados atacadistas já puxam os preços cobrados dos consumidores
por açougues e supermercados, o que tende a afetar a inflação neste final de
ano. Diante de uma demanda em geral desaquecida, com desemprego elevado e ociosidade
nas fábricas, considera o economista Luka Barbosa, do Itaú Unibanco, o “choque”
provocado pela forte elevação dos preços das carnes em geral tende a ter
influência relativamente reduzida sobre o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).

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Estrago contido

Na
projeção do banco, que já considera algum impacto negativo da desvalorização do
real frente ao dólar, a inflação oficial deverá variar em torno de 3,3% neste
ano. Assumindo um impacto mais relevante das carnes, a taxa poderá encerrar o
ano em 3,4% ou 3,5%, ainda muito abaixo do centro da meta inflacionária definida
para 2019 (4,25%). “Se considerarmos uma inflação de 3,4%, os preços das carnes
terão respondido por 0,2 pontos, o que significa dizer que o IPCA estaria em
3,2% sem o grupo carnes”, observa Barbosa.Para o próximo ano, supondo que o
processo de alta seja estancado nas próximas semanas, quando começam a entrar
no mercado os primeiros bois terminados a pasto da safra 2019/2020, restaria um
impacto residual de 0,1 ponto de porcentagem. Na aposta do Itaú Unibanco, o
IPCA de 2020 deverá alcançar qualquer coisa em torno de 3,7% (de novo abaixo da
meta, o que recomendaria a continuidade dos cortes na taxa básica de juros).

Balanço

·  
Convertidos
em dólares, os preços da arroba do boi gordo já estiveram bem mais elevados no
início da década. Pressionados pela matança de fêmeas no ciclo anterior e pela
retração da oferta de animais para abate, os preços alcançaram níveis
históricos no começo de novembro de 2010, superando levemente US$ 69 (o que
seria equivalente a quase R$ 290 a se considerar a cotação do dólar de ontem, o
que seria perto de 27% mais elevado do que a cotação nominal registrada no dia
22 passado).

·  
Os
preços da arroba seguiam bem-comportados até setembro, com variações mensais na
faixa entre 1% e 2%. Em outubro, na média mensal, a arroba registrou elevação
de 3,1%, em discreta aceleração ainda.A partir da primeira semana de novembro,
os preços saltaram 28,2%, saindo de R$ 178,50 no dia 7 para R$ 228,80 na
sexta-feira última.

·  
A
explicação para a alta, supostamente baseada no avanço das exportações, perde
um pouco de força em novembro, embora os dados de outubro tenham sido robustos,
praticamente 10% acima da média acumulada nos 10 primeiros meses do ano, com
embarques de 160,1 mil toneladas.

·  
Em
novembro, até a quarta semana do mês, somando 15 dias úteis, as exportações de
carne bovina in natura somaram 90,5 mil toneladas, com média
de 6,03 mil toneladas por dia, abaixo da média de 6,96 mil toneladas registrada
em outubro (13,3% menos, mais precisamente) e 7,5% menor do que as 6,52 mil
toneladas embarcadas diariamente ao longo de novembro de 2018.

·  
Entre
janeiro e outubro, o Brasil exportou praticamente 5,625 milhões de toneladas de
carnes em geral, numa elevação de 3,1% frente às 5,455 milhões embarcadas nos
primeiros 10 meses do ano passado. As vendas de carne bovina e suína aumentaram
9,9% (para 1,462 milhão de toneladas) e 12,0% (atingindo 585,55 mil toneladas
no segundo caso). Mas as vendas de frango mantiveram-se estáveis em 3,366
milhões de toneladas (3,360 milhões em 2018).

·  
A
China ampliou suas compras de carnes no Brasil em 25,7%, atingindo 952,31 mil
toneladas (quase 17% de toda a exportação brasileira). Os chineses passaram a
respondeu por 21,8% da carne bovina exportada pelo País, com importações de
318,92 mil toneladas (23,3% a mais). Quase 31,5% da carne suína exportada pelo
Brasil tiveram a China como destino, num total de 184,4 mil toneladas (38,7% a
mais).