Coluna

Enquanto avança digitalização no campo, Embrapa constrói novas tecnologias

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 21 de novembro de 2019

Entre
uma certa elite de empresários rurais, o avanço da digitalização de máquinas,
processos e da gestão do negócio no campo transforma o cenário no agronegócio,
ainda que as mudanças em curso pareçam algo ainda distante de uma maioria de
produtores. De qualquer forma, como observa Ronan Damasco, diretor nacional de
tecnologia da Microsoft, “o futuro do agronegócio é digital”.

Nessa
trajetória rumo a digitalização, a gigante da área de tecnologia da informação
antevê algumas tendências principais, a começar pelas possibilidades abertas
pelo uso de inteligência artificial, associada ao poder quase irrestrito de
processamento de dados assegurado pela computação na nuvem. O novo modelo,
avalia Damasco, que engloba, entre outros recursos, sistemas de internet das
coisas (IoT), “vai otimizar o modelo de negócios no setor
e mesmo a produção rural, com uso de agricultura de precisão e drones, por
exemplo”. E, dentro de cinco anos, a chegada definitiva da computação quântica
deverá operar mudanças ainda mais radicais.

A
perspectiva de liberação pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel),
até o final de 2020, do uso das antigas frequências da televisão analógica para
transmissão de dados deverá ajudar a enfrentar o desafio da conectividade no
campo ao favorecer a disseminação da internet de banda larga e outras
aplicações.Um dos diferenciais dessa plataforma, também conhecida como TV White
Space (literalmente, espaços em branco de televisão) ou Air Band, aponta
Damasco, está no baixo custo dos equipamentos, principalmente em comparação com
as redes de fonia móvel, e em sua capilaridade. No caso, basta a instalação de
um rádio transmissor nas antenas de televisão já instaladas em todo o interior
e, na ponta final, de um receptor (que seria também um rádio) acoplado ao um
roteador que passaria a operar como um sistema de WiFi.

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Inteligência
artificial

Desenvolvido
pela Microsoft, o projeto FarmBeats recorre à inteligência artificial (I.A.) e
a recursos de computação em nuvem para oferecer soluções de agricultura de
precisão a custos mais baixos para os produtores, utilizando como meio de
conexão os espaços em branco de televisão. Um algoritmo de I.A. realiza a
interpolação de dados coletados a campo por conjuntos de 20 a 30 sensores
espalhados pela propriedade, simulando a operação de 300 ou 400 sensores, por
exemplo, com a mesma acuidade e precisão. O uso de visão computacional com
suporte de balões de hélio, puxados até por animais, de outro lado, pode
substituir sistemas mais caros de mapeamento do solo a base de drones e
satélites, observa Damasco.

Balanço

·  
A
inovação no campo avança não só por trilhas digitais. Desde setembro deste ano,
já está disponível o primeiro inoculante produzido totalmente no Brasil, que
vai ajudar as plantas de milho e soja a recuperar o fósforo acumulado no solo
ao longo de décadas de exploração agrícola, elevar a produtividade daquelas
culturas e, mais à frente, reduzir a necessidade de adubação fosfatada e a
dependência brasileira em relação ao fosfato importado.

·  
O
produto final, que ganhou o nome comercial de BiomaPhos, é resultado de uma
parceria público-privada firmada há quatro anos entre a Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Bioma, empresa dedicada à produção de
soluções tecnológicas na área de inoculantes e fertilizantes.

·  
As
pesquisas, no entanto, consumiram praticamente 18 anos de trabalho intenso da
equipe da Embrapa Milho e Sorgo, segundo Christiane Abreu de Oliveira Paiva,
pesquisadora da área de microbiologia do solo da unidade. O trabalho começou com
450 cepas de bactérias, em 2002, e resultou na seleção de cinco delas ainda nos
experimentos de bancada.

·  
Com
a parceria, foi possível expandir os ensaios para o campo, realizados em mais
de 400 pontos desde o Pará até o Rio Grande do Sul. Isso permitiu refinar a
pesquisa, obter resultados mais consistentes e escolher as duas cepas mais
adequadas, por sua capacidade de atuar na planta, aumentando o volume radicular
e produzindo na ponta raízes mais finas, e ainda pelo potencial de solubilizar
o fósforo preso no solo e na argila, liberando fosfato para a planta.

·  
Estudo
da Embrapa Solos estima que perto de 45,7 milhões de toneladas de fósforo foram
aplicadas na agricultura e quase metade desse volume, algo como 22,8 milhões de
toneladas, continua fixado ao solo.

·  
De
acordo com Christiane, as cepas de bactérias selecionadas – Bacillussubtilis e
Bacillusmegaterium – podem ser inoculadas na fase de tratamento das sementes ou
lançadas ao solo no momento do plantio. Os resultados a campo mostram ganhos de
produtividade de sete a 10 sacas no caso do milho (entre 8% e 11% considerando
o rendimento atual do grão) e em torno de 4,5 sacas para a soja (perto de 8% a
10% a mais).